O mundo enfrenta neste momento a reformulação da geopolítica mundial na qual acordos comerciais pendentes ou estagnados começam a pesar na balança daqueles que querem ter influência em diferentes regiões.
É o que indica o Financial Times em uma reportagem na qual destaca a preocupação da União Europeia em relação à sua atuação e presença na América Latina.
De acordo com a mídia, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, prometeu uma política comercial reforçada para combater a influência global da China, disse também que apresentaria acordos comerciais com México, Chile e Nova Zelândia para ratificação e prosseguiria conversas com Austrália e Índia, mas quando anunciou seus planos, não fez menção ao pacto comercial estagnado com o maior bloco comercial da América Latina, o Mercosul.
Bruxelas aguarda o resultado da eleição presidencial brasileira insistindo que Brasília assine um compromisso separado para proteger a Amazônia, antes de ratificar o acordo com o bloco mercosulino.
Entretanto, a falta de progresso tem preocupado Josep Borrell, chefe de política externa da UE. Em julho, a autoridade preparou um documento confidencial para os chanceleres, visto pelo Financial Times, que mapeou a necessidade de um “salto qualitativo nas relações” com a América Latina e o Caribe em 18 meses.
No relatório, Borrell alertou para uma “sensação de desengajamento da UE“, acrescentando que o fracasso em concluir os acordos comerciais “prejudicou a credibilidade do bloco“, enquanto “a presença e a influência da China na região aumentaram exponencialmente”.
Na segunda-feira (19) passada, o chefe da política externa disse que a operação militar especial da Rússia na Ucrânia oferece uma “boa ocasião” para fortalecer os laços entre os países da América Latina e a União Europeia, conforme noticiado.
Contudo, o estagnado acordo do Mercosul não é o único problema nas relações comerciais da UE com a América Latina.
Um acordo comercial e de parceria com o México não foi ratificado por quatro anos devido a preocupações na Europa com os direitos ambientais e trabalhistas. O Chile ainda aguarda aprovação depois que Paris bloqueou o acordo da UE por causa das preocupações dos agricultores franceses com o aumento das importações de frango.
Um funcionário da UE, falando sob condição de anonimato, disse que o conflito na Ucrânia demonstrou que o bloco precisava de uma gama maior de aliados, especialmente os países democráticos da América Latina.
“Se você quer ganhar votos na ONU, não pode confiar apenas na UE, EUA, Canadá, Coreia do Sul e Japão. Precisamos trabalhar com muito mais países. A África já está arrendada à China porque eles têm sido mais estratégicos do que as democracias. Não podemos permitir que o mesmo aconteça com a América Latina”, disse o funcionário citado pela mídia.
Ainda segundo o Financial Times, o comissário de comércio da UE, Valdis Dombrovskis , está viajando para a América Latina ainda este ano.
A Delegação do Parlamento Europeu para América Latina disse que os acordos com o México e o Chile podem ser apresentados para ratificação aos Estados-membros e ao Parlamento Europeu este ano.
Quanto ao pacto do Mercosul, Javi López, que preside a delegação, acrescentou que “esperamos nos envolver com as autoridades brasileiras, bem como com os outros países do Mercosul, para levar o processo em andamento a uma conclusão bem-sucedida”.