Outsider na política, Pablo Marçal defende agenda liberal e pauta verde


Empresário, influenciador digital e pré-candidato à prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal, de 37 anos, ainda figura como “outsider” na política brasileira após ter sua candidatura política barrada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 2022. Com cerca de 10 milhões de seguidores nas redes sociais, ele defende propostas liberais e temas da pauta verde como solução para os problemas da capital paulista.

Filiado ao PRTB, Marçal não possui padrinhos políticos e busca em siglas minoritárias um espaço para entrar na vida político-partidária. Segundo levantamento publicado pela Paraná Pesquisas, na última quarta-feira (29), o coach aparece em quinto lugar, com 5,9% das intenções de voto.

Liderando a pesquisa*, o prefeito Ricardo Nunes atingiu 28,1%. Já Guilherme Boulos (PSOL), 24,2%. O apresentador Datena (PSDB) aparece como o terceiro colocado, com 12,1%, e a deputada federal Tabata Amaral marcou 9,1% das intenções de voto.

Mas quais são as propostas de Pablo Marçal? Em seu perfil no Instagram, o empresário indicou o que pensa sobre temas questionados por seguidores, como Educação e Segurança. Indagado sobre o ensino municipal, ele defendeu a participação de igrejas e empresas, alegando que a educação pública não é suficiente para a cidade de São Paulo.

“Empresas, igrejas, instituições, comunidades, repartições públicas terão braços de ensino próprio para treinar todo mundo. O ensino básico não consegue ajustar a nossa rota como povo. A educação deve estar em todas as partes.”

Em outra publicação, Marçal defendeu que a Guarda Municipal da capital paulista seguisse o modelo adotado na cidade de Orlando, no estado americano da Flórida. “Uma nova guarda municipal semelhante à de Orlando, na Flórida. Carros elétricos, blindados e potentes. Ninguém vai desrespeitar a guarda da cidade e, com aumento de respeito, vão diminuir as agressões em casos pontuais”, disse o influenciador.

Marçal também demonstrou ser a favor da pauta verde para São Paulo. Ele defendeu a eletrificação da frota de carros como solução para a poluição que cobre a cidade. Além disso, prometeu zerar o imposto municipal para veículos elétricos.

“Eletrificação da frota: zerar imposto para carros elétricos nos próximos 10 anos. Terminar o Rodoanel e deslocar toda carga pesada por essa rota. Implementar trem bala magnético para cruzar a cidade e capitalizar para as nove entradas de rodovia da cidade.”

Ainda no Instagram, o empresário acenou para Tarcísio Gomes de Freitas, governador do estado. “Somos amigos, contribuí para a campanha dele de governador. Sei dos compromissos dele. Ele poderá ser um grande presidente da República em breve. Um grande engenheiro”, afirmou Marçal.

Para o cientista político Adriano Cerqueira, do Ibmec de Belo Horizonte, Marçal indica ter uma posição mais liberal do que conservadora, o que pode gerar desconfiança em segmentos importantes para a direita em São Paulo.

“Eu não o vejo assumindo posições contundentes em questões de costumes. Ele tem uma atuação mais na área econômica e empresarial. Apesar de ele ter assumido um tom mais oposicionista, não vejo, até o momento, uma posição conservadora da parte dele. Então, acredito que o eleitorado mais à direita, mais próximo ao Bolsonaro, deva ter alguma desconfiança em relação a quem ele é”, disse Cerqueira.

O cientista político Elton Gomes, professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), também ressaltou que a falta de um discurso mais conservador e incisivo no posicionamento de Marçal pode ser um ponto de questionamento por parte dos eleitores de direita.

“Do ponto de vista econômico, é alguém que está ligado a uma agenda mais empresarial, uma figura do marketing digital. No entanto, é alguém que ainda não se mostrou sobre as pautas de costume, questões morais. Ele se apresenta como cristão, uma pessoa religiosa, mas não sei até que ponto isso é um produto de consumo que ele oferta para seus seguidores”, disse Gomes.

Bolsonaro não deve trocar Nunes por Marçal

O desempenho de Marçal na pesquisa não passou despercebido pelo Partido Liberal. Em reserva, um parlamentar ligado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) contou que a postura do ex-mandatário é de neutralidade em relação ao empresário goiano: não apoiando, mas também não criticando.

