Como os desafios com o bicudo-do-algodoeiro são uma constante nas lavouras do país, o 14º CBA, como em todas as edições anteriores do evento, trouxe um painel para apresentar ferramentas, manejo e os resultados de redes de estudo para o controle do inseto. Sob a coordenação de Lucia Vivan, pesquisadora da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso, seis especialistas foram divididos em dois blocos para tratar do tema. A atenção especial tem uma explicação: para combater, é preciso conhecer.
Por isso, o consultor agroambiental Walter Jorge apresentou um panorama da praga no Brasil, começando com sua identificação há 40 anos em Campinas, Paraíba e Pernambuco, através da movimentação de sementes, grãos e caroços transportados pelo país. “Evidências morfológicas confirmaram que o bicudo encontrado no Brasil era originário dos EUA, o que leva à hipótese de que o inseto tenha chegado via aeroporto de Viracopos, com dispersão para o Nordeste cerca de cinco meses depois”, contou. Desde então, diversos planos de contenção e erradicação foram elaborados, incluindo o estabelecimento de vazios sanitários, a eliminação de plantas e restrições econômicas. “No entanto, havia uma infinidade de limitações para realizar um trabalho exitoso naquele período, e o bicudo foi ganhando força”, analisou o consultor, lembrando que, na década de 90, todas as regiões produtoras estavam infectadas.
Walter Jorge considera o bicudo-do-algodoeiro como um “divisor de águas” para a cotonicultura, pois, a partir desse problema, foram desenvolvidas ferramentas como faixas iscas, armadilhas com feromônio, catação de botões florais atacados e tubos mata-bicudo. “Com a saída dos pequenos produtores das regiões atingidas e o aumento da demanda pela fibra, o cerrado brasileiro começou a despontar na produção, sendo estimulado pela economia e por novos manejos, como rotação de culturas, uso de diferentes produtos e grupos de inseticidas”, lembrou o consultor, citando, entre os avanços, os métodos de monitoramento e aplicação de tecnologias para controle das soqueiras e tigueras. “Vale ressaltar que o bicudo é uma praga crônica que veio para ficar e, portanto, há uma necessidade real de conscientização sobre a sucessão de culturas e o manejo integrado, considerando ainda as condições climáticas específicas de cada região”, finalizou.
Para Marcio Souza, coordenador de Projetos e Difusão de Tecnologias no Instituto Mato-Grossense do Algodão (IMAmt), “monitoramento é a ferramenta fundamental para controlar as pragas na agricultura e não se constrói a cultura do algodão sem gente conhecendo bem o seu negócio”. Ele enfatizou que acompanhar o histórico de armadilhamento, monitorar o pré-plantio, a pré-colheita, as aplicações de Inseticidas em sequência, além de eliminar soqueiras e tigueras são ações imprescindíveis e já realizadas. “Mas ainda precisamos ir além e controlar o transporte, colocando telas de proteção e realizando a fiscalização dos caminhões, porque os caroços saem das nossas algodoeiras e fazendas. Ou seja, somos responsáveis por nossa produção. Caso contrário, inviabilizaremos nosso algodão”, pontuou o pesquisador, destacando o uso de novas tecnologias e ações coletivas como formas de combater efetivamente o bicudo.
googletag.cmd.push(function() { googletag.display(‘agk_14000_pos_4_conteudo_mobile’); });
As estratégias, táticas mais atuais e os resultados obtidos no projeto Rede Bicudo Brasil – Experimentos Cooperativos foram apresentados pelo consultor Paulo Degrande. “A base do combate ao bicudo é reduzir a população no final da safra, diminuir a probabilidade de sobrevivência do inseto e eliminar a infestação no início da floração”, explicou o consultor, ressaltando que outra dificuldade no combate é a presença do bicudo em lavouras de soja e milho em rotação. Para ele, o controle do bicudo envolve um protocolo de 18 atitudes que precisam ser seguidas pelo produtor como um check-list: priorizar microgotas oleosas; aplicar inseticidas a partir do primeiro botão floral; realizar monitoramento rigoroso; reaplicar inseticidas no talhão; reduzir a população de bicudo no final da safra; realizar uma colheita rápida e bem feita; eliminar soqueiras, rebrotas, tigueras e plantas voluntárias; cumprir o vazio sanitário; mapear com armadilhas na entressafra; seguir um calendário de semeadura, concentrando o plantio; tratar as bordaduras; aplicar inseticidas em B1; organizar grupos técnicos regionais para troca de experiências; tratar as soqueiras em soja e milho; encurtar o ciclo do algodão; evitar o plantio de milho após o algodão; e adotar boas práticas de manejo.
Iniciando a segunda parte do painel, o pesquisador da Embrapa Territorial Julio Bogiani apresentou as ferramentas digitais utilizadas no projeto Monitora Oeste — desenvolvido no cerrado baiano — e disponíveis para que os produtores possam lançar, agrupar e processar as informações do campo em tempo real, com o objetivo de controlar e combater a praga. “A transformação digital já evoluiu e hoje vivenciamos uma realidade virtual que se desenvolve por meio da conectividade, com sensores interligados que possibilitam o compartilhamento de máquinas e informações”, exemplificou Bogiani. As inúmeras vantagens visam à redução de custos e ao auxílio na tomada de decisões. “Podemos avançar para além de drones e tecnologia de precisão. Temos à nossa disposição softwares, GPS, sensoriamento remoto, robótica, Inteligência Artificial e gestão de dados, ou seja, uma infinidade de aplicações para melhorar a eficiência da produção.”
As soqueiras, tigueras e plantas voluntárias são velhas conhecidas dos cotonicultores e, para manejá-las, Edson Andrade, pesquisador do IMAmt, apresentou os avanços no segmento, como a destruição mecânica e química. “Nos últimos anos, alguns lançamentos relacionados à biotecnologia foram introduzidos no mercado como aplicações complementares a produtos já existentes. O importante é que o produtor esteja bem-informado e utilize produtos formulados de alta performance, prestando atenção nos cultivares”, advertiu.
googletag.cmd.push(function() { googletag.display(‘agk_14000_pos_5_conteudo_mobile’); });
Finalizando as discussões, Licio Pena, um dos fundadores e diretor executivo da AMIPA, explicou a dinâmica do Catolaccus Amipa, uma ferramenta biológica para o controle da praga, criada na biofábrica da instituição e o primeiro produto biológico registrado no Brasil contra o bicudo. O resultado inicial da ferramenta foi apresentado durante o painel, demonstrando uma mortalidade de 94,5% do bicudo. “O nosso agente biológico funciona como um verdadeiro míssil teleguiado para combater o bicudo”, sintetizou o especialista. Entre as principais características, ele destacou que o Catolaccus injeta toxina no bicudo, ataca de seis a oito larvas de bicudo por dia e tem a capacidade de produzir entre 170 a 300 ovos em um ciclo de vida que é praticamente igual ao do bicudo. “E tudo isso está em consonância com o Projeto Better Cotton, demonstrando nossa preocupação com a qualidade do algodão e a diminuição da resistência aos químicos nas lavouras.”
Fonte: agrolink