Análise: aliança de defesa entre países amazônicos pode blindar a região da cobiça externa (VÍDEOS)


A Floresta Amazônica é alvo da cobiça estrangeira por sua abundância em recursos naturais. Essa cobiça é exposta em ameaças que envolvem desde a biopirataria até a defesa da internacionalização do bioma. Somado a isso, o avanço de organizações criminosas impõe um novo desafio à segurança da região.
Em entrevista à Sputnik Brasil, Tássio Franchi, pesquisador do Instituto Meira Mattos (IMM), afirma que a corrida por recursos naturais é sempre uma questão colocada em momentos conturbados do cenário global, quando se tem uma maior demanda por determinados materiais. Porém ele descarta a possibilidade de uma invasão militar estrangeira na região amazônica.

“Nós estamos em um momento, hoje, que você não ocupa mais militarmente nenhum país, nenhum território. Ainda mais aqui, na nossa região. Você vai entrar com capital, com empresas, com investimentos”, afirma o pesquisador.

Ele avalia que nesse formato não há risco à soberania dos países amazônicos, uma vez que os investimentos e projetos entram na região respeitando as regras e leis da cada país.
“Então perda territorial ou passagem por cima de todas as regras, eu não vejo isso acontecendo. Nós temos outros problemas, países amazônicos com outros problemas em relação à soberania, mas são problemas hoje muito mais ligados a um controle do território feito por organizações criminosas que atuam de modo transnacional em todas as fronteiras amazônicas e que realmente são ameaças externas de outro país”, observa.
Franchi considera que as falas sobre internacionalização entre senadores e congressistas de alguns países, na prática, são mais “bravatas” do que ameaças efetivas, e enfatiza que, em um cenário hipotético de invasão estrangeira, feita, por exemplo, a partir do território da Guiana Francesa, os países amazônicos estariam em posição de vantagem por conhecer melhor o terreno. Ele afirma que desde os anos 1970 os países amazônicos tiveram respostas diplomáticas boas, e as Forças Armadas também são um elemento de dissuasão.

“Você tem Forças Armadas nesses países extremamente capazes. E capazes para um tipo de combate em selva, para um tipo de operação em ambientes extremamente úmidos e quentes, em que outras forças não têm essa capacidade ou equipamentos extremamente adaptados para isso.”

Tássio afirma que o Brasil já vem liderando projetos de integração de países amazônicos para blindar a região da cobiça estrangeira e cita como exemplo o Tratado de Cooperação Amazônica (TCA), assinado em 1978 por Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela; e a fundação da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), em 1995.
“Se o Brasil teria capacidade de liderar essa iniciativa, diplomaticamente, acredito que sim. Ele já liderou e ele segue liderando. Se a gente pensar desde 1992, com a Rio/Eco-92, é o momento de liderança do Brasil. Antes disso, a OTCA é o momento de liderança do Brasil, a Rio+20 [2012]. Agora a COP30, que vai realizar em Belém, é o momento de o Brasil trazer essa discussão ambiental, essa agenda ambiental para si e para ser discutida aqui, na Amazônia, com os países amazônicos. Então o Brasil exerce, sim, uma liderança nessa área, ele está, sim, conversando nessa área.”
Bernardo Salgado Rodrigues, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirma à Sputnik Brasil que a questão da internacionalização da Amazônia é histórica. Ela esteve presente principalmente na segunda metade do século XX e foi meio que uma prerrogativa utilizada por determinados países para tentar fazer com que a soberania dos Estados amazônicos ficasse limitada e restrita.
Ele acrescenta que não se deve confundir cobiça estrangeira com cooperação, afirmando que a diferença entre ambos está na “condução da participação internacional de acordo com os interesses, critérios e parâmetros estabelecidos pelos países amazônicos”.
“Não é que os países amazônicos não queiram cooperação internacional, não é que os países amazônicos não necessitem de uma colaboração internacional para a gente poder solucionar os nossos problemas de narcotráfico, de biopirataria ou qualquer outro problema que possa existir. A questão é que isso não pode afetar o exercício de soberania e também não pode desrespeitar as características étnicas e culturais dos países amazônicos e das populações locais”, explica.
Segundo Rodrigues, é “imperativo intensificar a integração regional dos países amazônicos, como proteção dessas ameaças e dessas cobiças internacionais”.
“Pensar a integração da Amazônia sul-americana requer uma nova escala de ação, o que, no caso específico desse bioma, ratifica a retomada institucional da OTCA, principalmente para a construção de uma força dissuasória, que vise defender áreas estratégicas, sob a responsabilidade, novamente exclusiva, dos países amazônicos.”
Para Rodrigues, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30) é uma janela de oportunidades tanto para o protagonismo do Brasil na agenda ambiental quanto para a cooperação regional e internacional com foco na defesa da Amazônia. Segundo ele, além de pensar projetos de desenvolvimento sustentável, como madeiras de origem certificadas, investimento em biotecnologia e fortalecimento de órgãos de controle ambiental, é necessária uma cooperação militar entre os países amazônicos.

“Seja para combate de narcotráfico, para combate de biopirataria, para combate de qualquer outro quesito que esteja na querela, questão de fronteiras também, é fundamental a gente ter essa cooperação, a gente ter essa integração também no âmbito militar e no âmbito de defesa.”

Ele destaca que o monitoramento na região por meio de uma aliança militar teria de abranger pelotões de fronteira e um conjunto harmonioso entre Exército, Marinha e Aeronáutica dos países envolvidos.
“Na minha visão é fundamental a gente ter uma força armada muito forte naquela região, porque é uma das regiões mais relevantes e mais importantes que nós temos, enquanto potencial futuro no Brasil e na América do Sul”, afirma.
O especialista considera que o Brasil tem a capacidade e o dever de liderar uma aliança tanto militar quanto em prol do desenvolvimento da Amazônia por ser o país de maior dimensão territorial e com a maior economia da região. Entretanto, ele ressalta que essa integração regional para a defesa da Amazônia não deve ser um projeto de governo, mas sim de Estado.

“A partir do momento que é um projeto de Estado, mudam os governos, continua o projeto. Um dos pontos principais para a gente pensar uma integração de fato de Estado é a implementação de infraestrutura, uma integração física. A partir do momento que você faz uma integração física, você tem ali um planejamento que vai passar por vários governos dos distintos países”, afirma.

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Fonte: sputniknewsbrasil

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