Teto solar em carro conversível: a ideia bizarra que virou item de luxo


Algumas ideias da indústria automobilística parecem um tanto estrambólicas quando nascem. Mas às vezes, e geralmente passados alguns anos, elas acabam virando realidade em carros de produção.

Um desses casos é o teto solar em um carro conversível. A princípio soa um tanto inadequado e inútil. Afinal, esse equipamento serve justamente para abrir um respiro no teto do veículo, oferecendo mais vento e uma bela vista das estrelas, por exemplo. Porém, amigo, se o teto inteiro do carro já pode ser aberto, pra quê isso?

Bem, os franceses da Heuliez não se incomodaram nem um pouco com essa pergunta. Mas é preciso explicar, antes, que eles tinham uma espécie de licença poética para isso.

A Heuliez era uma fabricante de carrocerias especializada em prestar serviços para diversas montadoras, notadamente nos casos que envolviam baixos volumes. Ela foi a criadora do conceito do 206 CC, a versão conversível do hatch compacto da Peugeot, ainda que não tenha levado nenhum crédito por isso.

A empresa deu a ideia para a montadora com base em um protótipo que desenvolveu usando um 206 hatch, instalando nele uma capota rígida retrátil (que se dobrava quase que ao meio) e escamoteável eletricamente no porta-malas. O sistema, por si só, não era exatamente uma grande novidade. Mas o fato de um carro compacto e barato utilizá-lo, aí sim, era.

A Peugeot simpatizou com a ideia e resolveu fazer um teste: mostrou um protótipo no Salão de Genebra de 1998. O modelo fez tanto sucesso no evento que a marca do leão decidiu dar sinal verde para sua produção — o que foi uma enorme alegria para a Heuliez, que ganhou um contrato para produzir a capota rígida e seu sistema de acionamento, fornecidos diretamente à montadora, que manteve para si a fabricação do carro.

O lançamento oficial do 206 CC aconteceu no Salão de Paris de 2000 e o modelo rapidamente se tornou o conversível mais vendido da Europa.

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Cheia de moral, a Heuliez decidiu, então, criar experimentos sobre o próprio tema. Em 2001, mostrou o Peugeot 206 CC Ciel Blue (Céu Azul em português), cuja parte do teto rígido propriamente dito era inteiramente de vidro. Em 2002, foi ainda mais ousada com o 206 CC Sun Roof: sim, instalaram no conversível um teto solar, fabricado pela Webasto.

Em um folder de época encontrado no acervo do Museu da Imprensa Automotiva, o Miau, a Heuliez justificava: “O teto solar personaliza o carro ao mesmo tempo que cria uma atmosfera interna iluminada e harmoniosa”. E ainda atestava que “o teto solar não altera a segurança nem o funcionamento do sistema conversível”.

Seja como for, nenhuma das duas propostas passou da fase de conceito. No entanto, se não viraram realidade no Peugeot 206 CC, acabaram chegando às mãos dos consumidores por meio de outras marcas. Primeiro foi no Renault Megane CC, lançado no fim de 2003, que trazia exatamente o mesmo sistema conversível escamoteável elétrico, mas com o diferencial do teto totalmente envidraçado.

A redenção mesmo veio no Volkswagen Eos, apresentado em 2006. O modelo trazia o mesmo sistema conversível rígido escamoteável e o teto envidraçado. Só que essa parte podia ser aberta inteiramente e de forma independente — ou seja, era exatamente um teto solar. O Eos, assim, representava uma espécie de soma das ideias inicialmente lançadas pela Heuliez nos 206 CC Ciel Blue e Sun Roof.

Na época, a VW disse que o Eos era o primeiro carro do mundo com o que chamou de “teto CSC”: o primeiro C era de Coupé (quando fechado); o S, de Sliding, ou seja, deslizante, a parte do teto solar; e o último C significava Convertible, conversível.

E a Heuliez nessa história, como fica? Bem, ela já estava envolvida demais nos próprios problemas para cobrar qualquer tipo de crédito. Em 2007 a empresa tomou um “chapéu” (desculpem o trocadilho, mas foi inevitável) da Peugeot, que, ao lançar o substituto do 206 CC, o 207 CC, passou a produzir ela mesma, internamente, o sistema da capota rígida.

Isso representou um sério golpe nas finanças da empresa, que já não andavam grande coisa. Assim, nesse mesmo ano ela pediu concordata. A produção industrial foi paralisada totalmente em 2010 e a inevitável falência foi consumada em 2013.

Sobraram as memórias, e até mesmo para nós, brasileiros, já que tanto o 206 CC quanto o Megane CC e o Eos foram vendidos oficialmente no Brasil, mesmo que em baixas quantidades.

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Fonte: direitonews

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