Completam-se dez anos da morte do cantor sertanejo Cristiano Araújo e de sua namorada, a modelo Allana Moraes, no interior de Goiás. Na madrugada do dia 24 de junho de 2015, o casal estava no banco traseiro de um Range Rover Sport conduzido pelo motorista do artista, Ronaldo Miranda. A roda se partiu e o SUV capotou em alta velocidade na rodovia.
Após a perícia, diversos fatores foram atribuídos ao acidente. O casal não usava cinto de segurança e o motorista dirigia a 179 km/h. Entretanto, outro tópico foi preponderante: as rodas não eram originais e haviam sido reparadas com solda.
Autoesporte conversou com Argemiro Costa, coordenador da comissão técnica de dinâmica veicular da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade do Brasil (SAE Brasil), para entender sobre os riscos da instalação de kits reparados e a utilização de rodas de outros modelos.
O laudo do Instituto de Criminalística de Goiás apontou a ruptura de um ponto de solda na roda traseira direita do carro de Cristiano Araújo. O rompimento formou uma haste perfurante, que rasgou o pneu por completo, separando-o da roda. O veículo perdeu o controle e capotou na BR-153, em Morrinhos, município na região sul de Goiás.
Além de Cristiano Araújo, Allana Moraes e Ronaldo Miranda, o empresário Victor Leonardo estava a bordo do Range Rover. Estes dois últimos ficaram feridos e deixaram o hospital dias após o ocorrido. Miranda respondeu criminalmente por homicídio culposo.
O G1 repercutiu à época que foram encontrados dez pontos de solda feitos com material de má qualidade no carro de luxo. As rodas aro 22 eram de um Porsche Cayenne, com parafusos e furações diferentes. Na indústria do tuning, motoristas gastam milhares de reais para instalar rodas de aro maior.
Entretanto, segundo o especialista da SAE Brasil, essa prática tão comum pode colocar o condutor em perigo. “Nenhum fabricante recomenda a troca da roda de seu veículo […]. O motorista estará correndo um risco muito grande. Geralmente, as pessoas colocam rodas maiores para dar uma aparência mais esportiva, porém, perde-se a resposta [do carro], principalmente em altas velocidades”, adverte o engenheiro, que tem 42 anos de experiência na área.
Argemiro elabora que os pneus e as rodas são desenvolvidos e homologados com os automóveis. Por isso, a substituição do kit interfere em tudo que a montadora testou e aprovou: molas, barra de torção, folga do volante, amortecedores, emissão de ruído, inércia, vibrações, parâmetros de transferência de carga, rigidez do conjunto, entre outros.
Rodas maiores também alteram a dinâmica de equilíbrio de um carro, que pode perder o controle com mais facilidade em manobras evasivas. Este comportamento, de acordo com o especialista, é mais evidente em SUVs — por conta do centro de gravidade mais elevado — e no eixo traseiro. E o fato de uma das rodas traseiras ter se partido pode ter deixado o Range Rover do artista mais “incontrolável”, diz.
O acidente envolvendo o cantor também aconteceu por conta da roda reparada com solda, que se partiu e rasgou o pneu. O coordenador técnico consultado por Autoesporte foi enfático: “Em circunstância alguma deve-se utilizar um kit de rodas reformadas, pois não são confiáveis. Está no manual do veículo como regra da fabricante”.
Nesta condição, há um agravante: a qualidade das vias brasileiras. De acordo com o especialista, o nosso pavimento tem muitos buracos, e algumas estradas sequer são asfaltadas. “Imagine o desgaste de rodas com trincas que foram reparadas com solda ao longo dos anos”, alerta.
“Vejo a reforma de rodas como um perigo. Sob nenhuma hipótese recomendaria a instalação. Elas devem ser vistas como um item de segurança, e não estético. É por lá que o carro transmite todas as suas forças. Em outras palavras, as rodas são único elo de conexão entre o veículo e o asfalto”, finaliza.
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Fonte: direitonews