“Prova disso é que o primeiro-ministro anterior permaneceu no cargo durante o evento e foi afastado somente após o término dos jogos, como uma estratégia para evitar maiores problemas e desviar a atenção dos jogos para a crise política […]. Acredito que essa nomeação traz mais instabilidade para a França. Do ponto de vista político de Macron, a escolha pode fazer algum sentido, mas como presidente da França essa decisão parece mais prejudicial para o país. Sob a perspectiva democrática, é problemático que um presidente nomeie um primeiro-ministro que não reflita o resultado das urnas”, conta.
“É difícil justificar que, em uma eleição onde a primeira posição foi uma aliança política de esquerda e a segunda uma de centro [do partido de Macron], o primeiro-ministro seja escolhido da direita […]. Não faltam críticas à administração de Macron por parte da esquerda. Em primeiro plano, há uma crítica à sua personalidade, com o presidente sendo descrito como elitista, sendo até associado a Júpiter, o ‘rei’ dos deuses romanos. No campo das políticas públicas, a esquerda critica o fim do imposto sobre grandes fortunas, as reformas trabalhistas e previdenciárias, bem como as políticas de austeridade do governo”, justifica, ao lembrar ainda da pressão sofrida por Macron com relação ao apoio a Israel diante do conflito na Faixa de Gaza.
Presidente da França: direita ou esquerda?
“Acredito que a instabilidade interna na França tenha um impacto mais significativo do que qualquer fracasso na política externa. A ausência de um governo majoritário que apoie o presidente tem enfraquecido a influência da França tanto no cenário internacional quanto dentro da União Europeia. […] Outro fator que tem contribuído para os infortúnios da França na política externa é o declínio de seu poder global, que está mais associado à diminuição estrutural da importância do país no cenário mundial”, afirma Brandão.
Política externa do governo Macron
“A política externa de Macron para a África é um dos grandes fracassos e incoerência da gestão, ao mesmo tempo que a França tem liderado o bloco europeu em diversos temas centrais para a governança global. A resistência francesa a ceder seus poderes sobre suas ex-colônias em África e os reveses práticos mostram a dificuldade de conciliar seu discurso de novo líder liberal com a efetivação de um mundo multipolar e independente na prática. Da mesma forma, a incapacidade de incidir para frear a guerra na Europa e o genocídio palestino em curso, temas que reverberam profundamente no ambiente interno”, argumenta à Sputnik.
Fonte: sputniknewsbrasil