Ignorando pressões, Campos Neto reafirma que ‘irá até o fim’ do mandato no BC


A despeito das pressões em contrário, o timoneiro do real seguirá no comando do Banco Central (BC) até o encerramento do seu mandato constitucional, no fim de 2024.

“Continuo”, garantiu o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, cuja declaração visa desfazer as dúvidas em relação à sua permanência no cargo, para o qual foi indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. “Me sentir pressionado faz parte desse trabalho (de debate de juros). Há poucos presidentes do Banco Central do Brasil que passaram por aqui e não tiveram momentos de se sentir pressionados. Faz parte do trabalho”, amenizou.

Aos petardos disparados por seus desafetos, começando pelo atual mandatário do país e seus asseclas políticos – contrariados pela manutenção da Selic (taxa básica de juros) no elevado patamar de 13,75% ao ano – o dirigente do BC responde que sua missão é enfatizar, junto à sociedade, a comunicação e transparência do trabalho desenvolvido pela instituição.

Aprovada por lei em 2021, a autonomia do BC, segundo Campos Neto, não deverá ser revertida, pois já constitui um processo consolidado. “Acho que a autonomia hoje é um processo consolidado, não vejo ninguém falando que a autonomia foi um retrocesso. Aliás, todos os países desenvolvidos do mundo têm autonomia”, explicou, ao acrescentar que o que ocorre hoje seria “um processo contínuo de melhoria da governança [do BC]”. Por natureza, a autonomia teria, segundo ele, como característica, o fato de não existirem mandatos coincidentes, da diretoria do BC com o do presidente da República.

Em maio último, por conta da abertura de duas vagas (nas diretorias de Política Monetária e de Fiscalização), o presidente Lula indicou os nomes de Gabriel Galipolo (ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda) e Ailton de Aquino, respectivamente, para completar a formação do novo colegiado. Falta agora, que ambos sejam sabatinados e aprovados para os cargos pelo Senado Federal.

Sobre a discussão de mudança no sistema de metas de inflação, Campos Neto admitiu que a adoção da meta contínua é “mais eficiente” do que o modelo atual – que se baseia no ano-calendário fechado – ao classificar de ‘interessante’ o aperfeiçoamento dessa sistemática. Ainda assim, o dirigente monetário entende que “não há ganho de flexibilidade” na política de juros, com o aumento percentual da meta, uma vez que isso causa um “impacto negativo sobre as expectativas de inflação”.

Aprofundando mais a análise da proposta de sistema de meta contínua, Campos Neto assinalou que “esse [modelo de meta móvel] é um ganho, é um aprimoramento, mas a gente precisa entender como vai ser feita a medição e como vai ser feita a justificação em relação àquilo”, explicou, ao advertir que “se faz um sistema onde é mais volátil, acaba sendo forçado a escrever um monte de cartas ou dar explicações contínuas, pode acabar tendo efeito contrário ao que queria, pode ter uma maior flexibilização”.

Fonte: capitalist

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