Viagem ao golfo Pérsico e entrada na OPEP+: O Brasil volta os olhos para o Oriente Médio


Nos últimos dias o presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve em viagem pelo Oriente Médio, onde não só participou da COP-28, que ocorreu em Dubai nos Emirados Árabes, como esteve em Riad, na Arábia Saudita e em Doha, no Catar, onde estabeleceu novos acordos e entendimentos comerciais com essas nações.

Qual a relação do Brasil com o Oriente Médio?

Segundo explicou Osmar Chohfi, presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, o Brasil possui um histórico muito rico de comércio com os países da Liga Árabe.
Em 2022 o volume das trocas totalizou US$ 32,78 bilhões (R$ 162 bilhões, na cotação atual).
Esferas de armazenamento de gás liquefeito de petróleo (GLP) da Refinaria Duque de Caxias (Reduc), da Petrobras. Duque de Caxias (RJ), 20 de março de 2013 - Sputnik Brasil, 1920, 01.12.2023

O que o Brasil exporta para o Oriente Médio?

O presidente da câmara comercial aponta que países árabes vêm aproveitando as exportações de alimentos oriundas do parceiro da América do Sul.
“O Brasil nos últimos 30 anos vem se firmando como um parceiro muito importante da segurança alimentar dos países árabes, sobretudo os do Golfo, onde chega a fornecer até 80% [das exportações]”, afirmou Chohfi.
Em contrapartida, as nações árabes são grandes fornecedoras de fertilizantes e hidrocarbonetos (petróleo, gás natural e derivados) para a nação brasileira.

“Se hoje a maior parte do volume comercial dos dois lados se referem à commodities, alimentares, energéticas e agrícolas, na última visita do governo brasileiro à região vimos uma série acordos nas áreas de defesa, biotecnologia, energia verde, indústria aeroespacial e fertilizantes sinalizando uma possível inclusão de mais produtos de valor agregado na atual pauta de exportações”, aponta Chohfi.

Brasil na OPEP+

A mudança de visão sobre a matriz energética também pode ser observada pela entrada do Brasil na OPEP+, grupo de países que estão ligados as decisões de produção da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP), cuja metade dos integrantes é do Oriente Médio e do norte da África.
Segundo o presidente Lula, o país não entra no grupo para participar das decisões, mas sim para reforçar o compromisso de uma matriz energética mais sustentável.
Logo da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 04.12.2023

Para Christopher Mendonça, professor de relações internacionais da Ibmec de Belo Horizonte, no entanto, atualmente a matriz petrolífera ainda é o grande destaque estratégico que a região oferece ao país.
“O Brasil embora tenha disponibilidade de energia limpa crescente, conhece os limites dessa matriz e quer garantir a sua aproximação de países exportadores e produtores de petróleo”, afirmou.

Por que o Oriente Médio é geopoliticamente estratégico para o Brasil?

A recente aproximação entre o Brasil e os países do Oriente Médio não se deu apenas no campo comercial.
A partir de 2024 a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e o Irã se juntarão ao BRICS, aumentando o número de vezes que as nações sentarão para conversar.
O Brasil tem uma atuação muito respeitada pelos países do Oriente Médio“, afirmou Chohfi.
Para Jorge Mortean, geógrafo e professor de relações internacionais, mestre em estudos regionais do Oriente Médio no Irã e atual doutorando em geografia política na Universidade de São Paulo (USP), destaca, aproximar-nos da região “é entrar em contato com países que podem favorecer o Brasil em jogadas multilaterais, sobretudo sobre o viés comercial, assim como determinar alinhamentos diplomáticos e políticos”.
Nesta foto divulgada pelo site oficial do gabinete da presidência iraniana, o presidente Ebrahim Raisi, à esquerda, aperta a mão de seu homólogo chinês, Xi Jinping, em cerimônia oficial de boas-vindas em Pequim. China, 14 de fevereiro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 04.12.2023

O geógrafo lembra que o Brasil tem um histórico de se envolver diplomaticamente na região, afirmando que foram experiências frutíferas, mas que “na área internacional não caiu muito bem o destaque positivo que o Brasil teve” devido a um “incômodo estratégico” dos Estados Unidos e da Europa.
Na época, em 2010, os Estados Unidos incentivaram o Brasil a mediar um acordo de enriquecimento de urânio entre a Turquia e o Irã.
No entanto, ao ser finalizado, os norte-americanos voltaram atrás e aplicaram mais sanções ao Irã e o tratado que “criaria confiança mútua“, como disseram os estadunidenses, no Oriente Médio, caiu por água abaixo.

Nós incomodamos em tirar o protagonismo graças a nossa grande vantagem, que é a tradição de neutralidade e respeito das nossas ações diplomáticas perante a comunidade internacional”, reforça Mortean.

Por conta disso, é esperado pelo especialista que o Brasil atue diplomaticamente de forma diferente do que no passado. “Acho que as grandes potências do centro mundial não vão deixar que potências periféricas se reorganizem, coordenem suas próprias ações”, explica.

“Então, dado esse cenário geoestratégico, eu acho que o Lula vai apostar em ter algum tipo de liderança e mediação, mas sempre utilizando organismos internacionais multilaterais, como fóruns regionais, a própria ONU ou organismos que façam parte da estrutura da ONU, como o Conselho de Segurança”.

O Brasil dá ênfase especial ao Oriente Médio?

O presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasil afirma ainda que há muito o que ser explorado em termos comerciais.
“Os árabes detêm fundos soberanos de investimentos com capital estimado em mais de US$ 2,3 trilhões [R$ 11,3 trilhões] em ativos, que fazem negócios estratégicos em todo mundo“, afirmou Chohfi.
Só no Brasil, o saudita Salic possui posições importantes em empresas do agronegócio, como a BRF e a Minerva, enquanto o emiradense Mubadala atua em negócios diferentes em todo o Brasil, desde refinarias de petróleo, redes de academia e na gestão do metrô do Rio de Janeiro.
“Temos, portanto, uma tradição árabe em prospecção de negócios no Brasil, que agora esperamos ser importante também para viabilizar projetos na economia verde.”
Apesar de tanto potencial descrito por Chohfi, para Mendonça, Lula até agora não demonstra sinais de que fará do Oriente Médio uma prioridade em seu terceiro mandato. Em vez disso, o professor de relações internacionais vê uma continuidade do presidente em abrir diálogos ao redor do mundo.
“Em seus três mandatos o presidente tem buscado ampliar suas relações com os países da América Latina e também da África”, disse.
Para ele, contudo, a luta do Brasil pela aprovação do acordo comercial entre os blocos econômicos Mercosul e União Europeia mostram a verdadeira prioridade brasileira.

“O acordo com o União Europeia é uma sinalização daquilo que de fato é a prioridade de nossa política externa.

Estação de metrô em Cingapura é considerada uma das mais sustentáveis do mundo pelo verde abundante nas construções. Cingapura, 15 de julho de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 28.11.2023

Fonte: sputniknewsbrasil

Anteriores Acusados de homicídio, réus são absolvidos pelo Tribunal do Júri após mais de 16 horas em Esplanada-Bahia
Próxima F1: Tost elogia disciplina de Vettel e Verstappen em suas carreiras