O comerciante Fábio Gonçalves da Silva, de 43 anos, ganhou uma vida nova há dois meses. Ele foi o primeiro morador do Distrito Federal a receber um transplante de rim após um tratamento de dessensibilização.
“Estou com um rim que funciona bem, sem riscos à minha saúde e, ainda, fazendo história, levando esperança a muitas pessoas com problemas semelhantes ao meu”, celebra Fábio, que recebeu o rim do irmão Leandro, de 36 anos.
A técnica de dessensibilização prepara o paciente para a realização do transplante renal ao modular a resposta imunológica do corpo dele, diminuindo as chances de rejeição ao órgão que será recebido. “É um tratamento para reduzir a quantidade de anticorpos adquiridos após transfusões de sangue ou transplantes prévios”, explica o nefrologista Luiz Roberto de Sousa Ulisses, responsável pelo caso de Fábio.
O método consiste em uma espécie de “filtragem do sangue” na qual um tipo específico de anticorpos é reduzido para que o organismo do paciente não reaja ao rim implantado, considerando-o como um corpo estranho. A técnica foi desenvolvida nos Estados Unidos em 2009 e vem se tornando mais comum após estudos científicos terem comprovado sua eficácia.
A dessensibilização é considerada uma revolução no campo dos transplantes renais por aumentar as chance de sobrevivência de pacientes ao aumentar a disponibilidade de órgãos.
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Os rins têm como função principal filtrar o sangue e eliminar substâncias tóxicas que podem afetar o bom funcionamento do organismo. Quando perde a habilidade de funcionar, o corpo passa a apresentar quadro de insuficiência renalSEBASTIAN KAULITZKI/Getty Images
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Em outras palavras, a insuficiência renal é causada pela incapacidade do rim de exercer sua principal função e, consequentemente, não conseguir impedir que grandes quantidades de resíduos e impurezas fiquem no sangue. Quando isso acontece, o organismo para de funcionar corretamente podendo evoluir a situação do paciente para óbitomartin-dmcv/Getty Images
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Levando em consideração a velocidade com que a perda da função renal acontece e que os sintomas surgem, o problema pode ser dividido em duas categorias: insuficiência renal aguda ou crônicaIka84v/Getty Images
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A insuficiência renal aguda é diagnosticada quando a redução da função dos rins acontece de maneira reversível. Já na insuficiência renal crônica, a perda da função é gradual, não tem cura e os sintomas são progressivosNes/Getty Images
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Entre as principais causas do problema, pode se destacar a falta de hidratação, lesões causadas no órgão devido a pedras na região e uso de medicamentos fortes ou em excesso. Além disso, também pode ser causada por conta de diabetes, hipertensão, sepse, presença de cistos nos rins e Síndrome hemolítico-urêmicachoicegraphx/Getty Images
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De uma maneira geral, os principais sintomas são: pouca urina, urina com espuma, cheiro forte ou com cor escura. Além disso, a pessoa doente pode apresentar dor na parte inferior das costas, inchaços irregulares nos pés e nas pernas, falta de apetite, tremor nas mãos, formigamentos nos pés, vômitos, náusea, febre alta, cãibras e cansaço frequentesboonchai wedmakawand/Getty Images
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O diagnóstico é realizado por meio de exames de sangue e de urina. Além disso, exames de ressonância magnética, ultrassom e de tomografia também podem ser indicados por um médicoPanyawat Boontanom / EyeEm/Getty Images
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Dependendo da gravidade do quadro, o tratamento pode ser realizado em casa, com uso de anti-hipertensivos e diuréticos, ou no hospital. Em casos mais graves, o transplante de rim ou a hemodiálise são indicados. De qualquer forma, em ambas as situações deve-se ter acompanhamento de especialistaMorsa Images/Getty Images
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Para prevenir o problema é necessário alimenta-se saudavelmente, não fazer uso de medicamentos sem prescrição médica, evitar o consumo de tabaco e bebida alcoólica. Além disso, é imprescindível ingerir bastante água e manter-se sempre bem hidratadoSebastian Ramirez Morales/Getty Images
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Compatibilidade
Para a realização de um transplante de rim, o primeiro ponto a ser avaliado é a compatibilidade entre os grupos sanguíneos do doador e do receptor. Em seguida, é realizado um exame chamado de prova cruzada.
A prova cruzada checa se o receptor tem algum tipo de anticorpo contra o doador. Esses anticorpos costumam existir em pessoas que já tenham sido sensibilizadas através de gestação, transfusão sanguínea ou transplante renal prévio.
No caso de Fábio e do irmão, eles existiam e foram necessários seis meses de dessensibilização com a aplicação de uma dose por mês de imunoglobulina humana. A imunoglobulina humana foi conseguida por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).
“Depois da sexta dose, fizemos provas cruzadas, em períodos diferentes e todas deram negativo. Com isso, começamos a fazer os outros exames para realizar o transplante e, graças a Deus, deu tudo certo”, relata o paciente.
O nefrologista Luiz Roberto de Sousa Ulisses explica que nem todo paciente leva o mesmo tempo para negativar a prova cruzada. Alguns podem levar mais ou menos meses, de acordo com o quadro clínico e a reação do organismo.
Qualidade de vida
O transplante é uma opção para doentes renais crônicos que precisam realizar diálises frequentes. Pacientes que passam por diálise durante muito tempo têm mais probabilidade de apresentarem doenças cardiovasculares e dores e fraturas nos ossos.
“É uma rotina muito difícil e limitante. A gente tem que fazer hemodiálise todo dia, você vai e volta fraco, passa mal, tem pressão baixa, dor de cabeça. Fora que a gente não pode viajar. Se for, tem que ser para cidades que tenham vaga em clínicas de hemodiálise e nem sempre a gente consegue”, conta Fábio.
No Brasil, estimativas da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) apontam que cerca de 10 milhões de pessoas sofrem de doença renal crônica e pelo menos 150 mil fazem diálise diariamente.
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