Anomalia da soja: desvendando a ameaça das lavouras do Sul do Brasil
A anomalia da soja, reconhecida como podridão dos grãos e sementes (ou podridão de vagens) e quebramento das hastes da soja, vem se destacando como um dos maiores desafios para os produtores de soja na região Sul do Brasil. Esse fenômeno é causado por um complexo de patógenos, principalmente dos gêneros Diaporthe/Phomopsis e Colletotrichum, e tem gerado uma queda significativa na produtividade das lavouras.
Sintomas e impactos na produção
A podridão de vagens na soja é caracterizada pelo escurecimento interno das vagens e dos grãos, apodrecimento e abertura de grãos e vagens, além do enrugamento de grãos e sementes. O quebramento de hastes, por sua vez, apresenta sintomas como alongamento excessivo da haste, necrose e tombamento das plantas, interrompendo o enchimento de grãos e reduzindo drasticamente a produtividade. Nos últimos três anos, essa anomalia resultou em perdas de até 50% em diversas lavouras.
Estudo
A Syngenta, em parceria com instituições como Embrapa e Universidade de Passo Fundo, conduziu um estudo detalhado sobre a anomalia da soja. Bruno Zuntini, Líder do Portfólio de Fungicidas da Syngenta, destacou:
“A principal conclusão é que tanto a podridão de grãos e sementes quanto o quebramento de hastes são causados por um complexo de fungos, com predomínio dos gêneros Colletotrichum spp. e Diaporthe spp.. Conseguimos traçar boas práticas de manejo para reduzir e controlar ambas as doenças.”
Clima e disseminação
Lucas Navarini, doutor em Fitopatologia pela Universidade Federal de Santa Maria, explicou como as condições climáticas influenciam a disseminação da doença:
“Condições climáticas como altas temperaturas e umidade elevada durante o período crítico da doença favorecem a incidência dos patógenos causadores da anomalia. No entanto, a epidemiologia é mais influenciada por estresses no hospedeiro do que por relações climáticas.”
Estratégias de manejo
Para mitigar os danos causados pela anomalia, a Syngenta recomenda o uso de fungicidas específicos. Zuntini detalha:
“O manejo efetivo inclui fungicidas para controle de Diaporthe e Antracnose. A associação com fungicidas à base de Carboxamidas, especialmente contendo Solatenol, é indispensável. Produtos como ALADE®, MITRION® e ELATUS® mostraram-se eficazes no controle da doença.”
Desafios
Um dos maiores desafios, segundo Zuntini, foi unificar a comunidade científica para concluir que a anomalia é causada por fungos:
“O investimento nesse estudo teve um papel fundamental para o avanço da sojicultura brasileira. O objetivo é municiar os produtores com informações essenciais para enfrentar a anomalia da soja.”
Navarini reforça a importância do monitoramento constante:
“A aleatoriedade dos sintomas mostra a complexidade da doença. O agricultor deve acompanhar o desenvolvimento da anomalia e considerar que ela não se espalha apenas pelo contato com o Mato Grosso ou por sementes. Estamos lidando com uma espécie altamente virulenta que proporciona danos econômicos.”
Leia a entrevista na íntegra
Portal Agrolink: Quais foram os principais resultados obtidos pelo estudo liderado pela Syngenta em relação à anomalia da soja no Sul do Brasil durante a safra 2023/24?
Bruno Zuntini, Líder do Portfólio de Fungicidas da Syngenta: A Syngenta, como referência em pesquisa e desenvolvimento em soluções para os principais problemas no campo, firmou o compromisso com os produtores de estudar e apontar todas as possíveis causas da anomalia da soja e compartilhar as soluções, disponibilizando as respostas para os produtores e desenvolvendo táticas de manejo que sejam efetivas na redução das perdas expressivas registradas na produtividade da cultura nos últimos anos.
Durante o estudo que realizamos em parceria com as principais instituições de pesquisas do Brasil, analisados dados de laboratórios coletados nos campos de diferentes regiões, durantes as últimas três safras.
Os problemas foram detectados, analisados e confrontados com os obtidos pelo restante da comunidade científica, possibilitando algumas conclusões.
A principal delas é que tanto a podridão de grãos e sementes como o quebramento de hastes, à chamada anomalia da soja, são causados por um complexo de fungos, cuja ocorrência que tem predominado é a dos gêneros Colletotrichum spp. e Diaporthe spp. Dessa maneira, conseguimos traçar boas práticas de manejo e uma recomendação para reduzir e controlar ambas as doenças.
