Maior museu de carros da América Latina em SP é boa notícia para um país que não preserva sua memória


Será inaugurado no próximo ano, em Campos do Jordão (SP), o museu da Fundação Lia Maria Aguiar. Do acervo de 500 veículos, 150 se revezarão em um espaço de 5,4 mil metros quadrados que também abrigará uma oficina-escola de restauração. Parte dos carros foi arrematada da coleção de Og Pozzoli, figura reverenciada no meio de automóveis clássicos e que nos deixou em 2017. O Lincoln K, conversível de sete lugares que transportou a rainha Elizabeth e o papa João Paulo II, entre outros visitantes ilustres, é uma das raridades compradas pela fundação e dá ideia do valor da coleção.

A abertura de um museu que, ao que tudo indica, estará no nível dos melhores do mundo, é excelente notícia para um país que não prima por preservar memórias — e não só a automotiva. Há poucos museus de veículos no país que valem o ingresso, seja pelo estado de conservação dos carros, seja por facilidades disponíveis ao público, seja pela importância histórica da mostra. Na outra ponta, há acervos privados de colecionadores, liberados apenas para restrita confraria.

Nem os próprios fabricantes locais, em tese os maiores interessados em mostrar sua história, se preocupam em preservar suas produções. Há exceções: Volkswagen, Renault, Fiat, Kia e Honda mantêm alguns pioneiros, mas longe dos olhos do público.

Reunir e preservar os modelos históricos não é, no entanto, iniciativa arraigada nas fábricas, mas esforços pessoais de alguns funcionários. Lá fora, grandes museus estão associados às marcas e são atrações imperdíveis até para quem não se interessa por carros.

Nos anos 1980, a General Motors ensaiou a construção de um espaço para abrigar seus veículos históricos em São Caetano do Sul (SP). Ficou só na promessa. Os carros foram cedidos em comodato para o Museu de Tecnologia da Universidade Luterana do Brasil, Ulbra, no Rio Grande do Sul, e mais tarde recolhidos: o museu fechou as portas em 2009 depois de uma batalha judicial e leiloou parte dos carros para saldar as dívidas.

O mesmo imbróglio, dessa vez familiar, atingiu a coleção de Roberto Lee, precursor na preservação de carros antigos no Brasil. Há exatos 60 anos, em 1963, Lee abriu em um galpão na Rua Tuiuti, bairro do Tatuapé, São Paulo, o primeiro acervo de veículos do Brasil. O Museu Paulista de Antiguidades Mecânicas foi transferido no ano seguinte para as instalações de uma fábrica de amido, propriedade de sua família, em Caçapava, interior do estado. Lee seria assassinado com dois tiros disparados pela amante, em 1975. E, aos poucos, o museu foi se desintegrando: alguns dos carros mais valiosos foram vendidos e outra parte foi abandonada e vandalizada.

Só no começo dos anos 2000 os herdeiros de Lee chegaram a um acordo com a prefeitura de Caçapava, que em 2017 assumiu o que restou do acervo. Em outubro, por ocasião dos 60 anos do museu, os carros ganharam espaço definitivo.

Entre as atrações está o Ford Maverick 1973, restaurado por voluntários. O carro tomou parte no Raid de Integração Nacional — viagem entre o Chuí, no extremo sul, e Manaus. Há ainda o que seria um Tucker Torpedo 1948, uma das duas unidades produzidas fora dos Estados Unidos de um total de 51. O carro foi comprado por Lee já descaracterizado, com motor e parte do acabamento tirados de um Cadillac. Caso estivesse íntegro, valeria mais de 2 milhões de dólares e provavelmente teria sido vendido.

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Fonte: direitonews

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