Trump vs. Panamá: o retorno da política do Big Stick na América Latina


“A estratégia que Trump está elaborando, especialmente contra o Panamá e outros povos da América e do mundo, busca reeditar a política do Big Stick, de imposição, ultraje e humilhação”, declarou Rivera, referindo-se à doutrina que marcou a política externa de Washington desde o início do século XX.

O especialista destacou ainda que Trump tenta forçar o pequeno país, por meio do medo e da chantagem, a ceder aos EUA o controle do canal do Panamá, que liga os oceanos Atlântico e Pacífico. Desde dezembro de 1999, a estrutura é gerida localmente por conta dos Tratados Torrijos-Carter.
Os acordos, assinados em 7 de setembro de 1977 pelos presidentes Omar Torrijos e Jimmy Carter, garantiram também a devolução da faixa de território ao longo da via, então ocupada pelos EUA desde 1904, e a retirada das 14 bases militares que o país norte-americano mantinha na antiga Zona do Canal do Panamá.
Para Rivera, Trump representa interesses que desejam não apenas retomar o controle do canal, mas também reinstalar a presença militar no Panamá, começando pela província de Darién, na fronteira com a Colômbia.
Navios transitam pelo canal do Panamá perto da Cidade do Panamá, em 11 de maio de 2016 - Sputnik Brasil, 1920, 21.01.2025

“Querem uma base militar em Darién não apenas para tentar regular o fluxo de milhares de migrantes que cruzam o Panamá diariamente rumo ao norte, mas também para outros propósitos”, afirmou.

O presidente panamenho, José Raúl Mulino, já ofereceu um aeroporto na região à Força Aérea dos EUA para ser usado como escala para a deportação de migrantes não panamenhos. A decisão foi anunciada em 3 de fevereiro, após visita do secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio.
“Hoje querem uma base, mas não apenas para a questão migratória. Querem uma base que possa, potencialmente, ser usada para atacar outros países“, alertou Rivera, que é ex-embaixador do Panamá em Cuba e Nicarágua.
Além disso, o especialista afirmou que teme que os EUA planejem, no futuro, dar ao canal do Panamá um uso militar. “Sempre usaram o canal para a sua estratégia geopolítica e geoestratégica de dominação. Um ponto tão singularmente estratégico, onde um navio pode atravessar do Atlântico ao Pacífico, e vice-versa, em menos de oito horas.”
O ex-ministro do Trabalho e Desenvolvimento Social sugeriu que Washington se prepara para um confronto com um país asiático e, nesse contexto, precisa novamente de um “canal para a guerra, não um canal para a paz e o comércio, mas para a mobilização rápida de suas forças militares”.

“Além disso, não me surpreenderia se tentassem forçar o Panamá, por meio da Comissão do Canal, a conceder tarifas especiais as embarcações dos EUA, que, na verdade, transportam mercadorias para e dos Estados Unidos.”

No início do mês, o Departamento de Estado dos EUA chegou a anunciar que navios norte-americanos teriam passagem gratuita pelo canal, informação negada no mesmo dia pelo presidente panamenho.

China na mira de Trump

Rivera também apontou que a administração de Trump busca revogar concessões do Panamá a empresas chinesas, especialmente em portos estratégicos nas entradas do canal. Após sua visita ao país, neste mês, Marco Rubio declarou na rede social X que Washington não tolerará um suposto “controle” chinês sobre as operações no canal.
Para Rivera, as alegações de Trump e seus aliados carecem de lógica, já que a China, depois dos EUA, é o segundo maior usuário do canal. “A China não está envolvida em guerras. Seu desenvolvimento econômico e potencial financeiro se devem, entre outras coisas, ao fato de que não entra em conflitos militares há 50 anos”, afirmou o diplomata.
O especialista destacou também que “os recursos que os EUA gastam em guerras e com seus aliados são proporcionalmente os que a China investiu no desenvolvimento, beneficiando não apenas o comércio, mas também as condições sociais do seu povo”.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebe o presidente da República Popular da China, Xi Jinping, durante cumprimentos aos líderes do G20, 18 de novembro de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 12.02.2025

‘Política agressiva não poupa sequer aliados’

Ativo há seis décadas nos movimentos patrióticos do Panamá, Rivera alertou que o mundo atravessa um período difícil devido à política agressiva de Trump, que não poupa nem mesmo aliados, como demonstram suas tentativas de se apropriar da Groenlândia e os atritos com o Canadá.

“Desde que Trump tomou posse, ele imediatamente mudou o nome do golfo do México. Isso não deve ser visto com leveza ou pouca preocupação. Certamente há algum interesse militar ali”, advertiu.

Por fim, o especialista afirmou que a resistência às pressões norte-americanas é compartilhada pela maioria dos panamenhos. “O Panamá é um país pequeno, mas tem dignidade, honra e orgulho nacional. Por isso é hora de reafirmarmos nossos princípios: uma única bandeira, um único território. Tenho certeza de que nosso povo saberá se posicionar”, concluiu.
Logo da emissora Sputnik - Sputnik Brasil
Acompanhe as notícias que a grande mídia não mostra!

Siga a Sputnik Brasil e tenha acesso a conteúdos exclusivos no nosso canal no Telegram.

Já que a Sputnik está bloqueada em alguns países, por aqui você consegue baixar o nosso aplicativo para celular (somente para Android).

Fonte: sputniknewsbrasil

Anteriores Avião de Pequeno Porte Sai da Pista no Aeroporto Campo de Marte em São Paulo
Próxima VÍDEO: Lutadores de jiu-jitsu detêm ladrão de fiação elétrica em São Paulo