Nos próximos anos, a maioria dos rótulos de alimentos, além de ingredientes e informações nutricionais, pode estampar a pegada de carbono do produto na embalagem, ou seja, o volume de emissões de gases de efeito estufa associadas àquele item.
A transparência climática é uma das grandes tendências no setor de alimentos, como aponta o relatório Future of Food, do centro internacional de pesquisa Backslash. “Os rótulos do futuro se importarão com o clima tanto quanto com as calorias”, diz o estudo.
Embora ainda esteja longe de ser um padrão – somente a Dinamarca está atualmente trabalhando em um rótulo climático controlado pelo governo –, cada vez mais marcas vêm aderindo voluntariamente à proposta mundo afora, inclusive no Brasil.
Mostra sua pegada
Por aqui, quem abriu caminho para a rotulagem climática foi a marca de leite de aveia Nude. A fim de aperfeiçoar processos, a empresa calculou todo o impacto gerado em sua produção – do plantio da aveia ao supermercado –, e resolveu colocar o resultado na embalagem (uma etique em formato de nuvenzinha na caixa de cada produto informa a pegada de carbono).
A partir da iniciativa, a empresa lançou o movimento #MostraSuaPegada, em que convida outras marcas a fazerem o mesmo: calcular as emissões e comunicar o impacto climático de pelo menos um de seus produtos e serviços.
Quase 30 marcas, de diferentes segmentos, já se engajaram e estão nessa corrente por informações mais transparentes. Movida, Natura, Reserva e Hering são algumas delas.
“Assim, com números reais, podemos afirmar se a pegada do que cada um veste, anda, voa, ensaboa, compra, cozinha, trabalha, toma ou engole nutre ou desnutre o corpo da Terra”, disse a Natura.
A Nude, marca de leite de aveia, encabeça um movimento pela transparência climática no Brasil. A pegada de carbono dos seus produtos aparece já na frente da embalagem
Os objetivos, segundo a Nude, além de mobilizar toda a indústria nesse sentido, são destacar as marcas que se importam com as questões climáticas e conscientizar o consumidor sobre o impacto ambiental dos produtos que ele escolhe levar para casa.
“Somos uma empresa plant based, a alimentação é nosso fio condutor na mitigação das mudanças climáticas. Acreditamos que a transição para uma sociedade de baixo carbono é uma forma de prosperar sem matar o planeta em que vivemos”, declara a empresa.
Para além do carbono
Mas será que esses rótulos fazem diferença realmente? O relatório da Backslash afirma que tudo indica que sim.
Conforme o estudo, mais de dois terços dos consumidores acham a rotulagem climática uma boa ideia e concordam que ela impulsiona as compras de alimentos com baixo teor de carbono. E acima de 60% mudariam para marcas que divulgam mais do que apenas ingredientes e informação nutricional.
Porém, para que haja um real progresso, será preciso estabelecer um sistema obrigatório e padronizado, em que o consumidor realmente possa comparar, ressalta o Future of Food. Porque até agora as iniciativas de transparência são individuais e cada empresa tem seu método de cálculo.
Apesar de boa parte do foco hoje ser os gases de efeito estufa, vale salientar que essa é só uma parte de uma questão bem mais complexa. Ampliando o horizonte, a expectativa é que futuramente os rótulos tragam informações socioambientais mais abrangentes, incluindo toda a cadeia de abastecimento.
Por mais distante que pareça, isso já está começando a se desenrolar. Na França e na Bélgica, por exemplo, empresas estão trabalhando em uma pontuação ecológica para inserir nas embalagens, sob a supervisão de uma agência pública, considerando todo o ciclo de vida do produto. O eco-score vai de A (bom) a E (não muito bom).
Para fundamentar as classificações, startups como a francesa Carbon Maps vêm desenvolvendo modernas plataformas para que a indústria alimentícia acompanhe com precisão o impacto de cada um de seus produtos, desde a matéria-prima.
Com novas ferramentas sendo lançadas e movimentos pela transparência pipocando pelo mundo, não é difícil imaginar, nos próximos anos, rótulos exibindo um QR Code cujo link leva a detalhes que vão muito além da pegada de carbono, como questões sociais, éticas e trabalhistas.
Fonte: exame