Botecos cariocas em São Paulo: como eles criaram um negócio que fatura R$ 6 milhões


Os paulistanos convivem cada dia mais em harmonia com o estilo despojado dos negócios cariocas da gema. Espaços famosos e que conquistaram o paladar de cariocas e turistas como o Boteco Belmonte, Bracarense, Boteco da Rainha e, mais recentemente, o restaurante Delírio Tropical desembarcaram por aqui nos últimos anos.

Longe deste ‘glamour’, um casal começou uma empreitada em 2012 com o mesmo objetivo. Com nenhuma ou quase experiência, o publicitário e carioca André Silveira e gaúcha Mariele Horbach, que tinha no histórico o trabalho no restaurante da família em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, decidiram empreender.

O projeto era trazer um pouco do espírito e da atmosfera carioca para a selva de pedra, com os petiscos e os pratos que fazem sucesso no estado vizinho como o filé à Osvaldo Aranha, arroz de brócolis, o Vinicius de Morais e o strogonoff inspirado no restaurante La Molle.

Como foram os primeiros anos do negócio

Eles garimparam um espaço, juntaram as economias e começaram a dar vida ao Garota da Vila, na Vila Olímpia, inaugurado em 1º de abril de 2021. Ficaram quase três anos no vermelho. O desconhecimento sobre aspectos como gestão de pessoas, precificação e fluxo de caixa foram apenas alguns dos obstáculos que enfrentaram, além da relação com fornecedores e clientes.

As dificuldades chegaram antes mesmo da abertura do negócio. A reforma, estimada para dois, levou seis meses e consumiu quase todo o caixa. “O primeiro mês foi aterrorizante”, diz Horbach.

Com a corda no pescoço, o negócio entrou em uma espiral de “vender hoje para pagar amanhã” e teve que se afiançar em empréstimos bancários e familiares. “A gente não tinha plano B, tinha que dar certo”, conta Silveira.

Do vermelho para o azul

Os empreendedores recorreram ao Sebrae em busca de ajuda para aprender e equacionar todas essas questões.  Essa foi uma virada importante para o negócio, que começou a mostrar sinais de melhora. Além disso, André deixou o trabalho como publicitário para se dedicar totalmente ao Garota.

Com o casal se dividindo nas tarefas, o boteco registrou o seu primeiro ano no azul em 2015, feito que se repetiu no ano seguinte e abriu portas para a expansão do que hoje se transformou no Grupo Hungry. Em 2017, capitalizados, eles criaram o Bar Jobim, em Moema, e o Garota da Chácara, na Chácara Santo Antônio.

“Os dois começaram no azul e nunca ficaram no vermelho. Fruto da experiência com o negócio”, afirma Silveira. Antes deles colocarem os nossos empreendimentos na rua, fizeram uma lista dos erros cometidos com o primeiro boteco.

Os novos botecos nasceram em espaços bem menores, cerca de 40 metros quadrados, uma estratégia para economizar recursos na reforma, em mobiliário e em pessoal. Além disso, tinham que estar localizado em esquinas, como reza a lenda de todo boteco que se preze.

O último lançamento foi o Calçadão no Espeto, espaço criado em 2021 e que está sendo ampliado de 10 para 70 lugares. Com o modelo que traz uma proposta mais casual, de espetinhos e cerveja, o casal pretende levar essa bandeira para o mercado de franquias.

Outra aposta prevista para este ano é o lançamento da hamburgueira “Vaka Loka”. Em meio à pandemia de Covid-19, os dois criaram a marca de hambúrguer artesanal para vender no delivery e ajudar a sustentar as contas. Com a reabertura dos botecos físicos, resolveram guardar a ideia para o momento propício, transformada em uma nova oportunidade de negócios.

Qual o novo momento do negócio

Além dos espaços físicos, responsáveis por mais de 90% do faturamento, há uma outra divisão que traz incrementos residuais de receita: a ofertas de produtos com marcas próprias, estratégia que responde por cerca de 7%.

Ao longo do tempo, foram construindo parceria com fornecedores para a criação de:

  • Camisetas dos bares
  • Pimenta
  • Popos
  • Pratos
  • Conhaque de maracujá

Em 2022, o negócio fechou com 6 milhões de reais, alta de 100% em relação ao exercício anterior. Para este ano, a projeção é de romper a barreira dos R$ 10 milhões. A expectativa parte dos resultados dos últimos meses e também da expectativa gerada em torno da ampliação do Jobim, do Calcadão e da hamburgueria.

A consolidação financeira tem levado também à profissionalização. Antes, os dois jogavam em todas as posições, da cozinha até as contratações. Ao longo do ano passado, montaram uma estrutura financeira, de compras e Recursos Humanos. No período, surgiu também o Grupo Hungry como uma estrutura para abarcar todos os empreendimentos.

As mudanças estão alinhadas com o projeto de expansão tanto em São Paulo quanto para outros estados. O primeiro objetivo é transformar a marca “Garota” em uma rede, continuando a história iniciada com a Garota da Vila e a Garota da Chácara.

“Um segundo passo seria partir para o negócio de franquias, escolhendo a marca que tivesse mais potencial. A princípio, o Calçadão do Espeto”, afirma Silveira. Para acelerar os projetos, o grupo tem conversado com investidores e estudado caminhos para levar a imagem carioca e a bandeira do fluminense – paixão de Silveira – para outros endereços.

Fonte: exame

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