Buenos Aires, Argentina – De acordo com dados da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), no mundo, um em cada 25 casos diagnosticados de câncer está relacionado à exposição do paciente ao HPV. Segundo a entidade, quatro mulheres morrem por hora vítimas de câncer de colo de útero ou de útero e, apesar de a ciência já ter avançado na vacina, tratamento e prevenção, a quantidade de vítimas segue subindo.
“É uma enfermidade oculta, que se esconde. As pessoas acham que tem a ver com promiscuidade, que o vírus passa de acordo com a quantidade de parceiros sexuais do paciente. Mas não é necessariamente assim, basta um parceiro infectado. Por essa vergonha, muitas mulheres deixam de fazer os exames preventivos e procurar atendimento quando percebem os primeiros sintomas”, afirma a médica Andrea Schilling, especialista em ginecologia infantil e adolescente, durante palestra no 19º Seminário Latino-Americano de Jornalismo em Ciência e Saúde, que ocorre, em Buenos Aires, na Argentina.
A profissional de saúde explica ainda que nem o uso de camisinha é suficiente para prevenir a contaminação — o preservativo só oferece 60% de proteção contra o HPV, que pode ser transmitido ainda pelo toque (o vírus pode ficar ativo debaixo das unhas), beijos e sexo oral.
A melhor maneira de evitar a infecção é pela vacinação. A imunização de adolescentes antes que tenham contato com o vírus é essencial para evitar que ele se multiplique quando os pacientes forem contaminados com o HPV: estima-se que uma em cada duas pessoas já teve, tem ou terá contato com o vírus até o fim da vida.
O patógeno já foi relacionado a pelo menos seis tipos de câncer: colo de útero, vulva, vagina, peniano, anal e orofaringe.
Casos de sucesso
Quase 15 anos depois do início da aplicação da fórmula em adolescentes, países nórdicos, que foram os pioneiros no calendário vacinal do HPV, dão conta que o vírus praticamente não existe mais na região. A Austrália, que investiu em uma campanha de imunização de mulheres até 26 anos, também considera o HPV quase erradicado na ilha.
Apesar da recomendação atual ser de imunizar apenas o grupo considerado de risco (meninas entre 9 e 14 anos e meninos entre 11 e 14 anos), o presidente da Federação Internacional de Patologia Cervical e Colposcopia, Carlos Humberto Perez Moreno, defende que todas as mulheres recebam a vacina em qualquer momento da vida. “Porém, não é um plano que seja viável economicamente. Por isso, seguimos priorizando os adolescentes”, diz.
Em junho, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) lançou um posicionamento onde defende que os ginecologistas brasileiros passem a recomendar a vacina a todas as mulheres com menos de 45 anos. Em pacientes que já tiveram lesões provocadas pelo HPV, o imunizante diminui em até 80% as chances de recidiva.
“Esse posicionamento da Febrasgo com uma recomendação ativa aos ginecologistas é um marco, já que a vacinação contra o HPV é importante, independentemente de a paciente já ter tido ou não algum contato ou infecção pelo vírus, para prevenir cânceres como o de colo de útero, vulva, vagina e ânus, além de verrugas genitais, a infecção sexualmente transmissível mais comum em todo o mundo”, afirma a diretora médica da MSD, Marcia Datz Abadi.
Atinge homens e mulheres
O vírus do HPV é o principal responsável pelo câncer de colo de útero em mulheres e de orofaringe em homens. Os primeiros estágios dos tumores não apresentam sintomas, e é muito comum que só sejam descobertos em estágio avançado. Além da vacina, a estratégia da comunidade científica é apostar nos exames de rastreamento, que devem ser feitos anualmente.
*A repórter Juliana Contaifer viajou a convite da farmacêutica MSD para acompanhar o 19º Seminário Latino-Americano de Jornalismo em Ciência e Saúde, que acontece em Buenos Aires.
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