Quando Fabiana Casagrande, da Agroindústria Delícias da Fabi, de Sarandi, começou a produzir biscoitos, há cinco anos, sequer imaginava aonde poderia chegar. “Meu negócio está tomando uma proporção que eu nunca pensei. Hoje posso dizer que cerca de 90% da renda da família vêm da agroindústria. Terminando a Expointer, vou ter que correr atrás para ampliá-la”, contou, animada, na manhã desta quinta-feira (29/08), no espaço da Emater/RS-Ascar na 47ª Expointer, no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio.
Fabiana e outras 11 mulheres empreendedoras, contemplando as 12 regiões administrativas da Emater/RS-Ascar, integram a segunda edição do livro “As mulheres na agroindústria familiar no Rio Grande do Sul: participação e sustentabilidade”, lançado nesta manhã. Na oportunidade, além das homenagens, a presença feminina no Pavilhão da Agricultura Familiar foi destacada pela presidente da Emater/RS, Mara Helena Saalfeld, e pelo secretário adjunto do Desenvolvimento Rural (SDR), Lindomar Moraes, representando o secretário Vilson Covatti.
“Das 413 agroindústrias familiares no Pavilhão, 217 são geridas por mulheres que fazem a diferença, e isso é muito significativo para nós, da Emater, que assistimos esses empreendimentos no Estado”, diz Mara Helena, ao parabenizar a coragem, a persistência e a superação das mulheres empreendedoras. “Nosso olhar como extensionistas é para toda a família, da criança ao idoso, mas de forma estratégica para a mulher”, avalia o diretor técnico da Emater/RS, Claudinei Baldissera. Já o secretário Moraes citou a presença crescente dos jovens no Pavilhão. “São 128 agroindústrias que têm a gestão da juventude, onde também há mulheres, e as demais agroindústrias, tocadas por homens, estes têm ao seu lado mulheres. A elas, nosso reconhecimento”, disse Moraes.
Durante a solenidade de lançamento do livro, a presidente da Emater/RS homenageou e, em reconhecimento, agradeceu ao pioneirismo dos extensionistas Mirce Elena Santin, Renato Cougo e ao aposentado Osvaldo Brunetto, no trabalho com as agroindústrias.
Resgate
As extensionistas Bruna Bresolin, Clarice Vaz Emmel Bock e Leila Ghizzoni são autoras do livro, cujas imagens foram registradas pelo fotógrafo da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), Fernando Dias. “Foi uma honra participar dessa publicação, ao lado de pessoas com quem tive o privilégio de conviver e das mulheres fotografadas, de quem se busca transformar histórias em imagens”, observou Dias.
Para a gerente estadual de Planejamento da Emater/RS-Ascar, Magna Tonial, “esse é um momento especial, que representa histórias de superação, fortalecendo a economia local e da região, resgatando a cultura e fortalecendo a sucessão”, disse.
De acordo com Bruna Bresolin, uma das organizadoras do livro, a edição 2024 apresenta conteúdo técnico do processamento de alimentos, ressaltando a evolução que acontece da produção para o autoconsumo para a agroindustrialização formalizada, e mostra como estão as mulheres contempladas na edição de 2014. “Quem continuou, cresceu”, ressaltou Bruna, ao citar a também empreendedora de Sarandi, Zenaide Araldi, da Embutidos Araldi, que participa do Pavilhão.
Delícias da Fabi
Fabiana Casagrande produz mais de 30 variedades de biscoitos doces artesanais. “Meus produtos são diferenciados e meu carro-chefe é o biscoito nevado de cacau, o queridinho de muita gente. Ele que me fez ser reconhecida na cidade e região. Todos sabem que aquele biscoito é o biscoito da Fabi”, disse, com orgulho, a produtora, que participa da Expointer pelo segundo ano. Mas qual o segredo do biscoito? “Ele é feito com cacau, passado em um açúcar, e fica craquelado (ou nevado)”, explicou. Quando começou, Fabi pegava receitas de cunhadas, depois começou a fazer cursos buscando inovar sempre. “Então, essa receita tirei de um curso, mas a modifiquei com o tempo e hoje ela tem o meu toque especial, o toque da Fabi”.
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Ela conta que, no início, também se baseou em bolachas tradicionais que uma irmã fazia com receitas de avós. “Só que não me adaptei. E fui inventando meus biscoitos. A primeira vez que saí de casa para vender tinha 17 anos. Cada vez que eu saía aumentava a quantidade, porque o pessoal gostava e ia me procurando e indicando para outras pessoas”, comentou Fabiana.
Ela trabalha sozinha, mas nos dias de muita produção a mãe ajuda. “Mas com a massa sou muito ciumenta, tem que ser eu a fazer”, afirma rindo. “A gente participa da feira do agricultor em um dia da semana no município. É o único ponto de venda na minha cidade. E cada semana vario o sabor dos biscoitos, porque não consigo produzir todos ao mesmo tempo Só que o de cacau tem que estar presente sempre”.
Segundo a produtora, a Emater/RS-Ascar de Sarandi sempre a ajudou. “Desde o começo, me incentivaram a fazer a agroindústria. Eu era resistente, mas hoje agradeço muito a eles. Eu fico até emocionada, porque nunca pensei que as pessoas iam reconhecer meus produtos. Fico muito feliz com esse retorno”, comemorou Fabiana.
“Quanto ao livro, quando o pessoal da Emater disse que vinha uma equipe de Porto Alegre tirar umas fotos, não me falaram o motivo. Quando descobri, meu Deus, foi só alegria. É gratificante. E é bom porque a gente consegue incentivar outras mulheres que têm um pouco de medo a correrem atrás de seus sonhos”, finalizou Fabiana.
Azienda Bastiani
Por sua vez, Lisana Bastiani, da Agroindústria Azienda Bastiani, de Faxinal do Soturno, começou produzindo geleias tradicionais italianas com receitas herdadas da mãe e da avó. “Aprendi a fazer em casa de acordo com a necessidade de ter na mesa da família. Como eu era a filha mais velha de cinco irmãos, tive que tomar conta da casa para a minha mãe trabalhar na lavoura”, contou.
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“Quando eu tinha por volta de 15 anos, fui assumindo a casa. Casei em 2000 e temos três filhos. Na medida em que eles foram crescendo, vimos a necessidade de agregar algum valor à renda da família. Então surgiu a ideia de termos uma agroindústria e tivemos o apoio da Emater, entre outras instituições”, afirmou Lisana.
“Então iniciamos a construção do prédio da agroindústria, mas já comecei a produzir em casa e vender para conhecidos e amigos que gostavam de geleia colonial, tradicional, sem conservantes, bem natural”.
Conforme Lisana, em 2020 foi finalizada a construção do prédio, e a agroindústria foi legalizada. Então passou a comercializar seus produtos em feiras, empórios, mercados, e o negócio deslanchou. Hoje produz mais de 30 sabores de geleia. “Vendemos no Rio Grande do Sul, mas temos um local onde comercializamos para turistas de fora do Estado. Nossa venda é muito boa ali”, disse com satisfação.
“E assim estamos aumentando nossas vendas. E incrementamos umas geleias gourmet, apimentadas, e outras com molhos italianos, que o povo gosta bastante”, falou a produtora. “Fazer parte desse livro é muito gratificante. Só temos a agradecer essa surpresa maravilhosa”, comentou com alegria.
Para saber mais sobre a história destas mulheres, acesse: Livro “A participação das Mulheres na Agroindústria Familiar no RS”
Fonte: agrolink