Teste de 1993: Chevrolet Suprema já foi a perua mais luxuosa do Brasil


Não demorou muito para que a General Motors lançasse outra grande novidade no mercado brasileiro. Passados exatamente oito meses da introdução do Omega, chega a Suprema, uma station wagon, ou perua, de porte médio-grande, com ímpeto e disposição para liderar o segmento.

Ela existirá apenas em modelo de quatro portas, como no seu país de origem, e incorpora todas as características do Omega, o sedã, mais uma: o exclusivo sistema de nivelamento automático da suspensão traseira. Continua, também, a disponibilidade de somente duas versões, GLS e CD, com motores quatro cilindros de 2 litros e seis cilindros de 3 litros, respectivamente.

Há, todavia, outra grande novidade. A partir de agora é possível adquirir um Omega a álcool, seja o sedã ou a Suprema. A GM, que havia sido pioneira na produção de um motor a álcool com injeção de combustível – monoponto, nos Monza, ainda em 1991 –, inova agora com a versão a álcool dotada de injeção multiponto Bosch Motronic. É o conhecido motor OHC 2.0 usado em toda linha (exceto Chevette), que salta de 116 para nada menos que 130 cv, sendo o motor aspirado de quatro cilindros, com duas válvulas por cilindro, mais potente do mundo.

A Suprema deverá ter preço 10% maior que o sedã, o que a leva a cerca de US$ 33.000 para a GLS e a US$ 55.000 para a CD, ambas nos valores iniciais dessas versões.

O que mais chama a atenção é o seu porte, com 4,76 metros de comprimento, em pacote de estilo contemporâneo e bem agradável à vista, mesmo com a traseira bem reta, estilo Volvo. Os vidros rentes à carroçaria dão-lhe um ar moderno e são responsáveis pelo mais baixo coeficiente de forma (Cx) já visto numa perua no Brasil: apenas 0,32. Os vidros das portas correm em trilhos externos, tal qual no Omega.

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Como é normal em veículos desse tipo, a Suprema vem com bagageiro de teto longitudinal fabricado em alumínio de cor preta (anodizado) e traz, pela primeira vez numa perua, antena de teto na extremidade traseira com amplificador de sinal, que aumenta bastante a receptividade.

Por herdar toda a mecânica do Omega, a Suprema passa a ser a primeira e única perua nacional com motor dianteiro, tração traseira e suspensão independente nas quatro rodas. Para o nosso chão nada mais indicado, já que a tração do veículo em situações difíceis, como subidas com piso escorregadio, só perde para os veículos de tração integral. Quem está acostumado com peruas de tração dianteira sentirá a aptidão da nova station wagon para trafegar por estradas ruins, em particular nos aclives.

Outra herança é o sistema de freio a disco nas quatro rodas e ABS de série, no caso da versão CD testada. Ao contrário dos veículos com “tudo à frente” (motor e tração), apresenta distribuição de peso uniforme entre os eixos (52%-48% dianteiro-traseiro, vazia), o que pede freios traseiros bem eficientes, justificando plenamente o uso de discos também atrás.

Em movimento ela exibe todas as características do Omega. O motor 3 litros de 165 cv, somente em versão a gasolina, acoplado à caixa manual de cinco marchas, movimenta o veículo sem esforço aparente, “limpando” o tráfego à frente com facilidade. Para ir de zero a 100 km/h foram 9,58 segundos, resultado excepcional para uma station wagon nacional luxuosa; os 1.000 metros foram alcançados, da imobilidade, em 31,5 s.

Retomadas na mesma marcha, porém, mostram que convém usar o câmbio. De 80 a 120 km/h, em quinta, foram precisos 17,64 s. Comparando-se a retomada de 40 a 120 km/h, em quinta, com outra usando-se as demais marchas, por exemplo, foram gastos 35,02 e 12,75 segundos, respectivamente. Isto se explica pelo torque máximo do motor ocorrer em rotação elevada (4.200 rpm), pelo maior peso da Suprema em relação ao Omega (45 kg a mais, nesta versão) e pela maior área frontal, esta conjugada com coeficiente aerodinâmico mais alto, comparando-se a Suprema com o Omega.

A velocidade máxima da nova perua impressiona: alcançou 201,7 km/h, apesar de longe dos 210 km/h declarados pela fábrica. O motor não chegou a atingir as 5.800 rpm de potência máxima, ficando 200 rpm abaixo. De qualquer maneira, poder superar a barreira dos 200 km/h é um dote inédito para uma station wagon brasileira, mesmo que não se possa usufruí-lo.

Nessa velocidade, inclusive, apresenta perfeita estabilidade direcional, podendo-se mantê-la por horas, se preciso — afinal, o projeto da Suprema (Opel Caravan) vem do país das autoestradas sem limite de velocidade, nas quais existe apenas recomendação de 130 km/h.

