O setor varejista nacional deverá apresentar um desempenho modesto este ano, por conta, tanto do elevado nível de endividamento das famílias, como também pelo alto patamar de juros (hoje em 13,25% ao ano), que se reflete nas taxas de financiamento oferecidas pelo mercado.
Esse é o diagnóstico de especialistas sobre as perspectivas, no curto prazo, do setor, cuja recuperação é projetada somente a partir do ano que vem, quando os efeitos da chamada ‘flexibilização monetária’ do Banco Central (BC) começarão a surtir mais efeito.
Em que pese a estabilidade das vendas, divulgada, nesta quarta-feira (9), pela Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do IBGE, há menor disponibilidade de recursos, devido à política contracionista executada pelo BC, o que delineia um cenário de estagnação para os próximos meses.
Nesse sentido, a economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória, chama a atenção para o fato de que o setor acumulou queda de 0,3% no trimestre encerrado em junho, mesmo ante a queda da inflação e dados positivos de emprego e renda. “O setor varejista segue ainda impactado pelo aperto monetário e pela menor oferta de crédito observada no início do ano”, avalia.
Em relação ao avanço de 1,2% do varejo ampliado em junho último, a economista-chefe do Inter prevê que tal efeito positivo não deverá se repetir, pois esse desempenho favorável foi reflexo da aplicação de incentivos federais pontuais, visando ampliar a venda de veículos. “A expectativa para o segundo semestre é de baixo crescimento do comércio, apesar do início da redução dos juros. O comprometimento de renda das famílias ainda está elevado e a concessão de crédito só deve reagir ao cenário de queda dos juros a partir de 2024”, observa Rafaela.
Embora admita a ‘surpresa positiva’, em termos quantitativos, mostrada pela pesquisa do IBGE, o economista da CM Capital, Matheus Pizzani, não conta com um cenário animador em termos de atividade econômica. “Algo preocupante, tendo em vista a relevância do comércio, tanto em termos de PIB, quanto para o mercado de trabalho”, pontuou.
Segundo Pizzani, no caso do índice restrito, as duas quedas consecutivas do indicador decorrem de alguma correção ou devido a impactos de fatores sazonais. “No primeiro caso, destaque para a alta de 1,3% no grupo de hiper e supermercados que, ainda assim, foi incapaz de reverter integralmente a queda de 3,3% observada em maio”, comparou.
Outro exemplo é a venda de móveis e eletrodomésticos, duramente atingida pelo aperto monetário, que exibiu avançou 0,8% no mês, mas ainda amarga recuo de 1,9% no período de 12 meses.
A respeito do avanço de 1,2% registrado pelo varejo ampliado, impulsionado pelo crescimento de 8,5% do grupo de veículos, motocicletas, partes e peças, Pizzani aponta o reflexo da política federal de aplicação de incentivos à venda de carros, ainda que a medida não tenha implicado ganhos efetivos de escala na comercialização do item, por parte das montadoras.
Fonte: capitalist