Em uma entrevista, o engenheiro agrônomo João Pedro Cuthi Dias discute um tema de extrema relevância: o impacto das mudanças climáticas nas doenças endêmicas no Brasil. Com o aumento das temperaturas, observamos um crescimento nos casos de doenças como a dengue. Exploramos como esses eventos climáticos influenciam a disseminação dessas doenças e quais medidas podem ser adotadas para mitigar esses efeitos.
A relação entre o clima e as doenças endêmicas
João Pedro Cuthi Dias explica que o aumento da temperatura média do planeta acima de 1.4°C está prestes a atingir 1.5°C, um ponto crítico sem retorno. “À medida que a temperatura aumenta, criam-se condições negativas para o corpo humano, afetando a circulação sanguínea e a imunidade, o que complica a situação de saúde, inclusive aumentando os partos prematuros”, observa João. Isso resulta em hospitais lotados e um quadro preocupante.
Efeitos das enchentes e falta de saneamento
As enchentes recentes no Rio Grande do Sul exemplificam como eventos climáticos extremos podem impactar negativamente o fornecimento de água e saneamento básico. “O risco de doenças transmitidas pela água contaminada aumenta drasticamente”, alerta João. Esse problema não é exclusivo do Brasil; eventos semelhantes estão ocorrendo globalmente, como na Índia e nos Estados Unidos, onde a formação de domos de calor está se tornando um problema sério.
Mudanças climáticas e saúde pública
As condições climáticas extremas, como incêndios no Pantanal, pioram a qualidade do ar, causando problemas respiratórios. “Estamos vendo um caos climático que afeta diretamente a saúde pública”, afirma João. A produção de biocombustíveis, embora significativa, ainda representa uma fração pequena do consumo global, e as emissões de gases de efeito estufa continuam aumentando.
Medidas de mitigação e o papel da agricultura
Segundo João, é crucial adotar medidas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e sequestrar carbono na atmosfera. “A fotossíntese é o melhor processo natural para transformar carbono em matéria orgânica, mas a mudança no uso do solo está dificultando isso”, explica ele. A agricultura tem um papel vital nesse processo, incentivando a microbiota do solo a sequestrar carbono.
O Brasil, por exemplo, está promovendo iniciativas como o custeio verde no setor agrícola. “Apesar de ser um passo importante, ainda falta clareza nos parâmetros de aplicação”, comenta João. O setor rural brasileiro pode ser um exemplo para o mundo, com práticas como a integração lavoura-pecuária-floresta e o plantio direto, que economizam bilhões de litros de óleo diesel e reduzem as emissões.
Ação conjunta e conscientização
João enfatiza que a ação humana deve ser ampla e coletiva. “Cada um de nós tem um papel nessa grande missão. Como agrônomo, posso promover o uso de fertilizantes naturais e inoculantes para a fixação biológica de nitrogênio”, diz ele. Ele também destaca a importância da conscientização e divulgação dos problemas ambientais por parte dos jornalistas.
Fonte: agrolink