Apoio aos yanomami e Pacote da Democracia marcam 1º mês do governo


Após um mês no poder, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já avançou no cumprimento de promessas de campanha e em ações importantes em diversas áreas. Já no seu primeiro dia como presidente, em 1º de janeiro, Lula assinou 52 decretos e quatro medidas provisórias (MPs) e revogou atos do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Na ocasião, ele editou a MP que garantiu o pagamento de R$ 600 para beneficiários do Auxílio Brasil, que voltará a se chamar Bolsa Família. Resgatar 33 milhões de brasileiros da situação de fome e 100 milhões da pobreza é o principal compromisso assumido por Lula e um desafio para as políticas de desenvolvimento social.

O presidente também retirou oito empresas estatais do processo de desestatização, entre elas a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) e os Correios.

Outra promessa de campanha é a de restabelecer uma política de controle de armas mais severa que a de seu antecessor. Para isso, Lula assinou decreto que reduz a quantidade de armas e de munições de uso permitido, condicionando a autorização de porte à comprovação da necessidade. A medida também suspende os registros para aquisição e transferência de armas e munições de uso restrito por caçadores, atiradores e colecionadores (CACs) e a concessão de autorizações para abertura de novos clubes e escolas de tiro.

O Ministério da Justiça e Segurança Pública já está com um grupo de trabalho para tratar de nova regulamentação à Lei 10.826, que estabelece as normas para registro, posse e venda de armas de fogo e munição. O decreto ainda determina que a Polícia Federal (PF) recadastre, em 60 dias, todas as armas comercializadas a partir de maio de 2019.

Ainda no tema segurança, o Ministério da Justiça e Segurança Pública apresentou ao presidente Lula propostas para endurecer a legislação sobre crimes contra o Estado Democrático de Direito. A iniciativa é uma reação aos atos terroristas que ocorreram no dia 8 de janeiro, em Brasília, e foi apelidado de Pacote da Democracia. Entre as medidas, está a criação de uma Guarda Nacional e a criminalização de condutas na internet que configurem a prática desse tipo de crime, com a responsabilização de plataformas na internet que não derrubem publicações terroristas e antidemocráticas.

Nesse primeiro mês, Lula também já sancionou leis como aquela que torna o CPF único registro de identificação e a Política Nacional de Educação Digital. Uma sanção simbólica foi a da lei que equipara o crime de injúria racial ao de racismo, com a ampliação de penas. A medida foi aprovada em dezembro no Congresso e, segundo especialistas, corrige uma distorção, pois, na prática, a injúria era considerado um crime menos grave, apesar de a intenção das ações ser a mesma.

A injúria racial é a ofensa a alguém, um indivíduo, em razão da raça, cor, etnia ou origem. E o racismo é quando uma discriminação atinge toda uma coletividade ao colocar uma pessoa racializada em desvantagem, por exemplo, ao impedir que uma pessoa negra assuma uma função, emprego ou entre em um estabelecimento por causa da cor da pele.

Meio ambiente e socorro aos yanomami

O meio ambiente também foi alvo das primeiras medidas com o estabelecimento do Fundo Amazônia para combater os crimes ambientais. Financiado pelos governos da Noruega e Alemanha, o fundo tem, bloqueados, cerca de R$ 3,3 bilhões. O mecanismo de financiamento havia sido desativado no governo passado e, agora, deve voltar a receber investimentos dos países estrangeiros.

O governo também está reestruturando as políticas de combate ao desmatamento, como a criação da Comissão Interministerial Permanente de Prevenção e Controle do Desmatamento e restabelecimento do Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm). Criado em 2004, o PPCDAm foi o responsável pela queda no desmatamento nos anos posteriores até voltar a subir, a partir de 2018. O plano tem como eixos temáticos o ordenamento fundiário e territorial, o monitoramento e controle ambiental e o fomento às atividades produtivas sustentáveis.

De forma emergencial o Fundo Amazônia será utilizado em ações emergenciais de combate à crise humanitária vivida por indígenas yanomami em Roraima e que já levaram à morte 570 crianças por desnutrição e causas evitáveis, nos últimos quatro anos. A Terra Indígena (TI) Yanomami é a maior do país em extensão territorial e sofre com a invasão de garimpeiros. A contaminação da água pelo mercúrio utilizado no garimpo e o desmatamento ilegal impactam na segurança e disponibilidade de alimento nas comunidades.

