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Em seu último discurso na 17ª Cúpula do BRICS, realizada no Rio de Janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira que o negacionismo e o unilateralismo estão “corroendo os avanços do passado e sabotando nosso futuro”. As declarações foram feitas na abertura de uma plenária focada em mudanças climáticas e acesso à saúde global, duas das principais bandeiras da presidência brasileira do grupo.
Na sessão plenária “Meio Ambiente, COP30 e Saúde Global”, Lula abordou temas como transição energética e crescimento econômico. Em quase nove minutos de fala, o mandatário reforçou que os países do chamado Sul Global têm “condições de liderar novo paradigma de desenvolvimento, sem repetir os erros do passado” e que não serão “simples fornecedores de matérias-primas”.
Defesa da OMS e Crítica à Injustiça Climática
O presidente brasileiro também fez uma defesa “urgente” do protagonismo da Organização Mundial da Saúde (OMS), classificando-a como “foro legítimo para o enfrentamento às pandemias e na defesa da saúde dos povos”. Lula ressaltou que, “apesar de ser um direito humano, bem público e motor de desenvolvimento, a saúde global também é profundamente afetada pela pobreza e pelo unilateralismo”.
Lembrando as convenções da ONU sobre desenvolvimento sustentável de 1992, Lula afirmou que “membros do BRICS não deixaram de fazer sua parte”, “mesmo sem o passivo histórico dos países desenvolvidos”. Ele lamentou como o negacionismo e o unilateralismo têm comprometido “avanços do passado” e perspectivas de futuro, especialmente em relação ao meio ambiente e aos acordos para vacinas e medicamentos para nações mais vulneráveis.
O presidente destacou a urgência climática: “O aquecimento global ocorre em ritmo mais acelerado do que o previsto. As florestas tropicais estão sendo empurradas para seu ponto de não retorno”. E completou: “Uma década após o Acordo de Paris, faltam recursos para a transição justa e planejada, essencial para a construção de um novo ciclo de prosperidade. Os países em desenvolvimento serão os mais impactados por perdas e danos. São também os que menos dispõem de meios para arcar com mitigação e adaptação. Justiça climática é apostar em ações comprometidas com o combate à fome e às desigualdades socioambientais”.
Cadeias de Valor e Financiamento Climático
Lula defendeu a proteção de territórios, a criação de oportunidades para comunidades locais e povos indígenas, a geração de empregos decentes, a igualdade de gênero e o fim do racismo “em todas as suas esferas” como compromissos “imperativos”. Ele enfatizou a necessidade de “alinhar ações para evitar ultrapassar 1,5 graus de aumento da temperatura do planeta”, o que exigirá “triplicar energias renováveis e duplicar a eficiência energética”. Além disso, é “inadiável promover a transição justa e planejada para o fim do uso de combustíveis fósseis e para zerar o desmatamento”.
O presidente expressou a crença de que os países do Sul Global podem liderar um “novo paradigma de desenvolvimento”, mas que para isso é preciso ter acesso a incentivos e recursos tecnológicos. “Precisamos acessar e desenvolver tecnologias que permitam participar de todas as etapas das cadeias de valor. 80% das emissões de carbono são produzidas por menos de 60 empresas. A maioria atua nos setores de petróleo, gás e cimento. Os incentivos dados pelo mercado vão na contramão da sustentabilidade”, pontuou.
Lula ainda defendeu “taxonomias sustentáveis e unidades de contagem de carbono justas e inclusivas” para atrair investimentos. Ele citou a “Declaração-Quadro sobre Finanças Climáticas do BRICS”, adotada hoje, como um caminho para “fontes necessárias e modelos alternativos para o financiamento climático”, e mencionou o “Fundo Florestas Tropicais para Sempre”, a ser lançado na COP30, para remunerar serviços ecossistêmicos.
Saúde Global e Desigualdades Sistêmicas
Ao abordar a saúde, Lula defendeu a revalorização da OMS e citou o recente Acordo de Pandemias como um passo nessa direção. “O BRICS está apostando na ciência e na transferência de tecnologias para colocar a vida em primeiro lugar. No Brasil e no mundo, a renda, a escolaridade, o gênero, a raça e o local de nascimento determinam quem adoece e quem morre”, comentou.
O presidente lamentou que várias doenças que “matam milhares em nossos países, como o mal de Chagas e a cólera, já teriam sido erradicadas se atingissem o norte global”. Ele reiterou que “não há direito à saúde sem investimento em saneamento básico, alimentação adequada, educação de qualidade, moradia digna, trabalho e renda”.
Lula finalizou o discurso mencionando a “Parceria pela Eliminação de Doenças Socialmente Determinadas”, que será lançada hoje no encerramento da cúpula, como uma proposta para “superar desigualdades sistêmicas com ações voltadas para infraestrutura física e digital e para o fortalecimento de capacidades”. Concluindo, o presidente brasileiro afirmou: “Estamos liderando pelo exemplo. Cooperando e agindo com solidariedade em vez de indiferença. Colocando a dignidade humana no centro de nossas decisões”.
Fonte: gazetabrasil