Aconteceu nos dias 8 e 9 de outubro, o 1º Encontro de Muladeiros de Mato Grosso. Evento contou com a participação de diversos tropeiros de todo o estado, atrações culturais e a tradicional queima do alho.
Durante a cavalgada de abertura do evento, os tropeiros percorram algumas estradas da zona rural próxima ao Cinturão Verde, no bairro Pedra 90 e realizaram diversas atividades culturais no espaço preparado pela Estância Mula Baia, região metropolitana da capital Cuiabá.
Para o presidente da Central de Comitivas de Mato Grosso, Zeno Rondon, esse era um evento muito solicitado pelas comitivas da região. “Os muladeiros pediram para fazer esse encontro apenas dos muares e está sendo maravilhoso. Quero dizer que isso ajuda na união de todo o grupo, precisamos nos unir para fortalecer ainda mais a nossa classe.“, avalia Zeno.
A programação contou com dois dias de atividades, confraternização e muita festa. Artistas como a dupla Jader & Jales, roda de viola e a tão esperada cavalgada. Além disso, os participantes puderam assistir ao concurso de berrante, melhor animal traiado e a tradicional queima do alho, que é um dos momentos mais esperados do evento.
Como informa o vice-presidente da Central de Comitivas de MT, Dorival Rigotti, ao todo, cerca de 150 muladeiros e convidados participaram deste encontro que foi organizado pela entidade. “Um evento tradicional, trouxemos pessoas de outros estados que vieram prestigiar a queima do alho, troca de alparcas, animais traiados, prova de berrante, enfim. Isso tudo para que a cultura tradicional do sertanejo se mantenha viva e a juventude, além das famílias, que ainda não conhecem possam prestigiar.“, explica Dorival.
Além da programação cultural, cada participante também ofereceu 1kg de alimento não perecível para dação ao Hospital de Câncer de Mato Grosso (HCan).
Assista abaixo a matéria especial produzida pelo Agronews no 1º Encontro de Muladeiros de Mato Grosso. Aperte o Play!
1º Encontro de Muladeiros de Mato Grosso
Sobre os Muares
Muares são animais de carga resistentes, inteligentes, de fácil manejo e vida longa. Essa longevidade permite-lhes trabalhar por mais de 35 anos e em alguns casos, por até 47 anos. São praticamente imunes a aguamentos e apresentam inteligência superior aos seus primos, os cavalos.
Os muares, animais de grande importância na história do Brasil, nunca poderão ser esquecidos. Graças ao trabalho de burros e mulas, o Brasil cresceu, evoluiu e se desenvolveu. Sobre o lombo dos resistentes burros e mulas, foram transportados alimentos, mercadorias diversas e, até mesmo, armas e munições.
E não para por aí, os muares trabalharam arduamente no transporte das maiores riquezas do Brasil colonial que foram o ouro das minas, o açúcar dos engenhos e o café das fazendas. Posteriormente, sua utilização foi estendida para o preparo do solo e a lida com o gado.
Os muares, mulas e burros, são animais híbridos resultantes do cruzamento de um jumento com uma égua, ou de um cavalo com uma jumenta. A mula é o indivíduo fêmea, resultante do cruzamento de um jumento com uma égua. O macho, resultante desse cruzamento, é chamado burro. Ambos pertencem à espécie denominada muar. O cruzamento das mesmas espécies genitoras, porém invertidos os sexos (portanto, cavalo x jumenta), dá origem a um animal diferente, o bardoto. Em algumas regiões do Brasil, os muares recebem, ainda, nomes diferentes e mulo, mu, besta, burro, macho, jerico, são alguns deles.
Para a maioria das pessoas, o muar representa o ponto final na biologia dos equídeos, por ser um híbrido estéril resultante do cruzamento entre duas espécies diferentes. No entanto, apesar de estéreis, todos esses animais são de grande importância rural graças à sua resistência e docilidade. A esterilidade se explica devido ao fato de os cavalos possuírem número de cromossomos diferente dos jumentos. São raros os casos em que uma mula deu à luz. Desde 1527 até os dias atuais, apenas 60 casos foram registrados.
Com o passar dos anos, evoluiu-se também a concepção de uso da raça. Atualmente, é notória a valorização dos muares e jumentos. São inúmeras as utilidades desses animais, além de serem destaque em competições, cavalgadas, provas funcionais em feiras e em concursos. Os Leilões, os cursos de doma racional, o preparo para as exposições, também contribuíram na valorização e na divulgação da raça. Atualmente, o que se tem buscado nesses animais é uma maior docilidade, agilidade, delicadeza e comodidade.