Embora entidades indígenas e órgãos como o Ministério Público Federal (MPF) já denunciem a falta de assistência a essas comunidades há muito tempo, agora, o presidente Lula determinou o socorro urgente aos yanomami. No mesmo sentido, o governo está determinado a expulsar os garimpeiros da região. Para isso, entre outras ações, o Comando da Aeronáutica controlará o espaço aéreo do território Yanomami, e agentes da Polícia Federal e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) atuarão como polícia administrativa na interdição de aeronaves e de equipamentos de apoio a atividades ilícitas.

Saúde e valorização salarial

Na saúde, o presidente Lula sancionou o projeto de lei que reconheceu os agentes comunitários de saúde e os agentes de combate às endemias como profissionais de saúde. Com a mudança, esses trabalhadores passam a poder acumular cargos públicos, algo permitido apenas para profissionais de saúde e educação, além de terem asseguradas melhores condições de trabalho, como o recebimento de adicionais de insalubridade e outros benefícios.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sanciona lei que considerar os agentes de combate às endemias como profissionais de saúde,
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sanciona lei que considerar os agentes de combate às endemias como profissionais de saúde,

O presidente Lula durante cerimônia de sanção da lei que considera os agentes de combate às endemias como profissionais de saúde – Valter Campanato/Arquivo/Agência Brasil

Ainda, a comissão formada por governos federal, estaduais e municipais aprovou o Programa Nacional de Redução das Filas de Cirurgias Eletivas, Exames Complementares e Consultas Especializadas, no Sistema Único de Saúde (SUS). Serão investidos R$ 600 milhões, recursos garantidos na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição, com antecipação de R$ 200 milhões já em fevereiro para cirurgias. A complementação dos recursos será feita de acordo com a apresentação de um plano e do desempenho dos estados na realização dos procedimentos.

Durante esse primeiro mês de governo, o presidente Lula também iniciou as discussões para o restabelecimento de uma Política de Valorização do Salário Mínimo, que trará uma fórmula de cálculo permanente para o piso nacional. Para ele, para garantir justiça social, o salário mínimo precisa subir de acordo com o crescimento da economia, em equivalência ao aumento do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país).

Atualmente, o salário mínimo está em R$ 1.302, conforme medida provisória editada em meados de dezembro pelo governo anterior. Esse valor considera apenas a variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) acrescido de ganho real de aproximadamente 1,4%. Segundo o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em dezembro de 2022, o salário mínimo necessário para satisfazer as necessidades básicas (alimentação, moradia, vestuário, educação, higiene, transporte, lazer e previdência) de uma família com quatro pessoas deveria ser de R$ 6.647,63.

Retomada do diálogo

O Brasil também retomou o diálogo internacional, que ficou estremecido com muitos países durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro. A primeira viagem do presidente Lula ao exterior foi para Argentina, onde se reuniu com o presidente do país, Alberto Fernándes, para restabelecer as relações entre os dois países, e participou da cúpula de líderes da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), além de outros compromissos e encontros bilaterais com lideranças.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sanciona lei que considerar os agentes de combate às endemias como profissionais de saúde,
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva durante reunião com o Presidente da República Argentina, Alberto Fernández

Presidente Lula se reúne com o presidente da Argentina, Alberto Fernández, em Buenos Aires – Ricardo Stuckert/Arquivo/PR

Na sequência, ele esteve no Uruguai para tratar do fortalecimento do Mercosul, um dos desafios internacionais do novo governo. Em reunião com o presidente do país, Luis Lacalle Pou, ficou acertada a criação de uma equipe técnica para discutir a adoção de um acordo de livre comércio entre a China e o bloco econômico que engloba Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, além de países associados. Atualmente, o Uruguai está em tratativas para um acordo comercial independente com o país asiático.

Além dos 18 chefes de Estado vieram a Brasília para a cerimônia de posse do presidente Lula, o primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz, esteve na capital federal esta semana e festejou a retomada do diálogo multilateral do Brasil. Lula também já recebeu telefonemas diretos dos presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, e da França, Emmanuel Macron.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sanciona lei que considerar os agentes de combate às endemias como profissionais de saúde,
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reúne com os governadores dos 26 estados e do Distrito Federal

Presidente Lula se reúne com governadores – José Cruz/Arquivo/Agência Brasil

Da mesma forma, o presidente abriu as portas do Palácio do Planalto aos gestores estaduais e municipais. Nesse primeiro mês, ele realizou a primeira ampliada com os 27 governadores do país, quando decidiram pela criação de um conselho de diálogo federativo, batizado de Conselho da Federação, e de um plano de investimento de obras comuns. Entre outras ações, o governo quer lançar um movimento nacional pela vacinação, e Lula pediu o apoio dos governadores na realização de campanhas públicas e na mobilização popular para que o Brasil volte a alcançar bons índices de imunização.

Edição: Juliana Andrade

Fonte: sp.leg

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