“Essa visita é especialmente importante para a Bolívia nesse momento em que o país viveu uma tentativa de golpe militar e que vem enfrentando não apenas uma grande polarização política com a direita, mas também uma forte divisão no campo da própria esquerda, com a disputa entre Morales e Arce. A Bolívia enfrenta também uma crise cambial, levando a problemas de desabastecimento em alguns produtos essenciais, como o diesel, o que contribui ainda mais para a instabilidade política. Embora seja preciso dizer que o país, apesar de não apresentar mais os elevados índices de expansão de alguns anos, continua a crescer acima da média da América Latina e com a inflação sob controle”, resume à Sputnik Brasil.
O que foram os atos de 8 de Janeiro?
“O apoio, tanto de Lula como dos demais presidentes, é importante para reforçar a legitimidade do presidente boliviano para a consolidação de uma agenda que já se desenvolvia há alguns anos, que é a da entrada da Bolívia no Mercosul. É difícil precisar se esses apoios podem alterar drasticamente a correlação interna de forças no país, mas, do ponto de vista da política externa, são sim relevantes em um contexto de tensão política na Bolívia”, pontua.
🇧🇷🇧🇴 Mercosul: ao mencionar tentativa de golpe na Bolívia e 8 de Janeiro, Lula afirma que ‘não há atalhos para a democracia’
Nesta segunda-feira (8), durante seu discurso na reunião de cúpula do Mercosul, em Assunção, capital do Paraguai, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva… pic.twitter.com/21fJYhWfl9
— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) July 8, 2024
Qual a relação da Bolívia com o Brasil?
“Portanto, existe um significativo potencial de crescimento das exportações brasileiras para a Bolívia no qual o Brasil está apostando. Nosso saldo comercial com a Bolívia ainda é deficitário em função da grande importação de gás, mas nossas exportações têm grandes possibilidades de crescimento. E elas são, sobretudo, de produtos manufaturados, isto é, com maior valor agregado. Além disso, existe […] um espaço importante para a expansão dos investimentos diretos externos das empresas brasileiras, que estão neste momento em um franco processo de internacionalização”, diz.
Lula e Arce defendem maior integração
“Assim como no Brasil, a democracia boliviana prevaleceu após um longo caminho entrecortado por golpes e ditaduras. Mas o que julgávamos que era o fim da estrada provou ser ainda um terreno movediço. Em 2022, o Brasil completou o bicentenário de sua independência em um dos momentos mais sombrios de sua história. Em vez de celebrar, fomos tomados por uma onda de extremismo que desembocou no 8 de Janeiro. O povo boliviano já havia provado desse gosto amargo com o golpe de Estado de 2019 e agora se viu acometido pela tentativa de 26 de Junho. Às vésperas de comemorar o seu bicentenário em 2025, a Bolívia não pode voltar a cair nessa armadilha. Não podemos tolerar devaneios autoritários e golpismos”, declarou Lula.
Brasil e Bolívia compartilham posições políticas parecidas
“A grande voz dissonante neste momento é a do presidente argentino, Javier Milei, que já se manifestou contrário aos esforços de integração regional desde sua campanha eleitoral. Sua busca, totalmente equivocada ao meu ver, é de uma articulação solo com os EUA e a Europa. Uma das críticas mais contundentes à ausência de Milei na reunião na cúpula do Mercosul foi a do presidente uruguaio Luis Lacalle Pou, que é de centro-direita. Infelizmente, não se trata de uma questão isolada”, finalizou.

Fonte: sputniknewsbrasil