“A ausência de representantes da Rússia na reunião prova que essa não é uma reunião para alcançar a paz. Pelo contrário, é uma reunião que visa pressionar principalmente os atores do Sul Global para que mudem a sua postura, ou de neutralidade ou pró-Rússia, para a necessidade da OTAN.”
O que a OTAN defende?
Quem é Zelensky e qual sua ‘fórmula da paz’
“É uma paz de ficção, uma paz mentirosa. Ela não é séria, não pode ser levada em consideração como uma pauta séria para um diálogo de âmbito das relações internacionais. Não é sério, exigir a retirada total da Rússia [de territórios liberados]. Isso não vai acontecer nem em curto nem em médio prazo.”
“Quem está vencendo não vai receber ultimato. E olha que interessante, a Rússia poderia hoje estar se arvorando a dar um ultimato. E a Rússia a todo momento exige negociações. É algo até um tanto inusitado. A Rússia está ganhando a guerra, avança paulatinamente e mesmo assim exige negociar, exige paz, exige conversas sérias e pede para que atores independentes participem disso. Ou seja, a Rússia quer congregar para a paz e é barrada, e recebe do Zelensky um ultimato.”
“É óbvio que o Sul Global, já conhecendo as artimanhas imperialistas de Estados Unidos, Inglaterra e União Europeia, percebeu que o que está em campo na Ucrânia é muito mais do que a simples defesa da Rússia. É a defesa de ter o direito à integralidade do seu território. É o direito que você tem de não ter bases estrangeiras na sua fronteira maquinando 24 horas [por dia], conspirando 24 horas [por dia] quanto ao seu governo, quanto ao seu território, quanto à sua população, quanto ao seu modo de viver. Ou seja, é contra a hegemonia pura.”
Celso Amorim, governo Lula e a Rússia
“Você pode ver que Lula faz de tudo para se esquivar do Zelensky. As manobras do Zelensky contra o presidente Lula, agressões, xingamentos, tentativa de ridicularizar o presidente Lula, forçando situações que não são habituais, não são costumeiras, não são éticas no âmbito das relações internacionais, isso tudo fez com que o presidente Lula passasse a ver a guerra não só como um movimento bélico, mas como uma orquestração política que visava comprometer a Rússia, o BRICS e todo o Sul Global”, complementa.
“Só que passados quase dois anos, nós descobrimos que a palavra ‘vitória’ é impossível tanto para a Ucrânia quanto para a OTAN. Então Zelensky segue um padrão que foi imposto desde Washington, […] ele se tornou um cativo disso. Zelensky sofre com baixa popularidade em seu país, não é uma pessoa de articulação internacional, é uma pessoa fraca e vacilante e se tornou uma marionete de guerra. Então Zelensky não tem vontade [própria], ele vai cumprir a pauta que lhe for dada, desde Bruxelas, desde Londres, desde Washington. Infelizmente, Zelensky se tornou um fantoche.”
Ucrânia: muita retórica, pouco esforço
“A exclusão da Rússia é proposital, pois quando os governos russo e ucraniano conseguiram conversar face a face, ainda no começo do conflito, entre fevereiro e março de 2022, um acordo quase foi alcançado. Hoje todos sabem que quem impediu, e quem ainda impede a participação da Rússia nessas negociações para que um cessar-fogo seja alcançado, são os Estados Unidos e a União Europeia, que também são partes ativas neste conflito e que têm interesse na continuidade da guerra.”
China fora do Fórum Econômico Mundial
“O governo chinês fez uma importante proposta de 12 pontos no ano passado que recebeu apoio de muitos países, principalmente no antigo Terceiro Mundo, chamado hoje de Sul Global. No entanto, o governo ucraniano ignorou a mediação chinesa e insistiu em sua posição de ignorar os resultados do campo de batalha por pressões internas e externas, principalmente dos Estados Unidos. Os países do Sul Global sabem que as negociações de paz na Ucrânia são cruciais para estabilizar as cadeias de abastecimento da economia mundial que envolvem alimentos, insumos industriais e agrícolas e o mercado energético.”
“Esses países apoiam a presença da Rússia e reconhecem a importância de suas demandas, pois sabem que a paz apenas pode ser alcançada mediante a satisfação das necessidades de uma segurança coletiva de todos os Estados. Os países do Sul Global sabem que essa guerra é o resultado do desrespeito à ideia de uma segurança compartilhada a partir da manutenção e da expansão da OTAN em direção às fronteiras da Rússia no pós-Guerra Fria.”
“O esforço para atrair o Sul Global para as negociações por meio do Brasil, da África do Sul e da Arábia Saudita é também uma tentativa de ganhar protagonismo e força para pedir aos Estados Unidos e à OTAN mais recursos para guerra. Porém tanto os países do Sul Global quanto os membros do círculo G7 e OTAN sabem que a Ucrânia está derrotada militarmente, e que as manobras publicitárias e midiáticas de Zelensky são vazias e inúteis”, conclui o especialista.
Fonte: sputniknewsbrasil