Exército de robôs: qual o limite para uso de IA nas forças armadas?


Recentemente, uma tecnologia de inteligência artificial criada pela China, a AlphaWar, passou no teste de Alan Turing — teste esse que valida o manuseio do aparelho. Consiste em uma pessoa ter um diálogo via texto com outra pessoa e um computador e ter que determinar com quem está falando.
Essa ferramenta é utilizada pelo Exército israelense, de acordo com uma investigação proposta pelas mídias +972 Magazine e Local Call. No texto, inclusive, funcionários das Forças Armadas de Israel revelam aos veículos de comunicação que a revisão dos alvos sugeridos pela tecnologia é “superficial”.
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, discursa durante reunião ministerial, onde cada ministro apresentou as ações de seus ministérios neste ano, no Palácio do Planalto, em Brasília, no dia 20 de dezembro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 08.03.2024

Redução de contingente

Segundo Francisco Novellino, capitão de mar e guerra reformado e mestre em ciências navais com especialidade em poder naval e ênfase em submarinos, política e estratégia de defesa, o que há por trás do movimento da inteligência artificial — seja no Brasil ou mundo afora — é “reduzir o contingente” militar.

“Reduzir o número de combatentes e automatizar os processos. Processos que hoje envolvem, mesmo sem muito risco de vida, […] avaliação humana”, pontua o militar em entrevista à Sputnik Brasil.

Esse movimento, conforme ressalta Novellino, reduziria o número de tripulações de navios e centros de comando, além de pessoal nas aeronaves.

“Em vez de ter, por exemplo, a necessidade de lançamento de um míssil [por um combatente], ou de uma aeronave tripulada, ou mesmo de um veículo […] de combate tripulado, um tanque armado, [com] um agente lá dentro, […] essas pessoas todas podem morrer no ar, na terra ou no mar. E cada vez que morre muita gente, é um custo político para o governante. Então o sonho dourado de qualquer governante é ganhar a guerra sem morrer gente“, sublinha.

Exército robótico

Todo brasileiro, quando criança, já deve ter ouvido falar na história do exército de robôs — o filme “Pequenos guerreiros”, por exemplo, é um bom caso para observar. Nele, o funcionamento “automático” dos brinquedos, simulando um exército autônomo, dá uma certa base para essa ideia.
O capitão de mar e guerra reformado pondera que não existe mágica na automatização de alguns trabalhos, podendo inclusive acarretar problemas futuros.

Existe um risco muito grande da máquina [errar]. A máquina não tem emoções, percepções, sentimentos. Ela [a máquina] vai tomar a decisão com base nas informações que ela tem“, frisa.

Tanque russo T-72B3 - Sputnik Brasil, 1920, 04.04.2024

Ele questiona: “Essa máquina foi ensinada corretamente?“. Afinal tecnologias não têm emoções.

“Ela recebeu as informações realmente necessárias, pertinentes? Outra coisa, se começar a morrer gente inocente, eles vão tirar as máquinas todas de repente, vão voltar a usar homens na guerra, homens e mulheres?“, indaga o profissional.

Um olhar estratégico

De acordo com o tenente-coronel Edwardo Coelho de Oliveira, mestre em ciências militares e membro do 7º Grupo de Artilharia de Campanha (GAC), de Olinda (PE), embora não haja conhecimento de um projeto específico de IA no Brasil, existem sistemas de monitoramento e vigilância em operação, como o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron) e o Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz), dedicados à segurança das fronteiras terrestres e marítimas, respectivamente.
Também em declarações à Sputnik Brasil, o militar afirma que o Sisfron e o SisGAAz são vitais para identificar potenciais ameaças por meio de sensores que monitoram atividades suspeitas nas fronteiras e na Amazônia Azul, plataforma continental brasileira.
O oficial destacou a importância da análise de alvos, um processo importado dos Estados Unidos com base no conceito D3A (adaptado pelo Brasil como Detecção, Discriminação, Decisão e Destruição). A inteligência artificial desempenha um papel crucial na identificação e análise de alvos inimigos, fornecendo informações vitais, como localização, tipo e ameaça potencial.

“Sobre a análise de alvos, o Brasil importa dos Estados Unidos a ideia de D3A. Começa com […] ‘Detecção’. Que a inteligência artificial seria conforme o uso da inteligência artificial israelense, ou seja, para identificação e análise de alvos. O que seria identificação? Seria saber de onde vem, onde está um alvo no campo de batalha, um alvo inimigo; qual o seu valor, ou seja, qual é o efetivo presente; qual o tipo de alvo, se é blindado, se é meio humano, se é uma antena, e por aí vai“, explica o militar.

Presidente da Argentina, Javier Milei, faz gestos enquanto entrega seu primeiro discurso político ao parlamento durante a inauguração da 142ª sessão ordinária do Congresso em Buenos Aires, em 1º de março de 2024. - Sputnik Brasil, 1920, 10.04.2024

Uso consciente

Quanto aos impactos da implementação da IA em forças armadas, o tenente-coronel Oliveira enfatizou a necessidade de um “uso controlado da tecnologia”. Ele acredita que, se bem gerenciada, a IA pode trazer benefícios significativos, mas alerta para os riscos de um possível descontrole.
Destaca também a questão da responsabilidade pela decisão de atacar um alvo, avaliando que “essa análise deve ser realizada no mais alto nível político e estratégico, considerando o fator humano e a necessidade de uma abordagem estatística combinada com o discernimento humano para tomar decisões cruciais em ambientes de guerra“.
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Fonte: sputniknewsbrasil

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