A despeito das regras previstas no novo arcabouço fiscal, ainda não aprovado pela Câmara dos Deputados, os gastos públicos no país deverão crescer em nível superior ao dos demais países emergentes.
A previsão pessimista foi feita pelo presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, ao pregar a necessidade de rediscussão da estrutura do gasto público, em especial, no que se refere a cortes de recursos de pessoal, que culminaram com o congelamento de reajustes salariais do funcionalismo público, nos últimos anos.
“No Brasil, se gastou em termos reais muito mais do que no mundo emergente nos últimos anos e mais do que no mundo desenvolvido”, disparou o dirigente, ao participar de evento do Santander, em São Paulo nesta terça-feira (22).
Ao ressaltar a necessidade de se dispor de um arcabouço fiscal dotado de credibilidade, Campos Neto revelou que as despesas do governo geral no país, somente neste ano, apresentaram crescimento real de 7,5%, ante uma alta média de 1% na América Latina. Para o próximo ano, a estimativa é de alta de 1% no país, mas recuo de 0,9% na América Latina.
“Isso significa que nós temos um trabalho para fazer em termos de gastos, e que não é um trabalho fácil, não é uma coisa desse governo nem de outro governo, é uma coisa estrutural brasileira. Nós tivemos alguns momentos onde tentaram cortar gastos, mas em grande parte foi conjuntural, não foi estrutural”, acentuou.
Risco de ruptura – Em outro ponto de sua participação no evento da capital paulista, o ‘xerife do real’ frisou a importância de que haja uma solução para os problemas do crédito rotativo, para que não haja uma ‘ruptura’ do mercado de crédito, uma vez que a participação do cartão de crédito no consumo brasileiro é bem mais elevada, se comparada com à de outros países.
“A gente precisa achar uma solução que entenda que o parcelado sem juros é importante para o consumo brasileiro, não pode ter nenhuma ruptura”, acentuou Campos Neto, ao admitir “não ter como dizer como dizer qual vai ser a solução, mas acho que a solução vai passar por esses pontos. Não fazer nada pode ser pior”. Entre as muitas dúvidas que persistem, estão eventuais restrições ao parcelamento sem juros, que seria subsidiado, segundo os bancos, pelos juros cobrados no crédito rotativo.
Enquanto não há uma solução à vista para o problema, Campos Neto avalia que, “se a inadimplência está acima de 50% no rotativo, isso mostra que há algo de errado com essa linha de crédito”. No seu entendimento, o crescimento expressivo da inadimplência nos últimos meses decorre da rápida expansão da oferta, potencializada pelo ingresso de ‘novos players’ nesse mercado.
Fonte: capitalist