Cheiro de carro novo não era tão bom na década de 1960; veja por quê


Federico Fellini, o genial cineasta italiano, tinha três conhecidas fraquezas: mulheres, vinhos de Colli di Rimini, região onde nasceu, e cheiro de carro novo. “Muita gente pensa que diretor de cinema é intelectual, não dá bola para carro, mas eu sempre gostei”, disse ao seu colega brasileiro Bruno Barreto em um encontro em Roma. “Tem coisa melhor que cheiro de carro novo?”.

Na conversa, reproduzida no livro Os Cineastas, Diálogos com Roberto D’Avila (Editora Bom Texto, 2002), Fellini contou que, depois de cada filme que dirigia, comprava um carro zero apenas para saborear o cheiro da novidade. Apesar de preferir andar no banco do carona, Fellini teve Maserati, Ferrari, Lamborghini e um prosaico Fiat 500 1963, comprado depois do fracasso de bilheteria do longa 8 e ½.

O que Fellini — e todos que andavam de carro até os anos 1980 — não sabia é que ele colocava a saúde em risco por aspirar produtos químicos em ambiente fechado.

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Antes de prosseguir, convém lembrar que o olfato, com seus 400 receptores olfativos, é o sentido humano mais apurado, pode distinguir até 1 trilhão de odores diferentes, segundo pesquisa da Universidade Rockefeller, em Nova York. E está diretamente associado à porção do cérebro responsável pela memória. Quem não se lembra do cheiro do óleo dois-tempos misturado à gasolina ao ver a foto de um DKW ou de uma Yamaha RD 350?

“Cheiro de carro novo é especial porque representa a sensação de conquista”, resume Maria de Lourdes Feitosa, primeira mulher a se dedicar ao estudo de odores em automóveis no Brasil. “Mas até a metade dos anos 1980, o cheiro era provocado pela cola de fixação da forração interna, com alto teor de metilbenzeno, ou tolueno, produto altamente nocivo à saúde.”

Foram os alemães da Audi que descobriram, por acaso, a substância. Intrigada com as reclamações acerca do forte cheiro no interior dos carros da marca, a Audi contratou uma equipe de osmólogos para resolver o problema. Se você teve oportunidade de entrar em um carro chinês no começo do ano 2000, sabe que cheiro era aquele que os donos de modelos Audi sentiam.

A partir da descoberta do tolueno na cola, além de outros compostos químicos nos materiais de acabamento, o governo alemão impôs uma série de normas para controlar os materiais empregados na construção de veículos, determinação que passou a valer para todos os fabricantes.

Na época, Maria de Lourdes trabalhava no Laboratório de Análise da Volkswagen do Brasil e, dada sua sensibilidade para distinguir e memorizar odores, foi mandada à Alemanha para fazer um curso de especialização. Voltou de lá com o título de “Zertifizierte Nase”, ou nariz certificado, conferido pelo Laboratório de Análise de Odor do Grupo Volkswagen, e foi promovida a osmóloga (palavra que, a propósito, não está nos verbetes de todos os dicionários, mas é mais elegante que “cheirador profissional”). Sua missão era criar essências para cada tipo de carro.

Seu último trabalho antes da aposentadoria, em 2014, foi criar o cheiro do interior do Polo. “Com o uso cada vez maior de materiais sintéticos para substituir o couro, a madeira e outros materiais de acabamento, um carro zero seria inodoro”, conta Maria de Lourdes. A solução para manter a mística do cheiro do carro novo é a aplicação de essências criadas em laboratório — sem riscos à saúde.

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Fonte: direitonews

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