Vesper Ventures, de SC, capta R$ 100 milhões para desenvolver negócios bilionários com biotecnologia


Muita gente fala do potencial da biotecnologia no país com natureza exuberante como o Brasil. Essa conversa dá uma certa urticária no empreendedor catarinense Gabriel Mantovani Bottós.

“Sabemos das oportunidades, mas poucos abrem a carteira para tirar as ideias do papel”, diz ele. “A mentalidade dos fundos com atuação no Brasil é de curto prazo, um horizonte pequeno demais para a maturação de negócios de tecnologias incipientes.”

Bottós tem propriedade para falar do assunto. Em 2008, ele e o irmão Rafael fundaram a Welle Laser, fabricante de máquinas de corte a laser cuja tecnologia foi desenvolvida pelos dois após uma temporada no Instituto Fraunhofer, centros de excelência espalhados pela Alemanha e dedicados à tecnologia avançada.

Reconhecida em 2014 pela EXAME como a pequena e média empresa com maior crescimento no Brasil, a Welle Laser entrou para a Endeavor, rede global de fomento ao empreendedorismo e expandiu o portfólio para soldas e sensores para monitoramento das máquinas a laser.

O que é a Vesper Ventures

Nos últimos cinco anos, Gabriel resolveu atuar também no outro lado do balcão — o do financiamento a tecnologias ainda muito longe do ponto de maturação.

Ele é o fundador da Vesper, uma gestora de venture capital dedicada à biotecnologia. A pegada, por ali, é o de financiar a ideia de empreendedores com gana de não apenas criar um negócio, e sim mercados inteiros para chamar de seus.

“A gente aqui está disposto a encontrar ideias que um dia valerão mais de 1 bilhão de dólares”, diz.

Nesta semana, os sócios da Vesper — Gabriel e o irmão, além de Julio Moura e Jonas Sister — anunciaram a captação de 100 milhões de reais para levar adiante o plano.

A quantia praticamente multiplicou por cinco o valor levantado desde o início da gestora, sobretudo junto a family offices e outros investidores acostumados a apostar em negócios inovadores.

Quais negócios o fundo está de olho

Ao todo, nesta nova rodada, serão selecionadas dez startups. Para fazer parte do portfólio da Vesper, os projetos têm que preencher os seguintes critérios:

  • ter um corpo científico de alto nível com pesquisadores qualificados e experientes;
  • serem projetos de inovações globais e patenteadas; criarem plataformas inovadoras,
  • trazerem soluções para problemas globais sérios com impacto na sociedade.

Ao contrário de países acostumados a aportar recursos em biotecnologia, como Estados Unidos, Israel e Coreia do Sul, tudo isso ainda engatinha no Brasil.

“No Brasil, as incubadoras e aceleradoras se preocupam mais em conquistar o máximo de market share num curto período de tempo do que ajudar o departamento de P&D das empresas embrionárias”, diz ele.

“Para o desenvolvimento pleno de biotecnologia, no entanto, a estratégia é totalmente oposta, uma vez que utiliza tecnologias inéditas. Primeiro é preciso validar as hipóteses e só então negociar licenciamentos no mercado.”

Como será a seleção de ideias

O segundo fundo da Vesper vai contar apenas com financiamento de terceiros — o primeiro tinha recursos de family & friends além de uma quantia aportada pelos próprios sócios.

A Vesper vai selecionar empreendedores dispostos a começar o negócio do zero sob supervisão do grupo. O alvo preferencial são cientistas já com histórico de pesquisa em biotecnologia — e patentes registradas.

O plano é, de fato, “pegar na mão” da liderança acadêmica para ela virar, também, uma liderança empreendedora.

“Fora a própria dificuldade em se desenvolver biotecnologia, com pesquisa científica aplicada, nem todos os pesquisadores estão preparados, conhecem as regras do sistema, entendem a importância e o potencial de proteger seus ativos ou têm visão de negócio, o que resulta no baixo número de patentes”, diz Gabriel.

Antes de serem selecionados, os novos projetos passarão por uma avaliação de conselheiros científicos.

A lista inclui a neurocirurgiã Maíra Bicca (Johns Hopkins University), o médico cirurgião Paulo Schor, especialista em medical design, e Paulo Arruda, docente na Unicamp em agricultura e genética.

Quem já está no portfólio da Vesper

Com os 25 milhões de reais levantados na primeira rodada de captação, em 2019, a Vesper analisou 3.000 pesquisas científicas com potencial comercial.

O trabalho resultou num portfólio com os seguintes negócios:

  • Aptah, startup de biotecnologia focada em novas terapias de RNA, inicialmente voltadas para o câncer e doenças neurodegenerativas;
  • Cellertz, biotech que desenvolve a próxima geração de terapias celulares contra o câncer e outras doenças;
  • Reddot, startup de biotecnologia focada em diagnósticos moleculares;
  • Futr Bio, empresa de biotecnologia especializada no desenvolvimento de vacinas de mRNA de próxima geração para prevenir e curar doenças como infecções e câncer;
  • Vyro, biotech que cria tratamentos de saúde revolucionários baseados na utilização de vírus modificados por engenharia genética;
  • Symbiomics, biotech que isola microrganismos de nova geração para uso em soluções sustentáveis em diversas culturas;
  • InEdita, uma plataforma inovadora de edição de genoma de plantas para produção sustentável de alimentos

Fonte: exame

Anteriores F1: Dupla da Haas vê com bons olhos sprint race na Áustria
Próxima Quarta fase da Operação Smash cumpre mandados dentro de unidades prisionais