Todas as respostas que você precisa saber antes de blindar o seu carro


Quem aí nunca confundiu veículo blindado com carro de passeio blindado? O primeiro termo abrange todos os veículos militares, comerciais e de passageiros equipados com blindagem total ou parcial. Já o segundo refere-se especificamente aos automóveis comuns. Parece confuso? E é.

Não se sabe ao certo quantos carros blindados há no Brasil. O Exército, que controla o setor, não faz filtros de pesquisa. De um Urutu até um Corolla, qualquer um pode ser blindado. No entanto, os veículos civis devem ser entendidos — e categorizados — como carros de passeio blindados.

Uma certeza é que, neste país, o medo de assaltos mantém em alta o interesse pela proteção do carro. Porém, em razão da falta de estatísticas oficiais, a Associação Brasileira de Blindagem (Abrablin) apenas estima a frota nacional em 300 mil automóveis blindados. Segundo a associação, mais de 25 mil deles teriam passado por processos de blindagem em 2022, como você já viu em Autoesporte.

A estimativa de Marcelo Silva, presidente da Abrablin e diretor do Grupo Inbra, é de que o Brasil ainda abrigue a maior frota de carros blindados nível III-A para uso civil — o mais elevado grau de proteção permitido para automóveis. “O Brasil está no topo com a maior frota de blindados nível III-A, embora não haja um ranking oficial. Fala-se muito em frota de blindados militares por país, mas, para uso civil, não há ranking”, destaca.

Quanto ao mercado global, o Grupo Internacional de Pesquisa e Consultoria em Análise de Mercado (Imarc Group) informa que o setor de veículos blindados faturou, no ano passado, a cifra de US$ 16,9 bilhões, algo em torno de R$ 92 bilhões na conversão direta. Até 2028, a previsão é de crescimento de 5,8% — para cerca de US$ 24 bilhões, ou R$ 130 bilhões.

Os números grandiosos são um reflexo dos conflitos e guerras na África, no Oriente Médio e na Ásia Meridional — dados do Conselho de Relações Exteriores. E também dos altos índices de criminalidade em cidades como as brasileiras. 

Quem entende que precisa — e pode pagar o equivalente a um carro para se proteger —, começa com a definição do nível de blindagem. Essa escolha define quais materiais serão aplicados e cortados nas dimensões do veículo.

“Com detalhes e orçamento definidos, o cliente apresenta seus documentos pessoais e os do veículo à loja, que, por sua vez, dá entrada na solicitação de blindagem no Exército Brasileiro. Somente com a autorização em mãos os serviços podem ser iniciados”, diz Marcelo Silva, da Inbra.

Alessandro Ericsson, CEO da Carbon Blindados, ressalta que, para escolher um prestador de serviço, é preciso primeiro verificar se a empresa oferece a blindagem certificada: “Seriedade, robustez e qualificação da blindadora são pontos-chave, principalmente ante a carência de regulamentação técnica”, conta.

Outra decisão importante diz respeito ao nível de proteção esperado. Ericsson explica que os níveis I, II-A e II (II-A vem antes do II) suportam armas de menor calibre e têm autorização plena para serem produzidos e aplicados.

“Pela lei, o maior nível permitido no país é o III-A, que suporta até disparos de pistolas 9 milímetros e de revólveres 44 Magnum. Esse é o nível de blindagem mais utilizado no Brasil, uma vez que os custos são próximos aos dos níveis I e II. É economicamente desinteressante renunciar ao maior nível de proteção”, destaca.

O nível III oferece proteção superior à do III-A: é capaz de resistir a disparos de fuzil calibre 7.62, de uso restrito. Porém, sua aplicação requer autorização especial do Exército Brasileiro, mediante justificativa da necessidade.

Já o nível IV resiste até a uma metralhadora M60, também de calibre 7.62, mas de uso exclusivo das Forças Armadas e de policiais. “Quem controla, regula e fiscaliza tudo, por meio da Portaria 94, é o Exército. Isso porque tanto os materiais aplicados como o veículo blindado são considerados “PCEs” (Produto Controlado pelo Exército)”, explica Marcelo Silva.

Alessandro Ericsson, da Carbon Blindados, lembra que a blindagem é um processo artesanal de execução muito complexa. E ressalta que, para garantir proteção balística, é preciso instalar materiais adicionais no veículo, substituir os vidros e aplicar chapas de manta de aramida e aço.

Rafael Barbero, da Avallon Blindagens, explica que tudo começa com a desmontagem interna do veículo, exceto console central e painel. Depois, o carro entra na linha de produção para a instalação da manta e do aço, a blindagem opaca. Segue então para a transparente, em que são instalados os vidros blindados. “A escolha de materiais e a proporção usada dependem do projeto de cada blindadora”, diz.

Segundo Barbero, o serviço pode incluir itens mecânicos: “Na maioria dos carros, molas traseiras são reforçadas para aguentar o peso da blindagem, deixando o veículo mais próximo da suspensão original. Pneus não necessitam reforço, só calibragem no nível máximo especificado no manual. Pronto o serviço, o carro vai para o check-list final, em que são feitos testes como rodagem e infiltração, antes de finalizar”.

