Trens de SP recebem tecnologia de carros de luxo; veja como funciona


Quem curte carros está familiarizado com sistema de frenagem de emergência, sensores de ponto cego e outras assistências que auxiliam os motoristas diariamente. Aos poucos, itens de segurança que monitoram o comportamento de quem está ao controle são incorporados em outros meios de transporte, como aviões, barcos e até trens.

Este é o caso do consórcio ViaMobilidade, que opera em São Paulo nas linhas 8-Diamante (Júlio Prestes–Itapevi) e 9-Esmeralda (Osasco–Mendes), com trens que já oferecem monitoramento ativo do comportamento do maquinista. O sistema, porém, é bem mais complexo que o dos automóveis atuais.

Autoesporte esteve no pátio da Estação Presidente Altino, na região de Osasco, para conhecer a operação da ViaMobilidade e os recursos de segurança inéditos que foram implementados recentemente nos trens.

O sistema de detecção de fadiga dos trens da ViaMobilidade é feito por duas câmeras. Uma delas fica literalmente à frente do maquinista e parece uma webcam. A outra está em um ponto mais elevado na cabine, como uma câmera de segurança convencional.

O sistema pode detectar cansaço e distrações no comportamento do maquinista, além de emitir alertas sonoros e até avisar o supervisor de que algo está errado. O funcionamento pode ser visto na prática no vídeo abaixo:

As câmeras identificam piscadas mais longas e até bocejos, emitindo o aviso sonoro “atenção”. O uso do celular também pode ser “denunciado”, tanto com o aparelho ouvido do condutor quanto em cima do painel, enquanto escreve mensagens de texto.

Conduzir um trem exige atenção máxima do maquinista, ainda mais quando está transportando quase duas mil pessoas simultaneamente nos horários de pico em São Paulo.

O maquinista recebe estímulos o tempo todo para mostrar que está atento ao caminho. Entre eles, há um botão que se acende no painel e emite um alerta sonoro a cada 300 metros percorridos. O operador deve apertá-lo para mostrar que está tudo ok, como um check point.

Além disso, o condutor do trem está com o pé apoiado em um botão chamado “homem morto”. Os motores dependem disso para funcionar. Em caso de mal súbito, infarto, desmaios ou outras ocorrências, o pé do maquinista deixa de pressionar o botão, emitindo um alerta para os controladores do fluxo da linha e parando o trem automaticamente.

Os trens ainda oferecem outros aparatos de segurança, como o SIAP (Sistema Inteligente para Auxílio de Abertura de Portas). O dispositivo evita a abertura de portas no lado oposto da plataforma.

Como complemento à tecnologia, os maquinistas também usam uma antiga técnica japonesa chamada shisa kanko (“apontar e falar”), que consiste em gesticular e falar sozinho para garantir a assertividade em uma conversão de trilhos, por exemplo. Segundo a ViaMobilidade, a técnica garante uma redução de 86% dos erros.

O sensor de fadiga começou a ser testado nos trens da ViaMobilidade em junho de 2022. Já a implantação total foi concluída em novembro do mesmo ano. Pela quantidade de estímulos, tarefas e os recursos de segurança, os maquinistas passam por um longo treinamento de 600 horas que pode durar até quatro meses. A concessionária também tem utilizado óculos de realidade aumentada durante a preparação dos condutores para simular cenários de adversidade.

O sistema implementado nos trens da ViaMobilidade já foi usado nos carros há alguns anos. Em 2006, a Lexus inovou ao lançar o sedã LS 460 com uma câmera instalada no painel. O recurso fazia parte de um moderno pacote de segurança que incluía até sistema de frenagem de emergência.

A câmera tinha seis sensores infravermelhos complementares para funcionar durante a noite. Este sistema era capaz de fazer uma leitura da face do motorista, identificar quando a cabeça vira e os movimentos dos olhos e da boca.

Se a câmera capturasse uma distração, um alerta sonoro e visual seria emitido no painel, exatamente como nos trens. Ao se aproximar de um pedestre, obstáculo ou outro veículo, o sistema de frenagem de emergência entraria em ação.

No caso de uma colisão inevitável, os cintos de segurança dos ocupantes dianteiros eram pré-tensionados para aguentar o impacto com mais segurança. Para um carro de quase 20 anos, o LS 460 foi revolucionário por oferecer um sistema tão completo capaz de evitar ou reduzir a gravidade dos acidentes.

A câmera foi considerada uma boa ideia, mas não avançou no mundo automotivo. Hoje, os sensores de fadiga dos automóveis foram simplificados e começaram a equipar modelos mais baratos.

Eles funcionam com base no comportamento do motorista, e não no monitoramento visual. Um condutor cansado costuma ter dificuldades para manter o carro na faixa, por exemplo.

Após algumas infrações, o veículo pode sugerir que o motorista encoste em um restaurante na estrada para esticar as pernas, tomar um café ou descansar.

É irônico pensar que carros e trens compartilham exatamente o mesmo destino: a automação completa. Isso já acontece em algumas linhas do metrô de São Paulo, que transportam centenas de milhares de pessoas diariamente sem atuação humana.

No momento em que o primeiro totalmente carro autônomo for autorizado a circular pelo Brasil, imagine como serão os trens, metrôs e outros meios de transporte das grandes cidades…

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Fonte: direitonews

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