SÃO PAULO, SP – A Assembleia-Geral da ONU aprovou o austríaco Volker Türk, 57, como o próximo alto comissário para Direitos Humanos da organização. Ele é funcionário das Nações Unidas há 30 anos e, até então, trabalhava no escritório do secretário-geral António Guterres -de quem recebeu a indicação para o novo cargo.
Turk sucederá a chilena Michelle Bachelet, que terminou o mandato em 31 de agosto. Na prática, o alto comissário para Direitos Humanos da ONU desempenha um papel importante ao se manifestar para comunidade internacional contra retrocesso de liberdades.
Um dos primeiros desafios do austríaco será acompanhar os desdobramentos de um relatório sobre a região chinesa de Xinjiang, lar da minoria muçulmana uigur. O documento de 48 páginas, publicado por Bachelet pouco antes de sua saída, acusa a a China de cometer “graves violações aos direitos humanos”. A equipe da ONU afirma ter coletado relatos sobre tortura, maus-tratos e detenções arbitrárias.
A China negou as acusações. Logo após a divulgação do relatório, o embaixador do país na ONU, Zhang Jun, disse a jornalistas que o país havia deixado claro a Bachelet que se opunha ao documento, ao qual a China teve acesso antes da divulgação, alertando para o risco de ele minar as relações com as Nações Unidas. “Todos sabemos que a chamada questão de Xinjiang é uma mentira fabricada com motivos políticos e visa a minar a estabilidade da China e obstruir o seu desenvolvimento”, disse.
Após a confirmação do nome do novo alto comissário, a China declarou que espera que Turk “lidere o escritório no cumprimento rigoroso dos princípios de objetividade, imparcialidade e não politização”. Já a vice-embaixadora dos EUA na ONU disse que o austríaco deve denunciar violações e abusos de direitos humanos “onde quer que ocorram”.
Além de Türk, eram especulados para o cargo o diplomata argentino Federico Villegas e a senegalesa Adama Dieng, ex-conselheira de Guterres na prevenção do genocídio. Mas, segundo a organização independente Serviço Internacional para os Direitos Humanos (ISHR, na sigla em inglês), geralmente os nomes apontados pelo secretário-geral ganham a disputa.
Para Phil Lynch, diretor-executivo da ISHR, faltou transparência e consulta com a sociedade civil na escolha do indicado ao cargo. “O secretário-geral perdeu a oportunidade-chave para construir a legitimidade e a autoridade do próximo alto comissário”, disse.