Artigo: Brasil ameaça sua inflação se firmar moeda comum com Argentina


A notícia que tem tomado o noticiário recente sobre comércio internacional é a proposta do governo Lula para a criação de uma moeda comum para ser utilizada nas operações comerciais entre Brasil e Argentina. Pós-graduando em Relações Internacionais e agente público há 20 anos, não poderia me isentar de analisar o tema, que imediatamente vejo como prejudicial ao nosso País quando comparamos as diferenças das economias brasileira e argentina.

Certamente a consolidação de uma moeda comum, mesmo que digital, entre os dois países e possivelmente com a adesão de outras nações latino-americanas colocaria sob risco a inflação brasileira o que abre campo para temores sobre a elevação do custo de vida para a população brasileira. Isso se daria porque quando falamos de América Latina o Brasil é o país mais forte e certamente absorveria os efeitos da instabilidade argentina e também dos demais países.

Ainda é cedo demais para se garantir que haja segurança monetária para o Brasil no caso da criação da moeda. O que temos são propostas, mas não podemos arriscar um galope da inflação para cima e um tombo nas contas das famílias brasileiras.

A situação é bem diferente do que ocorreu na União Europeia, com a criação do euro, porque a formulação do euro levou pelo menos uma década até a moeda entrar em circulação em 2002. O que se discute entre Brasil e Argentina ainda é um embrião e se for consolidado às pressas demonstrará imaturidade diante de um tema que merece atenção e estudos aprofundados sobre seu impacto.

Considerando a realidade da Argentina, o Brasil não teria vantagens com a criação da moeda comum. Primeiro: a inflação da Argentina é maior que a brasileira e o país vizinho não tem já há tempos qualquer tipo de segurança institucional. Segundo, a Argentina é conhecida por declarar moratória, já fraudou dados inflacionários enviados ao FMI, tem juros altos e isso não abre o seu mercado para novos parceiros comerciais no mundo.

Importante ainda relembrar que a agência de classificação de riscos MSCI (antiga Morgan Stanley Capital International) incluiu, em julho de 2021, a Argentina em um grupo de países economicamente excêntricos e fechados em si mesmos e que são classificados como standalone, os chamados casos únicos. Neste grupo estão Líbano, Palestina, Botsuana, Bósnia, Trinidad-Tobago, Panamá, Jamaica, Bulgária, Malta e Ucrânia.

O governo brasileiro deveria lançar mão dessa proposta, que chega de forma muito incipiente e no momento em que a nossa população busca melhores condições de vida quando falamos em serviços públicos, emprego, moradia e dignidade.

Fonte: al.sp.gov

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