Estratégias para recuperar os solos danificados pelas chuvas


As intensas chuvas de maio de 2024 no Rio Grande do Sul causaram severos danos nas áreas agrícolas, gerando a necessidade urgente de estratégias de recuperação do solo. Pesquisadores da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em colaboração com a Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (SEAPI-RS), desenvolveram orientações técnicas para ajudar os produtores rurais a restaurarem suas terras e recuperarem a produtividade.

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O coordenador do Plano ABC+RS e pesquisador do DDPA, Jackson Brilhante, destaca a importância dessa colaboração: “Ter a academia e a extensão rural juntas neste processo é fundamental para realizar um diagnóstico mais assertivo. No Rio Grande do Sul, temos universidades de referência internacional na área de ciência do solo, que certamente vão contribuir no processo de recuperação.”

As enchentes provocaram diversos tipos de danos, desde a erosão severa em áreas declivosas até depósitos de sedimentos em planícies. A primeira etapa na recuperação do solo é um diagnóstico detalhado dos impactos, que deve incluir análises químicas, físicas e biológicas do solo. As águas das enchentes frequentemente deixam para trás detritos orgânicos e inorgânicos, como restos de plantas e materiais de construção. Para detritos vegetais com menos de 5 cm de espessura, a recomendação é incorporá-los ao solo, enriquecendo-o com matéria orgânica. No entanto, resíduos mais espessos podem exigir espalhamento ou remoção manual para evitar o comprometimento da superfície agrícola e a futura compactação do solo.

As equipes já visitaram duas regiões críticas: o Vale do Caí, nos municípios de Bom Princípio e Feliz, e o Vale do Taquari, em Muçum e Roca Sales. Nessas visitas, encontraram uma variedade de desafios, como áreas com depósitos de areia de 4 a 5 metros de altura e outras com a remoção do horizonte A do solo, a camada mais fértil. “Nas propriedades que visitamos, a primeira ação que fazemos é realizar o diagnóstico da fertilidade do solo através da coleta de amostras em diferentes pontos, pois cada área pode ter sido afetada de maneira diferente”, explica Brilhante.

A análise do solo deve preceder qualquer intervenção agrícola, alertam os pesquisadores. Os resultados preliminares das análises de solo indicam valores de pH em torno de 7, o que é desfavorável para a agricultura. “Sempre alertamos o produtor para não fazer nada antes de realizar a análise de solo”, ressalta Brilhante. Ele explica que o processo de recuperação envolve não apenas a reposição química dos nutrientes, mas também a melhoria da estrutura física e a revitalização biológica do solo. “Para recuperar a parte química, podemos fazer a reposição dos nutrientes perdidos com a adição de fertilizantes e corretivos. Para a parte física, plantas de cobertura com sistema radicular abundante ajudam a melhorar a estrutura do solo, e para a parte biológica, bioinsumos são essenciais para recuperar a atividade biológica.”

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A adoção de práticas conservacionistas, como o sistema de plantio direto e a construção de terraços, é essencial para manejar o excesso de água e melhorar a retenção hídrica do solo. O plantio direto, com suas diretrizes de revolvimento restrito, cobertura permanente do solo e rotação de culturas, não só melhora a estrutura do solo, mas também contribui para a recuperação do carbono, principal indicador de qualidade. Adicionalmente, a recomposição das Áreas de Proteção Permanente (APPs) é crucial para garantir a estabilidade das margens dos rios e encostas, protegendo contra futuras erosões.

Segundo Brilhante, o Plano ABC+RS é a política pública de adaptação às mudanças climáticas no setor agropecuário gaúcho. “Todo esse processo de recuperação dos solos do Rio Grande do Sul passa pela adoção das tecnologias do Plano ABC+RS. São tecnologias que promovem uma maior resiliência para os sistemas de produção agropecuários. A principal delas é o Sistema Plantio Direto (SPD), que tem como diretrizes o plantio em nível, o revolvimento restrito à linha de plantio, a cobertura permanente do solo com palha e plantas e a rotação de culturas. Com essas práticas, o produtor vai conseguir recuperar a parte química, física e biológica do solo.”

Além do Sistema Plantio Direto, outras práticas como a construção de terraços podem ser necessárias em algumas situações para controlar o escoamento superficial, especialmente em eventos de chuvas intensas. “Os terraços também auxiliam no armazenamento e distribuição de água na propriedade”, afirma Brilhante. O Plano ABC+RS inclui tecnologias adicionais, como bioinsumos, Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, sistemas agroflorestais, florestas plantadas e práticas de recuperação de pastagens degradadas, todas visando à sustentabilidade e à resiliência das áreas agrícolas afetadas.

 

Fonte: agrolink

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