Crise de energia na Europa atinge uso de fertilizantes


Legenda: O aumento dos preços do gás, um insumo essencial, já reduziu 25% da capacidade de fertilizantes nitrogenados da Europa (Imagem: REUTERS/Pascal Rossignol)

uso de fertilizantes(Imagem REUTERS Pascal Rossignol)

A crise de energia que afeta a produção de fertilizantes da Europa ameaça forçar agricultores ao redor do mundo a usar ainda menos nutrientes cruciais para o cultivo de alimentos.

O aumento dos preços do gás, um insumo essencial, já reduziu 25% da capacidade de fertilizantes nitrogenados da Europa, estima o CRU Group. Agora, aumenta a expectativa de piora da crise.

Para a Europa, isso pode significar produção ainda menor e mais dependência das importações de amônia, da qual são feitos os produtos nitrogenados.

Isso também terá impacto indireto em outros segmentos. Diante de preços mais altos e oferta mais apertada, agricultores podem reduzir o uso global de fertilizantes em até 7% na próxima temporada, a maior queda desde 2008, alerta a Associação Internacional de Fertilizantes (IFA).

Como consequência, também há o risco de colheitas menores em meio ao aumento do custo de vida e agravamento da fome.

“Se agricultores europeus importarem mais produtos de outros exportadores, então para mercados agrícolas mais frágeis da África subsaariana, sul da Ásia e partes da América Latina, isso tornará o mercado global apertado”, disse Laura Cross, diretora de inteligência de mercado da IFA.

A maior queda no uso de fertilizantes na próxima temporada deve ser vista na África Subsaariana, com um declínio de até 23%, segundo a IFA.

Depois do alívio nos meses anteriores, os preços dos fertilizantes começaram a subir novamente, puxados pelo rali do gás por conta da redução da oferta da Rússia e das ondas de calor na Europa que elevaram a demanda.

Fabricantes de fertilizantes europeus foram os mais atingidos pelos altos preços do gás.

O setor global também enfrentou sanções dos EUA e da União Europeia sobre as vendas de potássio da Bielorrússia e a decisão da China de limitar os embarques.

Além disso, o comércio de nutrientes russos sofreu com autossanções impostas por muitos transportadores, bancos e seguradoras e dificuldades em atender as exportações russas.

Atualmente, é muito mais barato importar do que produzir amônia na Europa, de acordo com o CRU.

“Não vejo como alguém continua a produzir na Europa, fora aqueles que fizeram hedge” dos custos do gás, disse Chris Lawson, chefe de fertilizantes do CRU. “Prevemos que os preços da amônia continuem a subir.”

A Europa – que produz cerca de 20 milhões de toneladas de amônia anualmente – precisa importar outras 200 mil toneladas por mês para amenizar a crise, de acordo com Lawson. Algum alívio pode vir de embarques da região do Mar Negro nos próximos meses, disse.

Com o aumento dos preços do gás desde junho, “redução e paralisações estão acontecendo novamente”, disse Lukas Pasterski, porta-voz da Fertilizers Europe. “Em princípio, isso levaria a maiores importações, mas muito depende da disponibilidade e do preço dos fertilizantes no mercado global.”

Por enquanto, o mercado de nitrogênio vai permanecer muito apertado, disse na semana passada Bert Frost, vice-presidente sênior de vendas da CF Industries Holdings, uma grande produtora. Com a oferta limitada, deve haver alguma escassez de alimentos no final deste ano e em 2023, prevê.

A crise paralisou ou cortou a produção em 10 das fábricas de fertilizantes da Europa apenas em julho, e as coisas podem piorar daqui em diante.

Segundo o CRU, o nível de capacidade de nitrogênio da região que foi reduzido – atualmente pelo menos 25% – provavelmente aumentará.

Os fabricantes de fertilizantes Yara International, K+S, Borealis e Fertiglobe também alertaram recentemente sobre novas restrições de produção em toda a Europa (Bloomberg, 17/8/22)

Anteriores Alimento sobe menos, mas retorno ao patamar de um ano atrás está distante
Próxima Bolsonaro: servidores públicos terão reajuste em 2023, não definimos porcentual