Portal Agrolink: Como a parceria entre instituições privadas, governamentais e fundações de pesquisa, como Embrapa, Fundação MT e Universidade de Passo Fundo, contribuiu para o desenvolvimento do estudo e identificação de soluções para a anomalia da soja?
Bruno Zuntini, Líder do Portfólio de Fungicidas da Syngenta: A Syngenta buscar construir parcerias de impacto para fomentar a agricultura sustentável. Sabemos que ninguém faz nada sozinho e, diante de um problema como a anomalia da soja, que pode devastar lavouras, nos empenhamos em desenvolver uma rede de parceiros estratégicos, entre instituições acadêmicas, cadeia de alimentos, empresas agrícolas e agricultores para aumentar a efetividade dos nossos estudos e investigações.
A descoberta da causa da anomalia foi fruto desse trabalho que reuniu especialistas da Syngenta e renomados pesquisadores brasileiros. Após anos de análises, descobrimos que a anomalia da soja se desdobra em duas doenças: podridão de grãos e sementes e quebramento da haste da soja, causadas por um complexo de fungos, principalmente dos gêneros Diaporthe/Phomopsis e Colletotrichum.
Mas o trabalho não parou com a descoberta das causas e passamos a estudar os detalhes específicos sobre o comportamento dos patógenos em áreas de cultivo de soja e sobre o manejo adequado para mitigar o problema.
Também passamos a discutir as soluções e os resultados indicaram que o manejo com fungicidas à base de solatenol pode reduzir os danos e proteger a produtividade da cultura.
Na vanguarda dos estudos para a anomalia da soja no Brasil, a Syngenta foi a primeira a receber o registro do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) para uma recomendação completa e efetiva de produtos suportados por bula para o combate à anomalia da soja, do Tratamento de Sementes ao combate de doenças no cultivo.
googletag.cmd.push(function() { googletag.display(‘agk_14000_pos_4_conteudo_mobile’); });
Portal Agrolink: Quais estratégias de manejo foram recomendadas pelo estudo da Syngenta para mitigar os danos causados pela anomalia da soja, e como essas estratégias são fundamentadas cientificamente?
Bruno Zuntini, Líder do Portfólio de Fungicidas da Syngenta: Quanto as melhores práticas de manejo, após um trabalho minucioso de investigação que incluíram áreas do Cerrado e Sul, o estudo da Syngenta apontou que o manejo efetivo, incluindo principalmente fungicidas para controle de Diaporthe e Antracnose, diminui a severidade dos problemas encontrados na soja.
Também foi constatado que a associação com fungicidas à base de Carboxamidas, especialmente contendo o ingrediente ativo Solatenol, é indispensável para o sucesso no controle da podridão de grãos e sementes. Esse posicionamento técnico e a base científica das nossas recomendações foram tão relevantes, que contribuíram para que a Syngenta conseguisse, junto ao MAPA, o registro dos seus produtos à base de Solatenol para os alvos biológicos causadores da problemática nas lavouras de soja.
Entre a linha de produtos efetivos que compõem a recomendação por bula aprovada pelo MAPA para o combate à anomalia da soja estão ALADE®, fungicida translaminar que combina solatenol, ciproconazol e difenoconazol; MITRION®, fungicida inovador formulado a partir de solatenol e protioconazol, oferecendo controle preventivo e curativo; e ELATUS®, fungicida sistêmico e de contato com uma formulação que permite fácil dissolução e rápida penetração, criando uma barreira impermeabilizante contra fungos.
Além do controle químico é importante enfatizar a importância de outras práticas de manejo, como a associação de multissítios em todas as aplicações e o monitoramento constante da lavoura e das condições climáticas.
Portal Agrolink: Quais foram os desafios enfrentados durante a condução dos estudos e a obtenção do registro dos produtos à base de Solatenol junto ao Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) para o controle da anomalia da soja?
Bruno Zuntini, Líder do Portfólio de Fungicidas da Syngenta: O maior desafio foi reunir tanta gente boa, pesquisadores renomados no estudo das doenças da soja no Brasil e juntos elaborarmos um trabalho coeso que concluiu que a doença é, sim, causada por um fungo.
