Bill Gates, carbono e o Brasil: soluções práticas ou utopias caras?


Recentemente, a Forbes noticiou que Bill Gates, o fundador da Microsoft, está apoiando uma nova organização sem fins lucrativos dedicada à padronização do mercado de créditos de remoção de dióxido de carbono (CDR). Gates, que já havia demonstrado seu compromisso com a causa climática por meio de sua empresa de investimentos Breakthrough Energy Ventures, reforçou seu envolvimento ao apoiar essa iniciativa, que busca estruturar e expandir a indústria de CDR. Além disso, a Microsoft fechou um acordo para adquirir 500 mil toneladas métricas de créditos de remoção de carbono da Occidental Petroleum, um movimento que sublinha o interesse de Gates em soluções tecnológicas para mitigar as mudanças climáticas.

O engenheiro agrônomo João Pedro Cuthi Dias discute o impacto do envolvimento de figuras influentes, como Bill Gates, na padronização do mercado de créditos de remoção de carbono. Ele aborda as dificuldades e o alto custo das tecnologias atuais, sugerindo que soluções naturais e de baixo custo, como o manejo regenerativo do solo e a recuperação de áreas desmatadas, poderiam ser mais eficazes e economicamente viáveis. Segundo Cuthi Dias, a natureza já possui mecanismos eficientes para o sequestro de carbono, e é preciso priorizar essas práticas ao invés de depender de tecnologias caras e pouco acessíveis.

A crescente preocupação com as mudanças climáticas tem levado a um aumento nas discussões sobre como reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Em meio a esse cenário, figuras influentes como Bill Gates têm defendido soluções tecnológicas para capturar carbono diretamente da atmosfera. No entanto, essas propostas não são unânimes entre os especialistas. O engenheiro agrônomo João Pedro Cuthi Dias, em recente entrevista, comentou sobre o alto custo dessas tecnologias e sugeriu que soluções naturais podem ser mais eficazes e acessíveis.

Cuthi Dias observa que, apesar de todas as iniciativas globais, as emissões de gases de efeito estufa continuam em níveis alarmantes, principalmente em grandes nações como China, Estados Unidos e Índia. “O mais correto seria diminuir as emissões e procurar, de todas as maneiras, atuar nas grandes fontes de carbono, como a energia elétrica gerada a partir do carvão e o uso de combustíveis fósseis. Isso, no entanto, não está acontecendo”, destacou o agrônomo.

Segundo ele, a alternativa proposta por figuras como Bill Gates, que defende o sequestro de carbono por meio de tecnologias avançadas, embora interessante, enfrenta grandes obstáculos, principalmente em termos de viabilidade econômica. “Esse trabalho que o Bill Gates está falando custa 450 dólares por tonelada. É um processo extremamente caro. Vamos ter que enterrar esse carbono, levar para uma mina, e sso é muito, muito caro”, explicou Cuthi Dias.

Em vez de investir em tecnologias caras, Cuthi Dias sugere que a humanidade deveria se voltar para as soluções que a própria natureza oferece. Ele ressalta que a recuperação de áreas degradadas e o manejo adequado do solo podem ser alternativas viáveis para o sequestro de carbono. “A natureza faz isso há milhões de anos. Ela reduziu significativamente o carbono na atmosfera, o que permitiu a criação de um clima agradável para o planeta. Precisamos ocupar áreas que foram destruídas, como na África, e recuperar essas regiões”, afirmou.

Ele também enfatiza a importância da agricultura regenerativa, que não apenas melhora a qualidade do solo, mas também contribui para o sequestro de carbono de forma significativa. “A nossa agricultura é extremamente regenerativa. A cada 1% de matéria orgânica que eu aumento no solo, coloco 10 toneladas de carbono no solo, o que equivale a 26 toneladas de CO2”, explicou.

Cuthi Dias argumenta que países com grandes áreas agricultáveis, como o Brasil, poderiam ser beneficiados por investimentos em práticas agrícolas sustentáveis em vez de depender de tecnologias caras para captura de carbono. “Se esses países que estão dispostos a fazer esses investimentos fantásticos tivessem bom senso, eles investiriam em nações como o Brasil, que têm áreas vastas de pastagem que podem ser usadas para sequestrar carbono de maneira ampla”, sugeriu.

Cuthi alerta para a necessidade de ações mais práticas e acessíveis, ao invés de depender de tecnologias que podem não ser viáveis a longo prazo. “Infelizmente, parte-se para processos extremamente caros, que eu acho muito pouco prováveis de serem factíveis do ponto de vista econômico”, concluiu.

Cuthi Dias defende que a verdadeira solução para a crise climática passa pelo uso inteligente da natureza e pela implementação de práticas agrícolas sustentáveis, ao invés de tecnologias caras que, no final, podem beneficiar poucos e manter o problema intacto. “Precisamos copiar a natureza, não criar soluções que apenas aumentam os custos sem resolver o problema”, finalizou

Veja a entrevista na íntegra

Fonte: agrolink

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