Naturalmente, você deve ter associado o nome do Boreal ao fenômeno batizado de “Aurora Boreal” por Galileu Galilei em 1619. Para quem não sabe, é um verdadeiro show de luzes da natureza que acontece durante tempestades solares no extremo norte da Terra. Pode me chamar de careta, mas o Boreal, apesar de não ser um fenômeno natural, de fato chama a atenção por onde passa.
Digo isso com propriedade, já que eu estava rodando pela cidade de São Paulo com uma das poucas unidades disponíveis do modelo. Os olhares eram frequentes, e isso se deu por alguns motivos. Primeiro, o Boreal é inédito, o que já despertaria atenção. Segundo, o SUV médio traz um design moderno, com muitos vincos e proporções generosas.
Essa é uma das armas do utilitário para entrar em um segmento competitivo, contra Jeep Compass e Toyota Corolla Cross, os atuais mandantes da categoria. Para o embate, também importa o posicionamento: o Boreal estreia com três versões e preços convidativos, entre R$ 179.990 e R$ 214.990, e se torna uma ameaça para os oponentes — o SUV da Jeep parte de R$ 169.990 e chega a R$ 264.990. Já o Toyota vai de R$ 188.990 a R$ 219.890.
Embora gosto seja relativo, achei o Boreal muito bonito. Grade robusta, novo logotipo da Renault e faróis de LED proporcionam um aspecto quase futurista. Essa proposta, aliás, segue no restante da carroceria. Atrás há lanternas de LED e, na opção mais cara, o teto é pintado de preto. Nas laterais, maçanetas embutidas nas portas e rodas de 19 polegadas.
E como não é só de visual que sobrevive um carro, a Renault também apostou em outros pontos fortes. Um deles é o espaço interno. O SUV médio tem 4,56 metros de comprimento — é 10 centímetros maior que o Corolla Cross e 16 cm maior que o Compass. O entre-eixos é de 2,70 m, vantagem de 6 cm em relação aos rivais, que têm exatamente a mesma medida, 2,64 m. Fruto de um projeto moderno.
Graças a essas dimensões, que incluem altura de 1,65 m e largura de 1,84 m, o espaço do Boreal é generoso. Em nosso período de teste, até convidei o designer Demetrios Cardozo para se sentar na segunda fila. Com 1,83 m de altura, ele poderia avaliar melhor que eu, já que, com 1,60 m, me acomodo facilmente em quase qualquer carro. Com base nas impressões dele, posso concluir que o espaço para as pernas é bom, o que também é ajudado pelo túnel central mais baixo. Do mesmo modo, é ótimo para ombros e cabeça.
O Boreal oferece aos passageiros de trás mais itens do que os usuais no segmento. Saídas de ar-condicionado, porta-revista e duas entradas USB do tipo C fazem parte da lista. Outro detalhe é a boa qualidade do acabamento. Testamos a versão de topo, Iconic, que tem confortáveis bancos de couro. Nas portas há plástico rígido, mas a Renault fez bem em misturar texturas e colocar um encosto acolchoado para o braço.
Além do espaço, o Boreal tem um porta-malas com boa capacidade: 522 litros no padrão VDA. Para efeito de comparação, são 440 l no Corolla Cross e 410 l no Compass. A diferença em relação aos rivais se dá pela disposição, já que o porta-malas é dividido em dois níveis.
Basta tirar as placas do assoalho que outro compartimento surge. Importante dizer que o volume considera o fundo falso. É possível, ainda, rebater os bancos bipartidos por meio de uma simples alavanca. Com os bancos rebaixados, o compartimento sobe para 1.279 l.
No bagageiro há luzes de apoio, ganchos e a única tomada 12V do carro. Por fim, abertura e fechamento são elétricos e podem ser feitos por um botão no painel, por aproximação, na porta ou com a chave do tipo cartão, utilizada pela marca francesa há pelo menos uma década.
Sentada no banco do motorista percebi que a Renault se importou com os detalhes. Há uma mescla de materiais e até gravações a laser no painel. Além disso, assim como as luzes da aurora boreal, o SUV oferece iluminação interna de LED com 48 opções de cores. Dentro, as telas são interligadas: o cluster e a multimídia têm 10” cada. A central tem conexões para Android Auto e Apple CarPlay sem fio, além de internet nativa. Vale dizer que, na versão básica, o quadro é de 7”.