A possibilidade de Bolsonaro retirar o apoio a Ricardo Nunes (MDB), atual prefeito de São Paulo, chegou a ser aventada na imprensa e nos bastidores do partido. No entanto, segundo esse parlamentar, o ex-presidente não mudará a estratégia do PL em São Paulo. Na visão de integrantes do PL, Marçal não tem posicionamentos de um candidato conservador. Além disso, ele é visto como alguém que não se alinha completamente com a base do partido.

Apesar de Bolsonaro e Nunes não serem próximos, prevaleceu o entendimento de que o atual gestor municipal é o candidato mais apto para disputar contra Boulos. No entanto, congressistas mais ligados ao ex-presidente e a ala conservadora do partido ainda defendem que a legenda deveria ter lançado o deputado Ricardo Salles (PL-SP) como pré-candidato.

Candidatura à prefeitura de SP é terceira tentativa na política

A candidatura à prefeitura de São Paulo é a terceira tentativa de Marçal na vida política. Em 2022, o coach lançou sua pré-candidatura à Presidência da República pelo PROS e chegou a ter seu nome testado em pesquisas de intenção de voto. Entretanto, divergências internas do PROS fizeram o partido apoiar a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Indo contra o partido, ele apoiou Bolsonaro.

Com a decisão da legenda, ele se candidatou ao cargo de deputado federal, recebendo 243 mil votos. No entanto, a candidatura foi impugnada pelo então ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Ricardo Lewandowski devido à falta de documentos.

Ele concorreu sub judice, mas a decisão final do Tribunal Superior Eleitoral sepultou sua candidatura. Como o PROS fechou apoio com o PT, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) ficou com a vaga.

Marçal acumula polêmicas por expedição e declarações

O empresário goiano teve seu nome viralizado ainda em 2022, quando foi protagonista de uma expedição ao Pico dos Marins, na Serra da Mantiqueira (SP). Na ocasião, após enfrentar tempestades e ventos de até 100 quilômetros por hora, o grupo precisou ser resgatado pelo Corpo de Bombeiros. Marçal chegou a ser acusado de expor as pessoas a risco. Mas, no entendimento do delegado que presidiu o caso, ele não teve nenhuma responsabilidade pelo ocorrido.

A polêmica mais recente do coach envolveu as enchentes do Rio Grande do Sul, quando Marçal afirmou que “um empresário enviou mais aeronaves que a FAB” ao estado gaúcho. Por conta disso, ele foi alvo de uma ação judicial movida pela Advocacia-Geral da União (AGU). Na petição, protocolada no início de maio, a instituição pede que Marçal publique uma resposta, em suas redes sociais, com informações sobre a atuação dos militares em meio à catástrofe.

Não é a primeira vez que o empresário sofre com problemas na Justiça. Em 2010, ele foi apontado pelo Ministério Público Federal (MPF) como suposto participante de um grupo que teria desviado dinheiro de bancos em meados de 2005.

O grupo criava sites falsos de instituições financeiras, como a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil, e mandava e-mails acusando pessoas, falsamente, de inadimplência. Os criminosos roubavam dados e informações das vítimas e, ainda, “infectavam” computadores e dispositivos digitais com programas conhecidos como “cavalos de Troia”.

Ele chegou a ser condenado em 2010 pela prática do crime de furto qualificado a 2 anos e 6 meses de reclusão. No entanto, a pena dele foi extinta por prescrição retroativa em 2018. “Todas as pessoas que estavam nessa situação foram condenadas e cumpriram pena. Eu fui o único que teve extinção da punibilidade”, disse Marçal em 2021.

Metodologia

*1.500 pessoas foram entrevistadas pessoalmente, pelo Paraná Pesquisas, entre os dias 24 e 28 de maio de 2024. A pesquisa foi realizada por iniciativa do próprio Instituto Paraná de Pesquisas e Análise de Consumidor Ltda. A confiança é de 95%. A margem de erro é de 2,6 pontos percentuais para mais ou para menos. Registro no TSE nº SP-05645/2024.

Fonte: gazetadopovo

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