Livraria Cultura encaixota livros após decretação de falência


No dia seguinte à sentença do juiz Ralpho Barros Monteiro, da 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo, que decretou a falência da Livraria Cultura, a icônica unidade da empresa no Conjunto Nacional abriu as portas, mas quem foi ao local pôde ver os livros, em sua maioria, sendo encaixotados.

A Cultura vai recorrer da falência, mas a proprietária do local na avenida Paulista já tem planos de dividir o imóvel que era alugado pela livraria.

Na livraria do Conjunto Nacional, um dos símbolos de São Paulo, funcionários enviados por grandes editoras recolhem exemplares de grupos como a Companhia das Letras e a Record. A maior parte dos livros é de propriedade das editoras, que deixavam exemplares na livraria para venda consignada.

As dezenas de frequentadores da loja viam, com tristeza, o entra e sai de carrinhos de mão repletos de caixas de livros. Os funcionários da empresa, que continuam em seus postos, ainda faziam as vendas, mas informam não saber se a unidade abrirá neste sábado. Boa parte dos livros remanescentes é vendida com descontos de 20%.

A arquiteta Letícia Rocha foi uma das clientes assíduas da Cultura que veio visitar a loja após o anúncio da falência. Comprou oito livros de variados temas, de literatura a urbanismo, para se despedir do local.

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— Moro aqui perto e sempre frequentei muito. Durante meus cinco anos de faculdade, aqui era minha segunda casa. Vinha ler aqui, tomar café, muitas vezes precisava dar um tempo para espairecer e este era um dos meus lugares favoritos. Estou muito triste de ver o fim e ouvir esse barulho de fitas adesivas, de livros sendo colocados em caixas — diz ela.

Para a arquiteta, um eventual fim da Livraria Cultura representa mais do que a quebra de uma empresa, mas é um reflexo, também, da ausência do hábito de leitura entre os brasileiros.

O educador Gustavo Machado também veio à livraria se despedir, mas não levou nenhum livro.

— Eu sempre gostei da Cultura, fiquei muito chateado porque o fechamento representa também a transformação digital. Eu mesmo migrei do impresso e hoje leio mais livros digitais, no Kindle (da Amazon), mas ainda frequentava a Cultura. A experiência sempre foi boa e eu costumava vir ao teatro. Vai fazer falta — conta.

O café A Casa de Antônia, que fica dentro da livraria, continua funciona normalmente mesmo com as estantes agora vazias de livros.

Dívidas de R$ 5 milhões de aluguel

A Cultura estava em recuperação judicial desde 2018, quando declarou à Justiça ter dívidas de R$ 285 milhões. A empresa pretende recorrer da decisão que decretou sua falência pelo não cumprimento do plano de recuperação judicial, mas sua situação financeira se deteriorou nos últimos anos mesmo com a proteção contra a falência.

Nesta sexta-feira, a empresa que é dona do imóvel ocupado pela loja da Cultura no Conjunto Nacional, a Bombonieres Ribeirão Preto, informou à Justiça que a inquilina deve cerca de R$ 5 milhões em aluguéis do espaço.

Ao GLOBO, pessoas familiarizadas com o caso afirmam que a proprietária estuda dividir o imóvel em várias partes para facilitar a locação e que já há possíveis inquilinos interessados. No mercado editorial, especula-se que a Livraria da Vila quer assumir o espaço, algo ainda não confirmado.

A empresa proprietária do imóvel tentou despejar a Cultura do local, mas não conseguiu devido à recuperação judicial da empresa. Em seu contrato atual de aluguel, assinado em janeiro de 2022, a Cultura se comprometia a pagar R$ 450 mil por mês, além de reembolsar “despesas de condomínio” de R$ 91 mil e outros R$41 mil de IPTU, mas não chegou a cumprir.

À Justiça, a Bombonieres Ribeirão Preto diz que a Cultura não chegou a pagar nenhum mês de aluguel do contrato, estando em dívida desde janeiro de 2022.

De acordo com o advogado Thiago Leite, que representa a Bombonieres Ribeirão Preto, a empresa tem tido prejuízos com a Cultura porque, além de não receber os valores do aluguel, tem tido de pagar IPTU e condomínio no lugar da inquilina

Fonte: exame

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