“Apesar de o país oferecer possibilidade de regularização migratória mais facilitada, em contrapartida a vivência, o estar, o se integrar na sociedade […] tem se tornado cada vez mais difícil”, contou. “É um país colonizador e que, portanto, inclusive nos argumentos que a gente tem visto nas denúncias de xenofobia, coloca, projeta exatamente essa visão do colonizador sobre seu colonizado”, argumentou.
“Nós já tivemos casos de agressão contra estudantes, mais uma vez nessa perspectiva de que estão ocupando um espaço que não deveriam ocupar“, frisou ela.
“Há aqui muita resistência das universidades, da comunidade acadêmica, alunos, professores, reitoria com relação aos imigrantes, e aqui com relação especificamente à comunidade brasileira, porque essa questão da língua nas universidades é muito forte, as pessoas brasileiras encontram imenso preconceito linguístico e também uma desvalorização do seu conhecimento, da sua expertise.”
O que está acontecendo com brasileiros em Portugal?
“Pedem-se muitos cauções, muito adiantamento de renda. Já vimos casos em que um senhorio, por exemplo, chegou a pedir 12 meses de caução ou 12 meses de renda adiantados”, comentou.
Como são tratados os brasileiros em Portugal?
“Temos visto que têm crescido essas narrativas anti-imigração aqui em Portugal, que é um país que tem uma necessidade de mão de obra muito grande, um país também de emigração, ou seja, muitos portugueses saem para outros países. É um país envelhecido que precisa de mão de obra para conseguir balancear a segurança social”, comentou.
“O estereótipo, a perspectiva de dominação, de subalternização e de interiorização das ex-colônias africanas são ainda muito presentes e muito fortes. Ainda há pessoas que vivenciaram a guerra colonial, que estão vivas. De forma alguma Portugal se reconhece e se percebe como um país racista, mas de fato há uma segregação racial. Essas pessoas foram empurradas para a periferia. O tratamento delas é totalmente diferente em comparação com o imigrante brasileiro branco, por exemplo”, pontuou.
“Considerar que a África, de forma geral, é inferior intelectualmente, por exemplo, que existem raças que são intelectualmente mais inteligentes do que outras, isso impera ainda hoje”, refletiu Costa.
Quais as dificuldades de morar em Portugal?
“‘Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor’, então a gente pode trazer isso para um canto da consciência. Acho que está muito no campo dos estudos sobre violência, pensar como é possível alguém que sofreu racismo produzir racismo, alguém que sofreu violência no campo da segurança produzir violência e, portanto, ser aberto a um discurso de armamento, por exemplo”, concluiu a pesquisadora.
Fonte: sputniknewsbrasil