A multimídia tem um sistema muito fácil de mexer. Durante meu período com o Boreal, não travou uma vez sequer. O Boreal, inclusive, é o primeiro carro nacional a ser equipado com o Google Automotive Services, então tem Google Maps nativo que pode ser reproduzido no cluster, o que ajuda na visualização. O sistema também permite baixar aplicativos como Spotify e YouTube, além de atender a comandos de voz.
No geral, o Renault Boreal Iconic é bem equipado. Ar-condicionado de duas zonas, freio de estacionamento eletrônico e carregador de celular por indução, assim como duas portas USB do tipo C, são itens de série em todas as versões.
O volante tem ajustes de altura e de profundidade, mas confesso que uma herança da antiga Renault (assim como a chave cartão) me incomoda: os comandos satélites encravados na coluna de direção para gerenciar o sistema de som — que tem alto-falantes da Harman Kardon na versão topo de linha. O Boreal Iconic traz também teto solar panorâmico.
Outro ponto que chama a atenção são os bancos dianteiros com ajustes elétricos, sendo o do motorista com memória e massagem. E, caso a aurora boreal distraia o condutor, o Boreal da Renault vem com até 24 sistemas de assistência. Entre eles, alerta de ponto cego, controlador de velocidade adaptativo e frenagem autônoma de emergência.
Assim como os rivais, tem seis airbags. As câmeras com visão de 360 graus me decepcionaram na qualidade. Porém, junto com os sensores de estacionamento, ajudam no momento de manobrar, principalmente com o auxílio do parking assist, em que o carro estaciona sozinho — o motorista precisa regular apenas os pedais.
O Renault Boreal usa o mesmo motor do Duster. É o 1.3 TCe, um turbo flex com injeção direta. São 163 cv de potência com etanol e 156 cv com gasolina, números que o tornam ligeiramente menos potente que os rivais. Afinal, o Compass entrega 176 cv e o Corolla Cross, 175 cv, sempre com etanol. Já o torque do Boreal é de até 27,5 kgfm, igual ao do Jeep e superior ao do Toyota.
Por dividir a plataforma RGMP com o Kardian, o SUV é equipado com o mesmo câmbio automatizado de dupla embreagem EDC de seis marchas. Essa transmissão gera polêmicas por ser uma caixa seca, mas, no caso da Renault, as embreagens são banhadas a óleo. Isso significa maior durabilidade, diferentemente das antigas caixas com embreagens secas.
Devo dizer, no entanto, que as mudanças de marchas são rápidas, mas perceptíveis. Na prática, o Boreal é um carro surpreendentemente esperto e divertido, mesmo alguns cavalos menos potente do que seus principais rivais, ainda mais se usarmos os paddle shifts para trocas manuais.
Em nossos testes no Rota 127 Campo de Provas, foi de 0 a 100 km/h em 9,5 segundos — melhor que o Corolla Cross, por exemplo, que cumpre o mesmo oficialmente em 9,8 segundos. Já o Jeep Compass com motor T270, segundo dados da fabricante, realiza a tarefa entre 8,8 s e 9,8 segundos, segundo a fabricante.
A dinâmica de condução poderia ser ainda melhor se a Renault tivesse investido um pouco mais para trocar o eixo de torção na suspensão traseira pelo sistema multilink, mais moderno, refinado e confortável.
No segmento, só o Boreal e o Corolla Cross adotam o eixo de torção. Por outro lado, um ponto de destaque são os freios com discos ventilados nas quatro rodas, algo raro no segmento. Nas provas de frenagem, superou o Toyota em 8 m vindo a 100 km/h, por exemplo.
Por fim, o Boreal traz cinco modos de condução (Eco, Comfort, Sport, Personal e Smart). Este último analisa a maneira mais eficiente conforme a direção, combinando entrega satisfatória de desempenho e economia de combustível. Em nossos testes, aliás, o Boreal fez, com gasolina no tanque e ar ligado, 11,3 km/l na cidade e 14,1 km/l na estrada, bons números para o segmento.
Depois da avaliação, entendi por que o Boreal é uma das grandes apostas da Renault para o Brasil. Embora seja menos potente que os rivais, destaca-se com bom posicionamento, mais espaço interno e lista de equipamentos e itens de segurança recheada. Fora o visual, que tem sido elogiado desde sua apresentação. De fato, não resta dúvida de que o SUV médio tem capacidade para brilhar no mercado.
Pontos positivos: Comportamento dinâmico, espaço interno e equipamentos
Pontos negativos: Menos potente que os rivais e suspensão traseira
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Fonte: direitonews






