Entre flores e patentes: conheça Henry Suzuki, uma figura peculiar no ecossistema de inovação


É sexta-feira, 19 de maio, dia de reunião de Comitê de Líderes da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), no escritório da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em São Paulo. Na pausa do café, Henry Suzuki exibe duas habilidades meio impressionantes: conversar sem perder o foco no assunto (habilidade 1) enquanto faz dobraduras intrincadas que, em coisa de segundos, se tornam uma flor de origami (habilidade 2). É quase impossível trocar uma ideia com ele sem sair com uma flor de presente. Também é difícil manter a conta de quantas pessoas o cumprimentam no entra e sai da sala de reuniões. Suzuki é uma figura peculiar no ecossitema de inovação brasileiro. 

Apesar de ser filho e neto de japoneses, ele aprendeu a fazer origamis em um aplicativo de celular. Sempre que se conecta a uma pessoa nova, ele entrega uma dobradura. Dizem que ganhar um desses significa receber bons presságios e desejo de vida longa. Para ele, é também uma chance de aprender a fazer algo novo e distribuir, assim como faz com o conhecimento. Ele estima que tenha distribuído 5 mil flores. 

Um país inovador é feito de investimento em educação e ciência, e de políticas públicas que atendam às demandas da indústria. Mas a inovação depende, essencialmente, de pessoas que dedicam a vida ao tema. Aos 51 anos, Suzuki é inventor e especialista em patentes. Entusiasta da área, há 20 anos deixou uma das maiores indústrias farmacêuticas do país para criar uma empresa de consultoria na área de patentes. Suzuki também oferece cursos gratuitos sobre o assunto.

“Para haver inovação no Brasil é preciso difundir a propriedade intelectual”, diz. Ao todo, mais de 15 mil pessoas já fizeram suas aulas. 

Parte importante do desenvolvimento de inovação são as patentes. Afinal, é esse instrumento legal que protege inventores e inventos, e é assim que a propriedade intelectual impulsiona o desenvolvimento tecnológico. Os serviços da Axonal, empresa de Suzuki, vão desde redação de patentes até elaboração, acompanhamento e reposicionamento de projetos de PD&I. Formado na Universidade de São Paulo (USP) em Farmácia, uma das áreas que mais depende de patentes, Suzuki se especializou em informações tecnológicas para difundir o tema. “O maior valor que temos em um país são as pessoas. É preciso compartilhar conhecimento porque sozinhos sabemos muito pouco”, acredita.  

Um dos cursos oferecidos por Suzuki é o Construção de Patentes Relevantes. “Quem lê o nome do curso já aprende que, sim, existem patentes irrelevantes”, afirma. Ele mesmo já entrou com pedido de nulidade administrativa de uma patente farmacêutica e conseguiu a alteração parcial desta.

“Na época, a Axonal era uma das poucas empresas de consultoria na área de propriedade intelectual que assessoravam indústrias farmacêuticas de produtos genéricos e similares. Assim, eu acabava estudando milhares de patentes todos os anos. Algumas com maior profundidade e essa foi uma delas”, conta. Nos últimos cinco anos, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) recebeu mais de 137 mil pedidos de patente e 98.147 foram concedidos. 

VÍDEO: O que os genéricos têm a ver com política indústrial? Chega mais!

Ele é coinventor das Clever Caps, tampinhas de garrafa que se encaixam tanto entre si quanto entre blocos de Lego. A ideia, segundo Suzuki, era dar uma nova utilidade para as tampinhas a fim de que não fossem descartadas. As Clever Caps têm patentes concedidas em países como Brasil, Estados Unidos e China, e ganharam o prêmio Designs of the Year, em Londres, em 2014. “Infelizmente, o produto não está no mercado devidamente. E isso mostra que não basta ter patente nem prêmio. Tem que ter negócio bom. E por isso também é primordial ter conexões e relacionamentos”.

Suzuki considera que a inovação ainda é pouco difundida no Brasil. Embora tenha avançado três posições no Índice Global de Inovação (IGI) de 2022, divulgado pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI, WIPO, na sigla em inglês), o Brasil ainda ocupa a 54ª posição no ranking.


“O Brasil deve ser mais inovador porque é um dos países mais desiguais do mundo. Deixar de ser desigual significa que estamos inovando em nossa sociedade, já que há tantas melhorias a serem feitas”, acredita.


Nos últimos anos, o Brasil tem estado entre os dez países mais desiguais do mundo, de acordo com o Banco Mundial, que divulga indicadores de desigualdade de renda.

Outra razão para o desconhecimento do assunto, segundo ele, é a forma como, muitas vezes, a inovação é difundida. “Existe uma figura estereotipada da pessoa inovadora. Muitas vezes divulgam como um Professor Pardal, mas a figura do inventor deveria ser a do Thomas Edison, por exemplo. Ou seja, alguém que também entende de negócios”, compara.  

Suzuki acredita também que o interesse e o conhecimento em inovação dependem do poder das referências que os estudantes têm ainda na escola. “Enquanto os professores não forem inventores e empreendedores, vamos continuar na teoria. Imagina professores que criaram empresas e negócios? Os alunos pensariam ‘é isso que eu quero’”. Ele destaca a ponte feita pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) entre ensino e mercado. “Muitos profissionais do SENAI vieram do mercado. Isso pesa muito”, garante.  

Conectar para inovar  

Para ele, outro aspecto impulsionaria ainda mais a inovação no país: a criação de consórcios de inovação. “Acredito em um modelo de multiempresas trabalhando por um interesse de desenvolvimento comum”, diz Suzuki, que também é titular da cadeira nº 2 da Academia Nacional de Farmácia (ANF). Ele também é participante ativo nas reuniões da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), da Confederação Nacional da Indústria (CNI)

A inovação também se faz da troca entre pessoas. Ao longo do tempo, Suzuki virou especialista nisso. Já aconteceram mais de 100 edições do Encontro de Colegas no Ecossistema de Inovação. Os eventos reúnem de duas a dezenas de pessoas físicas com um interesse em comum: a inovação. Não importa onde trabalham. Participam, por exemplo, acadêmicos, profissionais do público ou do privado e líderes de comunidade.  

O objetivo é juntar atores do ecossistema em um ambiente informal. Em 2022 aconteceram encontros em 50 cidades, até mesmo em cafés. Nessa trajetória, Suzuki já conheceu todos os estados brasileiros. “Nesses encontros vemos como tem gente boa por aí”, conta.

Fonte: portaldaindustria

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