Os freios parecem ter sido feitos exatamente para essas situações, pois permitem que se pare a Suprema em espaços curtos, com tranquilidade. De 80 a zero km/h foram apenas 27,4 metros, tarefa facilitada pelo sistema antibloqueio (ABS). De 100 a zero km/h, 42,9 metros. Em descidas de serra, abusando dos freios, não se verifica aquecimento excessivo do sistema, evidenciando a boa dissipação de calor do conjunto.

Um fator de tranquilidade e segurança é a estabilidade da nova station wagon GM. A suspensão incorpora os conceitos já usados no sedã, permitindo um dirigir relaxado, sem sustos. No limite, entrando forte nas curvas, a traseira fica quieta no lugar e não se percebem saídas de frente exageradas. Mesmo silenciosa, a suspensão permite boa identificação do solo sob os pneus, o mesmo ocorrendo com a direção assistida bem direta, com relação baixa (14,7).

A definição de molas e amortecedores (pressurizados) está mais para Europa do que para Estados Unidos, podendo, a princípio, levar o motorista a acreditar que o carro é mais duro do que deveria. Mas, de fato, está na medida exata. No teste de aceleração lateral a Suprema atingiu 0,83 g, confirmando a impressão colhida na estrada e chegando mesmo a superar o sedã seis cilindros, que chegou a 0,81 g

O consumo da Suprema CD não é seu ponto forte, mas por outro lado é coerente com o porte do veículo e com a cilindrada do motor. Na cidade fez 7,1 km/l e na estrada quase 10 km/l, exatos 9,8 km/l. A 100 km/h constantes a marca melhora para 10,1 km/l. Portanto, o tanque de 70 litros permite que se rode pelo menos 600 quilômetros em viagem.

Como se esse rol de boas características não bastasse, a Suprema CD vem com o exclusivo sistema de auto nivelamento da traseira. Quando é carregada, um sensor ótico (selado) de altura, localizado sob o carro e próximo à suspensão traseira do lado direito, determina o funcionamento de um eletro-compressor. Este irá aumentar a pressão de ar nas bolsas existentes em cada amortecedor traseiro, que mantêm um mínimo de 0,8 bar. Com isso, a suspensão endurece – na realidade são molas a ar adicionais – e o carro volta ao nível inicial.

Quando a carga é retirada (e a traseira sobe), é a vez de uma válvula se abrir para o sistema voltar à pressão mínima, trazendo o veículo para sua altura padrão na traseira. Tudo de modo automático e sem a possibilidade de interferência do motorista, além de ser independente do funcionamento do motor, como em certas suspensões hidropneumáticas, que quando o motor para de funcionar o carro abaixa, e vice-versa.

O sistema é simples (o princípio é o mesmo do usado nos Kadett, só que não requerendo enchimento manual, em calibrador de posto) e inclui um temporizador que retarda em 20 segundos o funcionamento do sistema, para que as oscilações normais da suspensão não sejam confundidas com variação de carga pelo sensor de altura.

O que se pode imaginar (ou quase) em termos de segurança, conforto e conveniência existe na Omega Suprema. Levantadores elétricos de vidros com proteção antiesmagamento (param e voltam, se encontrada uma resistência qualquer) e teclas de um toque para subida e descida se fazem presentes.

Também há cintos de três pontos retráteis para quatro ocupantes com altura ajustável, sistema de destravamento automático de portas em caso de batida forte ou capotagem, faróis de longo alcance incorporados aos principais, faróis de neblina de alta tecnologia (com refletores de superfície complexa), luz traseira de nevoeiro e fechamento de janelas e ativação do alarme pela chave da porta.

Teste de 1990: Chevrolet Kadett automático tinha muito status e conforto

Outros são o excelente computador de bordo e checagem automática de vários sistemas (check control), o ajuste de faróis a bordo e até a possibilidade de manter o porta-luvas refrigerado ou aquecido. O carro testado tinha o tocador de CD opcional com amplificador de 200 watts, um sistema de áudio de primeiro mundo.

E até uma novidade, no Brasil: a rede divisória opcional localizada entre o habitáculo e o compartimento de carga (enorme, com volume de 540 litros, método de medição VDA), um item de muita segurança e extrema conveniência, como quando se leva animais no veículo e se quer ter a certeza de que não pularão para os bancos.

Tudo isso e mais o cuidado com ruído, vibração e aspereza, como o que se tem visto ultimamente nos carros importados, deixam a Suprema na categoria daqueles muito desejados.

Mas, como nada é perfeito, três detalhes bem que poderiam ser incorporados à Suprema: o fechamento de vidros pela chave, incluindo o do teto solar (que é elétrico), um interruptor para o travamento de portas central localizado no painel (como no Tempra Ouro) e o espelho retrovisor interno fotocrômico, já existente como opcional no Monza.

Mas, ainda assim, a Suprema parece que será imbatível no Brasil, pelo menos por um bom tempo.

Publicado originalmente na edição 335, de abril de 1993

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Fonte: direitonews

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