As relações de trabalho estão atreladas às diferentes vivências da humanidade. A data do dia 1º de maio, destinada em muitos países que marca a luta do trabalhador, remonta um desses cenários. Neste dia, em 1886, nos Estado Unidos, a classe operária protestava pela redução das mais de oitos horas de jornada de trabalho e demais condições. O ato ficou conhecido como a Revolta de Haymarket.
No Brasil, a data ganha notoriedade com o decreto do presidente Artur Bernardes, em 1925, e assume destaque no governo do presidente Getúlio Vargas, trazendo também outros ganhos como o Salário Mínimo, a criação da Justiça própria e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em 1943.
O mundo do trabalho segue em constante transformação, conforme explica a professora do Departamento de Sociologia e Ciência Política da UFMT, Patrícia Félix. “Esse processo põe em evidência a necessidade de problematizar os trabalhos emergentes, a condição do(a) trabalhador(a) e a própria definição do que é trabalho”, disse a professora.
A professora analisa as relações de trabalho pela perspectiva teórico-metodológica do “Trabalho não clássico” desenvolvida pelo sociólogo mexicano Enrique de de la Garza. “Para ele o trabalho se refere a todas as atividades que têm a finalidade de produzir bens e serviços, não limitados ao mercado, para atender às necessidades humanas, num processo que articula estruturas, subjetividades e ações”, destacou a docente Patrícia Félix.
Ela complementa que o mundo laboral, cujo fluxo tem sido marcado por constantes precarizações, ainda ocupa uma centralidade nas relações sociais como um ingrediente imprescindível à formação identitária. “Basta que se reflita objetivamente a respeito do tempo dedicado ao trabalho, em diferentes partes do mundo, incluindo toda a preparação para ele, como os deslocamentos nos trânsitos das grandes cidades”, disse.
Necessidade, identidades e relacionamentos
Para a coordenadora do curso de Psicologia da UFMT e coordenadora de estágios em Psicologia do Trabalho, Maria Aparecida Campos, o trabalho assume grande importância na vida do sujeito, para além das questões econômicas. “O trabalho implica também as dimensões social e subjetiva. Essa visão precisa prevalecer a fim de que os sujeitos possam ter trabalhos carregados de sentido e que favoreçam sua saúde”, ressalta.
Nesse sentido, Patrícia Félix reforça que a forma de perceber o mundo e a si mesmo tem sido marcada pela inserção no trabalho, “sobretudo pelas possibilidades e limitações advindas deste, a exemplo de seu rendimento, que, no geral, tem sido ínfimo para a quase totalidade da classe trabalhadora”.
Trazendo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), Patrícia Félix aponta ainda que o salário mínimo referente ao mês de março/2023 deveria ser R$ 6.571,52, para atender às necessidades do trabalhador e sua família. “Por isto, a pertinência do debate sobre a jornada de trabalho está em refletir sobre a existência humana e o sentido da vida de maneira ampliada”, ressalta.
Na seara das discussões, Maria Aparecida Campos analisa ser importante a diminuição da jornada de trabalho, e que pode proporcionar maior equilíbrio na vida do trabalhador. “Contudo, há que se pensar nas condições dessa diminuição de jornada, uma vez que a carga de trabalho nem sempre é redimensionada, gerando sobrecarga e, muitas vezes, o sentimento de fracasso por não dar conta do que é esperado” destacou.
Ressignificar as relações laborais
Como as relações de trabalho estão atreladas aos sujeitos, a docente Maria Aparecida Campos orienta para a necessidade de se manter conversas sobre o trabalho com os pares, ressaltando o escutar o outro, os modos de fazer, debatendo, mas respeitando as diferenças.
“Destaco a importância de que os trabalhadores participem das discussões e decisões acerca do seu trabalho, da jornada, dos objetivos, metas e recursos para sua execução. Essa participação permite que as demandas do dia a dia sejam pontuadas e que ajustes sejam feitos a partir da realidade do trabalho.
A docente conta ainda que tem realizado o Projeto Re-laborar, por meio do Curso de Psicologia da UFMT em parceria com a Pró-reitoria de Gestão de Pessoas (Progep). “Realizamos essa ação a todos os servidores técnicos e docentes em forma de acolhimento e clínica do trabalho, desde 2021. Também realizamos pesquisa sobre os riscos de adoecimento no trabalho por meio da aplicação do Inventário de Trabalho e Riscos de Adoecimento (ITRA)”, destaca.
Na UFMT, a jornada contínua para servidores está regulamentada na recente Resolução do Conselho Universitário nº 87 de 31 de agosto de 2022. A nova modalidade proporciona melhorias na gestão de pessoas da Universidade e amplia horários de atendimentos a toda comunidade.
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Fonte: ufmt