Essa era uma das maiores discordâncias da comunidade cientifica agrícola no Brasil, mas agora, com comprovação da ciência isso já é um consenso entre a comunidade de pesquisadores e agricultores.
O que ajuda muito na compreensão do problema e em como realizar um manejo mais assertivo que agregue produtividade e sustentabilidade na lavoura.
Sem dúvida, o investimento nesse estudo tão amplo teve um papel fundamental para o avanço da sojicultura brasileira, seja com o desenvolvimento de novas tecnologias e principalmente com o encontro de soluções para esse problema que já gerou muitos prejuízos para os agricultores, principalmente do Mato Grosso.
Como lição, é importante resgatar o que aconteceu no Cerrado para evitar que o mesmo ocorra no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Esse é o objetivo da Syngenta: o de municiar os produtores com informações essenciais para o enfrentamento e gerenciamento da anomalia da soja. A safra ainda está no campo, temos algumas observações de apodrecimento de grãos já relatadas, e estamos acompanhando outras lavouras para mensurar a evolução geográfica da distribuição e com qual agressividade ela vem aparecendo no Sul. Mas já sabemos que os próximos anos serão desafiadores.
Portal Agrolink: Como as condições climáticas, como o alto volume de chuvas causado pelo El Niño, contribuíram para a disseminação e agravamento da anomalia da soja na região sul do país?
Lucas Navarini, Doutor em Fitopatologia pela Universidade Federal de Santa Maria: A epidemiologia é mais influenciada por estresses que ocorrem com o hospedeiro, do que relações climáticas como volume alto de chuva. Esse é o tema que mais contribui com a falta de concordância quanto a anomalia ser uma doença, de fato. Digo isso, pois temos outros fatores intrinsecamente relacionados como predisponentes à ocorrência de Diaporthe em soja. Porém, sabemos que condições climáticas como altas temperaturas e umidade elevada, ou seja, clima abafado e úmido, durante o período crítico da doença (fase de enchimento de grãos), podem favorecer a incidência dos patógenos causadores da anomalia.
Portal Agrolink: Quais são os principais sintomas visuais da anomalia da soja identificados nas lavouras do Rio Grande do Sul e como eles são utilizados para detectar a presença da doença?
Lucas Navarini, Doutor em Fitopatologia pela Universidade Federal de Santa Maria: É mais comum observar os sintomas a partir do enchimento de grãos, na haste principalmente na região do epicótilo, ficando mais estreita (constrição) e o surgimento ou não de estrias nessa região, plantas que quebram acima do nó cotiledonar com facilidade e antes do R6, eu diria do R5.5 para R6 apresentando apodrecimento dos grãos.
A aleatoriedade da incidência e da agressividade dos sintomas mostram a etiologia complexa da doença, onde há uma fase fenológica critica para infecção e também importante para o manejo.
Portal Agrolink: Quais outros fatores podem interferir na ocorrência e quais dicas finais o pesquisador deixa aos produtores, especialmente de regiões com ocorrência recente, que talvez não estejam ainda familiarizados com sua ocorrência?
Lucas Navarini, Doutor em Fitopatologia pela Universidade Federal de Santa Maria: Temos que aprender e acompanhar o desenvolvimento da doença, um exemplo no Rio Grande do Sul onde temos forte ocorrência de estrias na haste e plantas quebradas, nesta safra. A safra ainda está no campo, temos algumas observações de apodrecimento de grãos já relatadas, e estamos acompanhando outras lavouras para mensurar a evolução geográfica da distribuição e com qual agressividade ela está se apresentado não só no Rio Grande do Sul, mas também nos demais estados no Sul (PR e SC) e em outros estados onde já foram registrados a incidência da doença como Bahia, Tocantis e Piauí.
O agricultor deve considerar que a anomalia da soja não é uma doença que irá se espalhar vindo do Mato Grosso ou pior, que a transmissão será por sementes. As espécies de Diaporthe são fungos extremamente comuns e abundantes em sistemas de cultivo de soja, que causam doenças em soja em todas as regiões produtoras há mais de 40 anos. O que temos hoje é uma espécie diferente desses patógenos, altamente virulenta e proporcionando dano econômico, o que no passado não ocorria.
A anomalia já está aí, só começou a se manifestar de maneira abrangente ao ponto de afetar a cultura de forma regional, isso veio aumentando de forma crescente ao longo dos últimos anos.
Fonte: agrolink