Advogado é suspeito de desviar milhões de reais de clientes no RS, diz polícia


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Via @portalg1 | Um advogado trabalhista suspeito de desviar milhões de reais de clientes no Rio Grande do Sul foi alvo de uma operação da Polícia Federal (PF) na manhã desta sexta-feira (14) em Porto Alegre. A polícia cumpriu nove mandados de busca e apreensão Canoas e Xangri-lá, além da Capital. A ação está em andamento, razão pela qual o resultado da operação não foi divulgado.

Alessandro Batista Rau teria se apropriado de indenizações trabalhistas e, só em uma das ações judiciais, o valor teria chegado a quase R$ 2 milhões.

A Polícia Civil abriu sete inquéritos contra Rau. A Justiça determinou a suspensão da atividade dele como advogado. Além disso, ele não pode sair do país e deve usar tornozeleira eletrônica. As medidas judiciais também são para sequestro de bens e valores.

Em depoimento à polícia, Rau afirma que agiu dentro da lei, com o consentimento dos clientes. O advogado dele, Gustavo Nagelstein disse que “não configura ilicitude porque todos os valores que são objeto de averiguação estão documentados, foram combinados com os clientes e repassados anteriormente, com recibo e tudo”.

De acordo com a investigação, o advogado e sua equipe são suspeitos de convencer clientes de que poderia levar anos até que recebessem as indenizações que buscavam na Justiça e ofereciam uma quantia em dinheiro na hora em troca da causa – mas sabendo que já havia decisão judicial favorável ao cliente. Houve pessoas que ficaram com menos de 4% do valor determinado pela Justiça após aceitarem a proposta desonesta.

Em um dos casos, de um morador da Região Metropolitana de Porto Alegre que preferiu não ser identificado, uma ação trabalhista gerou uma indenização de R$ 1,5 milhão, no entanto, aceitou a oferta de R$ 75 mil do escritório de advocacia.

“[O advogado] entrou em contato com a vítima para uma cessão de crédito no valor de R$ 75 mil, sendo que, no momento que essa cessão de crédito foi feita, já existia a liberação de aproximadamente R$ 450 mil [pela Justiça]. A vítima cedeu, naquele momento, R$ 450 mil por R$ 75 mil através de uma assessoria do suspeito”, diz o delegado Vinicius Nahan dos Santos, titular da 2ª Delegacia de Polícia Distrital de Porto Alegre.

A empresa que paga os clientes é a Pertto Perícias, criada por Alessandro Rau. O nome do pai dele, Carlos Roberto Rau, está ligado ao CNPJ.

Alessandro Batista Rau (à esq.) e seu pai, Carlos Roberto Rau, em viagem à Turquia neste ano — Foto: Redes sociais/Reprodução

“Segundo o estatuto da OAB [Ordem dos Advogados do Brasil], um escritório de advocacia não pode ter também trabalho de perícia judicial. Esses contratos que ele firmava com seus clientes, que cobrava também valor da perícia junto com honorários, causam uma suspeita de irregularidade. O cliente acabava pagando honorários do advogado e também 5% da perícia pro mesmo advogado, para o mesmo escritório, pois a empresa que fazia perícia tinha os mesmos sócios do escritório de advocacia”, diz o delegado Santos.

Vítimas do esquema

Uma das vítimas do golpe do advogado — Foto: RBS TV/Reprodução

O homem que foi convencido a aceitar R$ 75 mil disse ter procurado o Rau mais de uma vez, mas diz que em nenhum momento ouviu a verdade sobre o andamento do processo. Na época, de acordo com a polícia, movimentações bancárias indicam que já haveria mais de R$ 400 mil disponíveis.

“Liguei mais de uma vez, fiquei o ano todo ligando. Eles falaram que levaria mais três ou quatro anos para sair [a indenização]. Confiei nele e ele fez todas essas coisas”, conta.

Outra vítima do esquema preferiu não aceitar a proposta, mas reclama de ter recebido menos da metade do valor devido a ela em um processo, o que viola o teto dos honorários da advocacia.

“Eu só quero o que é meu, Se realmente tem alguma coisa errada e ele não pagou o que faltava, só quero o que é meu. Financiei a vida dele, não quero isso. Procurei advogado, fez cálculos e chegou a conclusão que eu recebi menos que ele. Ele recebeu mais que eu. Não ficou nem 50% pra cada lado”.

Outro cliente teve o processo acelerado, pois o advogado apresentou à Justiça um laudo médico com o diagnóstico de câncer, o que agilizou a liberação do dinheiro. No entanto, para ele, o valor demorou a chegar.

“Eu tive câncer em 2014, junto com andamento do processo. Mas, dentro do processo, doutor Alessandro pediu um laudo sobre o meu câncer. Eu concedi para ele. Soube posteriormente que ele usou laudo pro uso financeiro, para o bem dele”.

O advogado que defende as vítimas, Diogo Teixeira, acredita que os clientes sofreram um golpe.

“Essa empresa foi constituída para lesar os clientes. Inicialmente, começou a fazer cobrança sobre valores de honorários especiais de perícias que não existiram. Com o passar do tempo, houve a modificação da sistemática operacional e ele constituiu essa empresa que ficava no mesmo local que o escritório de advocacia, incompatível com atividades da advocacia em si”, diz Teixeira.

Vida de luxo

A família de Alessandro ostenta uma vida de luxo nas redes sociais, com viagens aos Emirados Árabes, Estados Unidos e países da Europa, tudo exposto nas redes sociais.

“No início, a gente conheceu ele em uma salinha muito simples. E, em muito pouco tempo, ele se mudou para um escritório mega luxuoso, prédio lindo, maravilhoso, equipe montada, em muito pouco tempo. E, aí, a gente disse ‘algo de errado não está certo'”.

“Usando meu laudo de doença para viajar pra Dubai, para expor em rede social que tava bem. E a gente?”.

Por Tiago Boff, RBS TV e g1 RS
Fonte: g1.globo.com

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