Carro popular do anos 2000 custaria R$ 59 mil hoje com a correção monetária


Qual é a sua última memória de carro popular vendido no Brasil? Com modelos de entrada beirando os R$ 70 mil, os órfãos dos carros baratos que fizeram sucesso nos anos 1990 e 2000 – como o Chevrolet Celta e o Volkswagen Gol – pedem pela volta de automóveis realmente acessíveis ao mercado.

Mas será que se fossem produzidos hoje custariam por volta de R$ 30 mil a R$ 40 mil? A resposta é não. Na verdade, teriam um preço um pouco menor que o pedido por Fiat Mobi e Renault Kwid (R$ 68.990), os carros novos mais em conta do mercado.

Para isso, vamos tomar como o exemplo o Chevrolet Celta, um dos últimos modelos lançados com a proposta popular – com pouquíssimos equipamentos (inclusive de segurança), cabine simplista e motor manso. Na época de seu lançamento, em setembro de 2000, o carro custava R$ 13.390, um pouco menos de um quinto do preço de Kwid e Mobi zero-quilômetro.

Mas isso foi há quase 23 anos. Nesse período, o índice IPCA acumulado – considerado a inflação oficial do país – foi de 300,09%. Com a correção monetária, o Celta custaria exatos R$ 59.213,80 nos dias de hoje. Curiosamente, essa é a média de preço que modelos de entrada como Kwid e Mobi deverão custar, segundo o novo plano do governo.

Além da diferença de preço de R$ 55.600 entre Kwid e Mobi e o Celta (quando foi lançado), um outro importante fator separa o Chevrolet dos carros de Renault e Fiat: o nível de equipamentos, de segurança e a eficiência dos motores.

Na virada do século, o Celta era considerado um carro moderno para os padrões populares da época, ao contrário do Fiat Uno Mille, que já carregava o peso de estar havia 16 anos na mesma geração. Mesmo assim, precisou passar por uma pesada contenção de gastos para ser o Chevrolet mais barato do mercado e custar pouco mais de R$ 10 mil.

Desse modo, o carro de duas portas era produzido sem airbags, conta-giros, rádio, travas ou vidros elétricos ou lanterna no painel. Fazia parte de sua lista de equipamentos de série ventilação, porta-objetos sem tampa, vidros verdes, display digital do nível de combustível (baita inovação para a época) e muito, muito plástico na cabine.

Embora o pacote de equipamentos do Kwid e do Mobi seja enxuto para os padrões atuais, os hatches entram em um outro patamar no quesito de segurança e tecnologia. O Kwid, por exemplo, oferece de série ar-condicionado, quadro de instrumentos de LED, vidros dianteiros elétricos, rádio, Bluetooth, entrada USB, sistema start-stop, DRLs de LED, quatro airbags, controle de estabilidade e tração, monitoramento de pressão dos pneus, controle de estabilidade e assistente de partida em rampa.

O que não mudou foi o uso do motor 1.0 aspirado equipando um carro de entrada, porém, ele ficou muito mais eficiente e, consequentemente, menos poluente com o passar dos anos. Carro mais econômico do Brasil, o Kwid usa o três cilindros 1.0 que produz 71 cv e 10 kgfm. O câmbio é sempre manual de cinco marchas. Já o Mobi oferece o também tricilíndrico 1.0 Fire de 74 cv e 9,4 kgfm de torque. Em todas as versões, o câmbio é manual de cinco marchas.

No caso do Celta, o motor é o 1.0 de quatro cilindros que gera 60 cv e 8,3 kgfm de torque, associado ao câmbio manual de cinco marchas.

Até mesmo um dos símbolos do incentivo do governo para produzir carros populares nos anos 1990, o Fusca Itamar, não seria acessível hoje. Em coletiva de imprensa no último mês, Márcio de Lima Leite, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), comentou que a entidade chegou a corrigir os valores dos veículos vendidos na época em que o ex-presidente Itamar Franco estava no poder (1992-1994).

Desse modo, o Fusca Itamar, carro mais barato na época, custaria R$ 80 mil nos dias de hoje seguindo o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) e o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M).

Se o carro popular dos anos 2000 custaria seria um pouco mais barato que um Mobi ou um Kwid hoje, por que parece que o modelo de entrada era mais acessível no passado? Uma das explicações mais plausíveis está na perda do poder de compra do brasileiro.

Um levantamento realizado pela consultoria automotiva Jato Dynamics no início deste ano aponta que o trabalhador que recebe um salário mínimo (R$ 1.320) precisa juntar o dinheiro dos últimos 53 meses para comprar o carro de entrada no Brasil, o Renault Kwid ou o Fiat Mobi (R$ 68.990).

Há relativamente pouco tempo, em 2018, o consumidor precisava juntar o equivalente a 28 salários mínimos para comprar o carro mais barato do Brasil, na época um Chery QQ (R$ 26.690).

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Fonte: direitonews

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