“Desde quem efetivamente vive em situação de rua todo o tempo, pessoas com emergência de acomodação, que não conseguem encontrar acomodação sempre, ficam vagando de um lado para o outro, até o que a União Europeia chama de pessoas que vivem de forma não convencional ou temporal na casa de alguém, família, amigos, conhecidos, mas sempre com o perigo de serem despejados. Então são algumas categorias, e esse número de 1 milhão é bastante conservador.”
“No norte da Espanha é muito comum, e em algumas partes da França, [um problema] chamado pobreza energética. Pessoas que apesar de terem casa, apesar de terem a possibilidade de ligar o aquecimento no inverno, não podem porque não têm dinheiro para pagar, às vezes nem para manter a luz de casa acesa durante a noite. Então, se […] [isso] já é um problema, você tem casos de idosos que morrem, pessoas que vão para o hospital com problemas respiratórios por não poderem ligar o aquecimento, imagine morando na rua.”
“Mais ou menos 96% das cidades europeias tinham pessoas em situação de rua por problemas de abuso de substância, 92% por não poderem pagar um aluguel pelo alto preço, 88% por fundos insuficientes para se sustentar e 79% por problemas mentais. Então em 79% das cidades europeias você tem pessoas em situação de rua que têm problemas de saúde ou problemas mentais inclusos, que é a mesma porção de pessoas que acabam na rua por serem vítimas de violência doméstica, traumas familiares e problemas familiares.”
Dados da população sem-teto derrubam mito da superioridade europeia
“Sobretudo da região em conflito em torno da Síria e na Síria, que ficaram conhecidos com as travessias dramáticas do Mediterrâneo. Sem contar que, obviamente, a pandemia provocou uma queda de renda em muitas camadas mais vulneráveis das diferentes sociedades.”
“Gera uma certa estranheza, inclusive porque a gente tem sempre a ideia de que o meio de vida e a média de vida europeia sempre estariam em um patamar muito superior ao que nós conhecemos na América do Sul e no Brasil. Isso faz com que haja, digamos assim, uma frustração. Meio século depois dos grandes programas sociais europeus terem alcançado um grande sucesso, ao final da famosa época dos Trinta Gloriosos, você ainda tem uma franja de pessoas que sobrevivem na rua.”
“A crise no custo da moradia, combinada com a perda de emprego remunerado, que, infelizmente, é coisa que acontece com um bocado de gente, pode acarretar um incremento, digamos assim, por etapas ou por épocas, das pessoas que se encontram sem renda e que não têm mais como pagar aluguel. Ou não têm mais como pagar o gás, a água, a eletricidade, e, por consequência, não lhes sobra escolha, e frequentemente elas são despejadas das moradias originárias ou [forçadas a] ir para abrigos ou para a rua.”
“Há na França, notadamente, disposições legais que impõem [ônus] ao proprietário de casas que não estão ocupadas porque ele mora na dele, mas não bota o resto para alugar porque está querendo ganhar mais dinheiro com a manipulação dos aluguéis. Se o apartamento ou o alojamento ficar vazio para além de um determinado prazo, começam a ser impostas multas ou taxas de desocupação, para ver se empurram as pessoas a oferecerem esses alojamentos no mercado de locação.”
“Muitos locais acham que se houver uma inundação de imigrantes e refugiados, os governos vão criar políticas de proteção, o que é relativamente normal na prática internacional. […] E aí os mercados de trabalho, obviamente, não absorvem todo mundo assim, com um estalar dos dedos. [Isso] faz com que muitos locais considerem que a chegada dessas pessoas seja uma ameaça, que eles próprios poderiam perder os seus empregos se essa massa de pessoas vier a ser concorrente deles no mercado de trabalho.”
Fonte: sputniknewsbrasil