Sobre a figura do tropeiro
Tropeiro, condutor de tropa, arrieiro ou bruaqueiro, é a designação dada aos condutores de tropas ou comitivas de muares e cavalos entre as regiões de produção e os centros consumidores no Brasil a partir do século XVII. Mais ao sul do Brasil, também são conhecidos como carreteiros devido às carretas com as quais trabalhavam.
Os tropeiros são originários da necessidade dos bandeirantes paulistas em levar animais para sustentar os seus centros mineradores.
Cada comitiva era dividida em lotes de sete animais, cada um aos cuidados de um homem que os controlava através de gritos e assobios. Cada animal carregava cerca de 120 quilogramas e chegava a percorrer até 3 000 quilômetros.
Num sentido mais amplo, também designa o comerciante que comprava tropas de animais para revendê-las, e mesmo o “tropeiro de bestas“, que usava os animais para, além de vendê-los, transportar outros gêneros para o comércio nas várias vilas e cidades pelas quais passava.
No sentido mais estrito, “tropeiro” é o peão cuja função, na pecuária extensiva brasileira (inclusive nas comitivas), consiste em reunir pela manhã, cuidar durante o dia e alojar à noite a tropa de cavalos de serviço que os peões campeiros trocam durante a jornada de trabalho. Além de seu importante papel na economia, o tropeiro teve importância cultural relevante como veiculador de ideias e notícias entre as aldeias e comunidades distantes entre si, numa época em que não existiam estradas no Brasil.
Um dos marcos iniciais do tropeirismo foi quando a Coroa Portuguesa instalou, em 1695, na Vila de Taubaté, a Casa de Fundição de Taubaté, também chamada de Oficina Real dos Quintos. A partir de então, todo o ouro extraído das Minas Gerais deveria ser levado a esta Vila e, de lá, seguia para o porto de Parati, de onde era encaminhado para o reino via cidade do Rio de Janeiro.
Ao longo das rotas pelas quais se deslocavam, ajudaram a fazer brotar várias das atuais cidades do Brasil. As cidades de Taubaté, Sorocaba, Santana de Parnaíba e São Vicente em São Paulo, Viamão e Cruz Alta no Rio Grande do Sul e Castro no Paraná são algumas das pioneiras que se destacaram pela atividade de seus tropeiros.
Ainda hoje, tropeiros atuam em algumas regiões do Brasil, como os que transportam queijos e doces da região de Itamonte, em Minas Gerais, para Visconde de Mauá, no Rio de Janeiro.
Comitivas do estradão
Apesar do Transporte Rodoviário ser a matriz na condução da Agropecuária Brasileira é importante pontuar que ainda existem as chamadas “Comitivas Do Estradão” que preservam a cultura de levar a boiada por terra, pelo fato de que o transporte através de caminhões machucarem as partes internas e interferirem no temperamento do rebanho. Em contrapartida, a viagem por terra é menos traumática e dolorosa, além de que o animal não perde peso por estar pastando em seu percurso.
A conformação da Comitiva é similar a um esquema tático de futebol. Geralmente é formada por 7 pessoas sendo:
- Um capataz
- Um cozinheiro
- Um Ponteiro
- Dois Meieiros
- Dois Culatreiros
O capataz é o chefe da Comitiva. O cozinheiro atua à frente da boiada sendo responsável pelas refeições da tropa. O ponteiro é uma espécie de GPS na condução da boiada, é o responsável em saber todas as rotas e estradas a serem trilhadas, o mesmo toca os mais variados toques de berrante dependendo da real situação. A fim de acalmar o gado depois de um longo percurso é usado o toque do Estradão.
Quando é avistado um perigo é usado o toque do rebatedouro. Ao meio-dia o berranteiro toca o sinal de parada para o almoço. O toque Maria Bonita é usado com intuito de amenizar a solidão da mulher amada ou até mesmo uma forma de conquista. Os meieiros atuam nas laterais dando suporte ao ponteiro e os culatreiros atuam atrás da boiada, a fim de não deixar o gado para trás. Essa atividade tem um enfoque na região do Pantanal Mato-grossense, onde há constantes inundações nas pastagens, sendo necessário a retirada emergencial de todo rebanho.
Por Vicente Delgado – AGRONEWS®