A condenação de Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado deu a largada na corrida para ocupar o vácuo de poder deixado pelo ex-presidente nas eleições presidenciais de 2026.
Antes mesmo da condenação, a Federação União Brasil-PP anunciou o desembarque do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A medida é vista como uma manobra para reunir apoio em torno de uma eventual candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), nome mais cotado como herdeiro do “espólio” bolsonarista.
A expectativa é que, caso Tarcísio ganhe o respaldo de Bolsonaro, outras legendas acompanhem o movimento. Caso contrário, outros nomes da direita já se posicionam para ocupar esse espaço, como os governadores de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), do Paraná, Ratinho Jr. (PSD) e de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil).
Em contraponto a essa movimentação, a ala bolsonarista aposta que a aprovação do projeto de anistia no Congresso viabilizará a candidatura de Bolsonaro. Em discurso após a condenação, o líder do PL na Câmara, o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), afirmou que o ex-presidente segue como única opção do partido.
“Ele é o nome, nós não temos outro plano a não ser Bolsonaro. Ele é plano A, B e C. E somente ele, por questões de saúde ou foro íntimo, pode abrir mão da candidatura e indicar outro nome. E quem ele indicar, seja quem for, nós vamos abraçar”, afirmou.
À Sputnik Brasil, Ricardo Ismael, cientista político e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), afirma que “o jogo já começou” e que a viabilidade de uma candidatura de direita vai depender de dois aspectos: herdar o eleitorado que segue fiel a Bolsonaro e conseguir mobilizar uma frente a nível nacional capaz de enfrentar Lula.
“Mas ainda estamos muito distantes do cenário em que vai ocorrer a definição das candidaturas à Presidência da República. Desta forma, candidatos no campo da direita se movimentam pelo país e procuram produzir conteúdo para redes sociais, testando seu potencial eleitoral. Evitam atacar uns aos outros, o que sugere a preocupação de evitar um racha”, afirma.
Ele aponta que Tarcísio, Zema, Ratinho Jr. e Caiado comandam estados importantes e têm gestões com boa avaliação, o que favorece a ocupação de algum espaço no noticiário. “Mas todos eles ainda procuram ganhar musculatura no território nacional.”
“Precisam se tornar mais conhecidos fora de seus respectivos estados. Tarefa difícil e que leva tempo, mesmo em tempos de cidadania digital.”
Ismael avalia que obter o apoio declarado de Bolsonaro, para levar os votos dos eleitores fieis ao ex-presidente, seria o ideal para qualquer candidato de direita, mas essa é uma equação complexa de resolver, ainda mais depois da condenação no Supremo.
“Bolsonaro não quer sair do jogo político de 2026 e de futuras eleições. Deve condicionar o apoio em 2026 a um indulto ou apoio a um projeto de anistia no Congresso Nacional.”.
Por outro lado, a saída da Federação União Brasil-PP do governo Lula, em uma movimentação para apoiar Tarcísio, pode se mostrar aquém do esperado uma vez que a coesão interna dos partidos não é tão forte dada a diferença entre as realidades estaduais e nacionais.
“Parte do PP e do União Brasil podem seguir apoiando o governo federal. A disputa pelas forças políticas que integram o chamado centrão está em curso. O apoio da centro-direita nos palanques estaduais será um objetivo do candidato da direita, e também do presidente Lula.”
Para André Luiz Coelho, professor da Escola de Ciência Política da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), o desembarque da Federação União Brasil-PP do governo Lula demonstra que essas legendas querem se apresentar como oposição ao governo Lula.
“E eles também já não vinham entregando os votos que o Lula precisava. Isso realmente demonstrava que eles não estavam ao lado do governo”, explica.
Em sua visão, a saída do governo e a aglomeração em torno de Tarcísio faz sentido, uma vez que ele é o candidato da direita que “sai na frente”, uma vez que possui o apoio do grande empresariado brasileiro.
Ao mesmo tempo, Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, se mostra contrário à uma candidatura de Tarcísio, dizendo que ele próprio pode concorrer à presidência no caso do impedimento de seu pai.
Todos os pré-candidatos da direita, nota Coelho, tem um histórico bolsonarista e hoje lutam pelo espólio eleitoral do ex-presidente. “O próprio Bolsonaro diz que ele vai determinar quem é o nome do bolsonarismo a concorrer à presidência.”
Em sua fala à Sputnik Brasil, o professor explica que essa é praticamente o único campo restante dentro da direita brasileira, uma vez que a direita moderada “se implodiu” em 2014 quando Aécio Neves não aceitou a derrota para Dilma Rousseff.
“O PSDB era o principal nome dessa direita, quiçá moderada, que foi se radicalizando ao longo do tempo, e isso, inclusive, deu margem para essa queda […]. Essa ala não existe muito forte eleitoralmente hoje.”
Mais do que isso, ele acrescenta que não há espaço para a renovação dentro da direita até 2026.
“Esse movimento provavelmente só vai acontecer após as eleições de 2026, caso o bolsonarismo não seja vencedor. No caso de uma derrota consecutiva, a direita, talvez, tenha que repensar a sua estratégia.”
Fonte: sputniknewsbrasil