Estamos em 1974. E nos encaminhamos para o Pavilhão de Exposições do Parque Anhembi, na Zona Norte de São Paulo, para visitar a nona edição do Salão do Automóvel. O espaço ainda é relativamente novo — foi inaugurado em 1970, justamente com o evento automotivo.
Como a mostra só acontecia a cada dois anos, essa era apenas a terceira vez que o Anhembi recebia o Salão do Automóvel — antes de 1970 o evento acontecia no Parque do Ibirapuera.
Pegamos um trânsito infernal. Estão todos indo para o mesmo lugar. Conseguimos parar o carro em uma vaga bem longe do pavilhão; o gigantesco e caro estacionamento já estava praticamente lotado. Vamos andando até o complexo. Ainda do lado de fora, temos de ficar em uma fila quilométrica para comprar o ingresso, também caro. Depois enfrentamos uma multidão para conseguir entrar. Lá dentro é quente, cheio e abafado. Ar-condicionado? Nem pensar. Apesar disso, todos sorriem.
Vamos ao estande da Ford. Nenhuma grande novidade, nenhum lançamento importante. O layout é simples: um discreto luminoso Ford ao centro, daqueles vistos em concessionárias, e vários carros em ilhas, divididos por modelos, espalhados por uma grande área (2,7 mil m²). É bem parecido com o estande da marca em edições anteriores. É só isso, mas ninguém se importa. Estamos lá para ver carros. Eles estão lá. E têm cores novas, para a linha 1975!
Há certo empurra-empurra, uma aglomeração ansiosa para ver tudo. Conseguimos um canto na lateral do estande, ao lado de um Maverick quatro portas (ou sedã) caracterizado no layout da companhia de rádio-táxi vermelho e branco — cujo diferencial era um sistema que permitia ao motorista abrir a porta traseira direita por meio de uma alavanca interna. Uau!
Andamos um pouco mais adiante, rodeando o espaço. Vemos um caminhão F-600 e conseguimos um espacinho no meio do pessoal para chegar mais perto de uma F-350 encarroçada como ônibus escolar. Mais para a frente está impossível passar. Vamos para o outro lado. Tem uns tratores. Tratores?!
Insistimos. Damos de cara com uma bela F-100 Vermelho Cadmiun com teto branco. Ao lado, uma Rural saia-e-blusa Verde Selva e branco e uma F-75 4×4 Bege Camurça, ambas herança da Willys. Aos trancos e barrancos, desviando de um e de outro, chegamos à área do Corcel. Diante de nós, quatro belos exemplares: um GT branco, um coupê Ouro Libra metálico, um sedã Azul Portela metálico e uma Belina Azul Regata.
Aproveitando uma rara brecha na multidão, chegamos à baia dos Maverick. Que trinca! Um GT Amarelo Tarumã, um sedã Vermelho Cadmiun com teto de vinil preto e um coupê Marrom Tamarindo metálico Super Luxo. Coisa finíssima.
Uma “licencinha” aqui, um “desculpa” ali e caímos na ilha dos Galaxie. Temos um exemplar Verde Itanhangá e dois belos LTD, um Marrom Conhaque com teto de vinil bege e outro “all black”, ou seja, preto com teto de vinil preto e interior preto.
Ufa! Até que enfim conseguimos chegar à área central do estande da Ford, onde estão em destaque, com justo merecimento, o Maverick do 1º Raid da Integração Nacional — carro que rodou quase 17 mil km por todo o Brasil, do Chuí a Rio Branco e depois até Brasília, no fim do ano anterior —, uma Belina preparada para rally e outro Maverick, este de pista, o “bicho-papão” Quadrijet da Equipe Mercantil Finasa-Motorcraft.
Já estamos um pouco cansados, com fome, sede e levando esbarrões a todo momento. Um lugarzinho para sentar um pouco não seria mal, mas não existe. Quem liga? Vamos para o próximo estande. E começa tudo outra vez.
Corta! Acabou a viagem no tempo. Voltamos a 2023. Faz cinco anos que não temos Salão do Automóvel. E pode ser que não tenhamos outro nunca mais. Que pena.
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Fonte: direitonews