LSÃO PAULO, SP – Após 22 anos, o Planet Hemp finalmente vai lançar um álbum de inéditas. Ainda sem ter o título revelado, o disco deve sair em outubro e, às 20h desta terça (20), ganha seu primeiro single, “Distopia”, a primeira música lançada pelo grupo carioca em 22 anos.
Com participação do rapper Criolo, “Distopia” ganha vida com um videoclipe dirigido por um dos líderes do Planet Hemp, Marcelo D2, que na letra rechaça o que chama de “juízes super-heróis”. Ele também brinca com os versos “super-homem, super-mosca, super-carioca, super-eu”, de “Magrelinha”, faixa de Luiz Melodia.
“Os que detêm o poder precisam ter medo/ Medo do povo”, ele rima. “Fé cega, radicalismo, sério, só pode estar zoando/ Tá tudo errado irmão, então pega a visão/ Pobre defende rico/ Empregado, o patrão/ Político vira herói, juízes super-heróis/ Estão acima das leis, acima de tudo, acima de nós.”
O vídeo começa num bar, onde D2 é acompanhado por gente como Orlando Calheiros, antropólogo que faz podcasts e transmissões pela Twitch, e Spirito Santo, músico do Grupo Vissungo, pesquisador e autor do livro “Do Samba ao Funk do Jorjão”, que investiga as origens africanas do samba. O vídeo intercala imagens urbanas de caos e repressão policial e cenas da banda –com Formigão, Pedro Garcia e Nobru, além de D2 e do rapper BNegão– em um gramado, interpretando jardineiros.
Abusando do surrealismo, o clipe de “Distopia” ainda traz um BNegão gigante rimando enquanto uma família branca, que tem uma Bíblia na mesa, faz uma refeição. Ainda tem um Criolo apocalíptico dizendo “toda a desgraça amassada numa migalha de pão”, antes de dar um grito estridente.
Refletindo na música o atual momento político do país, o grupo que mescla rap com rock lança seu primeiro álbum desde “A Invasão do Sagaz Homem Fumaça”, de 2000, exatamente no mês da eleição para presidente. Criado nos anos 1990, o Planet Hemp fez sucesso na virada do século rimando, entre outras coisas, sobre legalização da maconha –o que os levou à prisão por apologia do uso da droga, em 1997.
“O Planet Hemp sempre foi um movimento de contestação. As nossas letras, que um dia já nos levaram para a prisão, são o reflexo do que a gente pensa sobre esse sistema, sobre o ideal coletivo e a nossa forma de expressar através da música o nosso manifesto”, diz D2, em comunicado. “Vai muito além de um discurso político, é um discurso musical muito mais profundo sobre liberdade de pensamento.”