Marcelo Silva, da Inbra, detalha mais: “A blindagem opaca vai no teto, nas colunas e caixas de roda, atrás do banco traseiro (sedãs), na tampa do porta-malas (SUVs), nas portas, laterais, no painel corta-fogo, nos para-lamas e no acesso à cabine, exceto no assoalho. Só após instalada toda a proteção o revestimento interno é recolocado, com o máximo de originalidade possível”.

Nas partes planas e caixas de roda são aplicadas mantas de aramida (fibras leves e de alta resistência) com resinas especiais. Também conhecido como Kevlar, esse material semirrígido, de alta resistência, se ajusta aos locais a ser protegidos e — afirmam os especialistas — não perde propriedades balísticas em função do tempo ou de agentes externos como umidade.

“Nas colunas A e B, no contorno do teto, na travessa central, nas maçanetas e nos retrovisores é usado aço balístico estampado a frio, que acompanha o formato da carroceria. Compostos de camadas de vidro e plásticos com propriedades especiais substituem os originais. A tecnologia desses vidros é diretamente ligada a espessura, peso, durabilidade e resistência balística”, esclarece o presidente da Abrablin.

Existem diferentes combinações de vidros com polímeros. “Hoje, o mercado oferece vidros com espessuras de 18 mm a 23 mm, com o mesmo nível de proteção. As garantias contra delaminação (bolhas nos vidros) vão de dois a dez anos, dependendo da composição”, diz Silva.

Por essas diferenças, o consumidor deve ficar atento em relação à qualidade, ao conforto óptico, à transparência e ao design, pois há variações gritantes nesses atributos.

“Em termos de custo e disponibilidade, vidros blindados são o calcanhar de Aquiles do segmento. Normalmente, vidros de policarbonato são vendidos com cinco anos de garantia. Há produtos com até dez anos de cobertura, mas com menos qualidade óptica e transparência. É uma escolha a ser feita pelo consumidor”, destaca Ericsson.

Marcelo Silva também fala que a forte concorrência fez melhorar a qualidade do serviço: “Quando a blindagem é bem-feita, com bons materiais, as empresas conseguem o máximo de originalidade possível. Com revisões a cada 10 mil km, os custos de manutenção ficam próximos aos de um não blindado”, explica.

O consumidor deve desconfiar de preços muito baixos. A Abrablin recomenda pesquisar o histórico da empresa, a ocorrência de reclamações e sites específicos sobre blindagem. Isso porque a produção de materiais balísticos (vidros e mantas) é muito regulada, com distribuição rastreada pelo Exército.

Mas a forma de aplicação desses produtos, bem como a finalidade, não é regulamentada. “Cada blindadora desenvolve seu projeto. Há empresas sérias, com times qualificados de engenharia e produtos de alto nível. Entretanto, uma parte ainda muito grande não dispõe da infraestrutura mínima necessária. Ou seja, blindagem definitivamente não é tudo igual”, ressalta Ericsson.

Blindagem pode apresentar falhas?
A proteção balística não deve apresentar falhas se feita dentro dos limites estabelecidos pelas normas técnicas. Contudo, a qualidade de acabamento após a remontagem do carro é um ponto de atenção. Por isso, é importante escolher uma blindadora com ampla estrutura de pós-venda.

Blindagem aumenta o consumo de combustível?
“Aumenta, relativamente. É como se você, ao dirigir sozinho, estivesse com duas pessoas no veículo. Ou seja, aumenta o peso do carro e, consequentemente, o consumo. Porém, não é algo significativo”, explica Rafael Barbero.

Veículo blindado tem desempenho diferente?
A blindagem acrescenta ao carro algo entre pouco mais de 100 kg a 300 kg. E isso muda o desempenho e a dirigibilidade, dependendo do modelo e da potência do motor. Cabe à blindadora avaliar o limite máximo de peso e indicar a blindagem ideal. Não é recomendável blindar automóveis com menos de 90 cv ou com motor 1.0. O peso adicional ocasiona desgaste prematuro de componentes.

É possível desfazer uma blindagem? Vale a pena?
Segundo a Abrablin, é difícil desfazer a blindagem porque os acabamentos internos são modificados, e não vale a pena. Como o mercado de usados está aquecido, a sugestão é vender o carro.

O que fazer em caso de colisão ou ataque a tiros?
O veículo deve ser imediatamente encaminhado à blindadora para os devidos reparos. Mas, a exemplo do que acontece com qualquer carro em ocorrências atípicas, a blindadora não arca com o custo do conserto, mesmo dentro do prazo de garantia.

Vidros blindados podem ser abertos?
Apesar de ser possível, a recomendação é de que eles não sejam abertos para que os ocupantes não fiquem desprotegidos. Por segurança, as blindadoras normalmente restringem a possibilidade de abrir o vidro dianteiro para passagem em pedágios ou estacionamentos de shoppings. Os vidros traseiros ficam fixos.

Caminhões podem ser blindados?
Sim. E, segundo profissionais do setor, o acréscimo de peso tem impacto mínimo diante da grande capacidade de carga do caminhão. É um mercado em expansão devido ao número crescente de roubos de cargas no país. Soluções atendem qualquer tipo de cabine, nos mais variados níveis de blindagem.

Para que serve o título de registro?
Todo blindado deve ter esse documento. Ele comprova que o veículo está registrado no Exército. Um usado blindado é considerado regularizado somente com a posse desse título, exigido inclusive por seguradoras na contratação de seguro para o automóvel.

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Fonte: direitonews

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