Caso seja mantida (pelo Conselho Monetário Nacional – CMN) a meta de inflação para 2024 e 2025 em 3%, valendo o mesmo percentual para 2026, as condições para a redução dos juros pelo Banco Central (BC) se ‘abrirão’ em agosto próximo.
Tais pré-requisitos para o corte da taxa básica de juros (Selic) foram formulados pelo chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) e ex-diretor da Dívida Pública e Mercado Aberto do Banco Central (BC), José Júlio Senna.
Uma vez iniciado esse ‘movimento’, Senna entende que haverá um efeito extraordinário na economia brasileira, sobre a qual viriam ‘ventos favoráveis’. “A bola está quicando na pequena área, é só chutar para dentro do gol”, emendou, ao recorrer à linguagem futebolística para traçar um provável cenário futuro.
Neste aspecto, a expectativa de Senna é de que na reunião do CMN, no próximo dia 29 deste mês, seja adotado o modelo de meta contínua de inflação (acumulada em 12 meses, e não de janeiro a dezembro).
Ao adiantar que não “espera mudança significativa alguma no comunicado e na decisão do BC ”, o chefe do Ibre considera a decisão do CMN (em relação à meta de inflação) “o ingrediente indispensável” para o posicionamento da autoridade monetária (com relação à Selic).
Em contraponto à proposta de elevação da meta de inflação, encampada pelo presidente Lula – que disparou uma saraivada de críticas, com o objetivo de pressionar por uma redução mais rápida da Selic – Senna entende que essa estratégia “trouxe prejuízo importante para a própria inflação e para a condução da política monetária”, resultando numa ‘piora das expectativas de inflação”. Daqui em diante, o ex-diretor do BC avalia que o momento demanda uma escolha clara: se haverá mudança da meta (de inflação) ou se o Executivo se convencerá de que fazer isso equivaleria a “dar um passo em falso, um tiro no pé”.
Ao mesmo tempo, Senna entende que a posição assumida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no sentido de aguardar a definição, pelo CMN, da meta de inflação, para o próximo dia 29, como previsto, contribuiu para criar um ‘ambiente de tranquilidade’. No entanto, ele adverte que, caso o conselho decida aumentar a meta de inflação, essa medida deverá afetar a inflação corrente. “Se elas aumentam, sabemos que prejudicam a inflação corrente. Na hipótese de a meta ser revista para cima, as de 2024 e 2025, mesmo que se estabeleça a de 2026 em 3%, como se cogita, fazendo a meta contínua (aquela que vale o tempo todo), a reação seria ruim. Neutralizará os ventos favoráveis que têm vindo de outros lugares. Já na hipótese de o CMN estabelecer a inflação de 3% para 2026 e não alterar nada para 2024 e 2025, inclusive o intervalo de tolerância, o choque de expectativas favorável que isso dará será extraordinariamente bom”, conclui.
Fonte: capitalist