LEONARDO SANCHEZ
RIO DE JANEIRO, RJ – O contexto no qual padre Pio viveu e no qual se passa o filme que leva seu nome, exibido agora no Festival do Rio, poderia ser facilmente confundido com o Brasil que aguarda polarizado pelo segundo turno de suas eleições de 2022.
Duas turbas barulhentas se opunham naquela Itália do entre guerras –de um lado, os comunistas e, de outro, os fascistas. Tudo isso agravado por uma controvérsia dentro da própria Igreja Católica, que via charlatanismo nas preces e milagres do clérigo biografado.
Com o que se viu na basílica de Nossa Senhora Aparecida no último dia 12, as semelhanças entre o filme e o Brasil de hoje ficam ainda mais inusitadas, com ambos vivenciando o que parece ser, também, uma confusão teológica.
Mas não é exatamente curioso que estejamos testemunhando um embate tão parecido não só aqui, mas no mundo todo, diz o ator Marco Leonardi, em solo carioca para participar do festival. As bandeiras mudam, mas nada muda de verdade, diz ele.
“Se padre Pio estivesse aqui hoje, ele não precisaria dizer nada que já não tenha dito lá atrás. Ele pôde prever uma Segunda Guerra Mundial chegando e preveria uma terceira agora também. Porque eu acredito que estamos próximos disso. Não sou expert, mas basta olhar ao redor, aos poderosos do mundo. A história se repete.”
Na Itália, também, os ânimos se exaltaram nas últimas eleições, que darão à direitista Giorgia Meloni o cargo de primeira-ministra. Sobre seu país, especificamente, o ator que ganhou fama como a versão adolescente do protagonista do clássico “Cinema Paradiso” evita comentar -“às vezes é melhor se afastar e sorrir, porque o jogo político pode machucar”.
Em “Padre Pio”, que tem direção de Abel Ferrara e é falado em inglês, Leonardi interpreta Gerardo, um tipo vilanesco que persegue o religioso, papel de Shia LaBeouf. O longa mostra como ele deu esperança ao povo italiano no difícil período entre guerras, apresentando as chagas de Cristo nas mãos e levantando suspeitas da Igreja Católica. Por muitos anos, ele foi perseguido e tratado como mentiroso, até que o papa João Paulo 2º o canonizou em 2002.
Além de retratar uma controvérsia do passado, o filme também conquistou as suas próprias. LaBeouf, ator que foi de promessa de Hollywood a uma inexplicável excentricidade e a polêmicas pessoais que o barraram de vários projetos, morou três meses num convento assim que leu o roteiro e decidiu assumir o protagonista.
Ainda na região de Puglia, onde as gravações aconteceram, o ator chegou a dormir numa cama usada pelo próprio santo e, como resultado de suas “experiências espirituais”, decidiu se converter ao catolicismo.
Leonardi tem pouco a dizer sobre o trabalho com o colega de elenco e se limita a brincar que, ainda bem, não foi ele quem entrou com tamanho afinco na pele de seu personagem -se o fizesse, sairia matando um monte de gente por aí, diz sobre o lado vilanesco do papel.
O repórter viajou a convite do Festival do RioPADRE PIO (FESTIVAL DO RIO)
Quando: Ter. (18), às 16h30
Onde: Estação Net Botafogo – r. Voluntários da Pátria, 88 – Botafogo, Rio de Janeiro
Preço: R$ 32