A Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH, na sigla em inglês) foi criada pelo Conselho de Segurança da ONU em 2004 para restaurar a ordem no Haiti, e teve um dos seus braços militares comandado pelo Exército Brasileiro por 13 anos.
A missão teve fim em 2017, entretanto, uma nova etapa de desestabilização com a explosão de violência e uma disputa pelo poder foi aberta. Desde o início deste ano, mais de 2,4 mil haitianos morreram por conta da violência no país, relata a coluna de Jamil Chade no UOL.
Nos últimos dias, a ONU vem insistindo sobre a necessidade urgente de uma operação que possa novamente estabelecer a paz no país, com o governo brasileiro sendo consultado, tanto pelas Nações Unidas quanto pelo governo dos Estados Unidos, sobre envio de tropas nacionais. Brasília, porém, considerou que o clima no país não era adequado para tal engajamento, relata o colunista.
© AP Photo / Dieu Nalio Chery Soldados da paz da ONU do Brasil com crianças enquanto patrulham a favela Cite Soleil, em Porto Príncipe, Haiti., 22 de fevereiro de 2017
Soldados da paz da ONU do Brasil com crianças enquanto patrulham a favela Cite Soleil, em Porto Príncipe, Haiti., 22 de fevereiro de 2017
© AP Photo / Dieu Nalio Chery
Ainda segundo a mídia, o governo Lula aponta que o mal-estar entre uma parte dos generais das Forças Armadas e o Executivo brasilerio influencia na recusa em negociar.
Esse imbrólio, que já era notado desde os primeiros dias da gestão Lula, ganhou uma dimensão ainda maior após as revelações sobre a delação do tenente-coronel, Mauro Cid, que teria indicado como o ex-presidente, Jair Bolsonaro, debateu a possibilidade de um golpe com a cúpula das Forças Armadas.
Visto isso, a gestão Lula acredita que “não há ambiente” para o envio de tropas, principalmente porque muitos dos comandantes brasileiros, que lideraram a operação no Haiti, acabaram tendo um papel importante no governo Bolsonaro.
Augusto Heleno, Fernando Azevedo e Silva, Tarcísio de Freitas e Carlos Alberto dos Santos Cruz fizeram parte das tropas enviadas pelo Brasil ao país e, nos últimos anos, ocuparam importantes cargos na administração anterior.
Além da ressalva com os militares, o governo brasileiro analisou que enviar uma nova missão sem foco no desenvolvimento do país caribenho não faz sentido, uma vez que em pouco tempo a crise voltará.
Com a resistência brasileira, a ONU se voltou para o Canadá. Segundo o colunista, o plano foi estudado, mas o governo canadense concluiu que o envio de tropas era “arriscado” e também acabou desistindo.
Na semana passada o governo do Quênia se ofereceu para liderar a força internacional e o envio de mil homens. Jamaica, Bahamas e Antígua e Barbuda também indicaram que podem contribuir, diz a mídia.
Para que a operação ocorra, uma resolução deverá ser apresentada ao Conselho de Segurança da ONU, órgão que será presidido a partir de outubro pelo Brasil. O texto será proposto pelos governos dos EUA e do Equador, e a esperança é de que haja um amplo apoio.
Washington também já anunciou que não enviará soldados, mas ofereceu apoio médico, de transporte e de inteligência à equipe internacional e possivelmente o envio de US$ 100 milhões (R$ 501 milhões) para apoiar a missão. Orçamento bem baixo quando comparado aos enviados para Ucrânia.
Entretanto, no Palácio do Planalto, não se descarta que, em uma eventual aprovação da resolução, o Brasil contribua com apoio logístico e de inteligência. De acordo com cinco embaixadores brasileiros ouvidos pela BBC, o governo brasileiro está decidido a fornecer treinamento à Polícia Nacional do Haiti (PNH).
“Há, de fato, o comprometimento do governo brasileiro como um todo em apoiar a capacitação das forças de segurança do Haiti. É uma iniciativa que vem sendo coordenada pelo Ministério de Relações Exteriores em conjunto com a Agência Brasileira de Cooperação e com a Polícia Federal”, afirmou à mídia o delegado Valdecy Urquiza, diretor de Cooperação Internacional da Polícia Federal.
Discutida há meses em Brasília, a disposição teria sido comunicada ao primeiro-ministro do Haiti, Ariel Henry, pelo próprio presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, durante uma conversa entre os dois líderes no dia 22 de junho em Paris, segundo fontes ouvidas pela agência britânica.
Nas próximas semanas, uma equipe da Academia Nacional da Polícia Federal irá a Porto Príncipe para concluir um diagnóstico sobre as principais necessidades das forças policiais do país.
Em vez de enviar tropas, Urquiza disse que o Brasil quer ver reduções da criminalidade local operada pelo policiamento haitiano com treinamento brasileiro, acrescentando que a participação das Forças Armadas brasileiras na nova atuação está realmente descartada.
Fonte: sputniknewsbrasil